Na DeFato: Aécio Neves faz intensas críticas às urnas eletrônicas de votação
Deputado decidirá seu futuro político (Câmara ou Senado) na próxima quinta-feira (4)
O ex-governador Aécio Neves definirá o seu futuro político na próxima quinta-feira (4/8). A princípio, tentará um novo mandato de deputado federal. Algumas pesquisas de opinião espontâneas, contudo, indicam que ele tem a preferência do eleitorado para o senado. “Eu sou, hoje, candidato a deputado federal. Mas depois de uma reunião no partido, ainda essa semana, eu vou tomar uma decisão definitiva”, adianta o parlamentar.
O ex-senador visitou a redação da DeFato e concedeu uma longa entrevista. Na oportunidade, relembrou o polêmico processo eleitoral de 2014, avaliou o encolhimento nacional do PSDB, fez duras críticas ao ex-governador paulista João Doria e contestou as urnas eletrônicas de votação.
Confira algumas colocações de Aécio Neves:
“O PSDB é o grande responsável pelo país não ter, hoje, a terceira via. Os atuais dirigentes transformaram o partido numa sublegenda a serviço dos interesses de São Paulo”
“O nosso próximo encontro está marcado. Depois das eleições, nós vamos reorganizar o PSDB”
“Durante a campanha eleitoral de 2014, ocorreram inúmeros atos criminosos por parte do PT e seus aliados”
“Aqui, em Minas Gerais, sempre ouvimos dizer que tudo em excesso é perigoso. Dizem até que remédio em excesso pode virar veneno. Marketing em excesso pode levar, como levou no caso de João Doria, a um grande artificialismo”
“Doria não deixou a candidatura a presidente, mas ao contrário do que alguns acham, ele foi retirado por seus aliados, porque ele contaminava a candidatura à reeleição de Rodrigo Garcia (atual governador de São Paulo, que foi o vice de Doria)
“Eu, muito antes de Bolsonaro se manifestar, tenho defendido que todo o sistema eleitoral passe por uma permanente evolução, por constante aprimoramento, buscando uma forma para que ele tenha maior efetividade e credibilidade perante a população”
Leia a entrevista e assista a íntegra do depoimento de Aécio Neves no programa “Sala de Visitas” da TV DeFato.
DeFato: Depois do governo Collor de Mello, o PSDB assumiu o protagonismo da política nacional junto com o PT. Essa situação prevaleceu até nas eleições de 2014, quando o senhor foi derrotado por Dilma Rousseff. A partir de então, o partido encolheu. Por que o PSDB perdeu tanta importância no cenário político nos últimos oito anos?
Aécio Neves: O PSDB, na verdade, nasceu como um partido programático. É diferente dessa multidão de partidos pragmáticos que estão inundando a cena política nacional. Nasceu como um partido que propunha o parlamentarismo como sistema de governo, com o pensamento liberal na economia e prezando a responsabilidade fiscal como um instrumento do regimento econômico, mas reconhecendo a necessidade de políticas sociais inclusivas. Esse é o arcabouço do pensamento do PSDB. Isso realmente nos fez enfrentar o PT por inúmeras eleições. Vencemos duas com o presidente Fernando Henrique e perdemos as outras, mas jamais deixamos de apresentar ao Brasil, um projeto de país, que nos incluiria de forma mais profunda no multilateralismo. Em 2014, disputamos uma eleição muito acirrada com a candidata do PT e, infelizmente, não fomos felizes. Na verdade, o PSDB não se renovou na velocidade em que deveria, de lá pra cá. Em 2018, nós vivenciamos no Brasil um ambiente da negação da política, da criminalização da política. Eu próprio fui vítima dos ataques mais torpes e vis, agora já esclarecidos e desmascarados pela Justiça, com a minha absolvição daquelas acusações absurdas. Mas aquilo afetou o PSDB e a política. O que é o Bolsonaro? Bolsonaro não é causa. Bolsonaro é a consequência da criminalização da política. Porque ele (Bolsonaro) fez uma campanha contra o status quo, contra a institucionalização política do país. Ele venceu as eleições com esse discurso e, agora, passa por dificuldades grandes, até mesmo pelo seu temperamento, pois não consegue construir um ambiente de mais tranquilidade, de maior serenidade, que pudesse dar a ele a possiblidade da continuidade do seu mandato.
DeFato: Mas esse cenário não seria favorável a um partido experiente e tradicional como o PSDB, com uma postura ideológica bastante definida, até mesmo com possiblidade de se tornar o principal partido da oposição?
Aécio Neves: Eu sempre defendi, desde a eleição de Bolsonaro, que foi a eleição da antipolítica e, não só dele, porque ele traz consigo, principalmente no Congresso Nacional e também nas Assembleias, um conjunto de atores políticos, que se elegeram quase que exclusivamente nas mídias sociais. Quanto mais ataques faziam, mais “likes” eles tinham. Mas chegaram ao Congresso (e às Assembleias) e não conseguiram construir propostas. E, nesse momento, eu concordo com o que você fala, porque em 2022 era o momento do PSDB ter se apresentado como alternativa a esses dois extremos (Lula e Bolsonaro). Eu, particularmente, lutei muito por isso. Nós tivemos, num primeiro momento, o lançamento das prévias partidárias. Eu sempre questionei o momento das prévias, porque sempre defendi que elas deveriam ocorrer no ambiente eleitoral. Porque o ambiente tem que influenciar na decisão do partido, para você não tomar uma decisão absolutamente distante da realidade eleitoral…
DeFato: Essas prévias só deixaram mais claro ainda, a confusa situação atual do PSDB. A convenção nacional do partido, que consagrou o nome do governador João Doria como candidato a presidente, foi muito tumultuada. O evento se transformou numa pancadaria da retórica política. E, pior, a confusão só acabou depois da desistência de João Doria. O senhor consegue explicar por que aquela convenção foi tão desastrada?
Aécio Neves: Pelo artificialismo daquela decisão, quem venceu as prévias foi o poder econômico de São Paulo. Nós tínhamos a candidatura do governador Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), que é quem tinha o melhor perfil para esse momento de renovação política, com um governo extremante exitoso em seu estado. Fez reformas muito difíceis de serem feitas, em um estado constantemente polarizado. O resultado final do seu governo foi extraordinário. Eduardo Leite trazia um discurso de oxigenação da política, um discurso leve, com uma nova agenda para o país. E, principalmente, tendo em seu entorno a experiência de um governo do PSDB. Ele foi impedido de ser candidato pela força de São Paulo, porque não interessava ao vice-governador Rodrigo Garcia, que Doria continuasse no governo. Por isso, eles fizeram tudo para que ele (João Doria) vencesse as prévias. Mas, tendo vencido as prévias, não bastava para o objetivo do governador de São Paulo (Rodrigo Garcia) que ele (Doria) fosse candidato, porque a sua candidatura contaminava a candidatura do governador de São Paulo (à reeleição). O nível de rejeição do então governador João Doria era imenso. Então, tiveram que tirá-lo da candidatura presidencial. O Doria não deixou a candidatura a presidente, mas ao contrário do que alguns acham, ele foi retirado por seus aliados, porque ele contaminava a candidatura do seu aliado (o governador Garcia). Mas, ao invés do PSDB buscar de novo a candidatura de Eduardo Leite, optou por uma aliança (com o MDB,) que mais uma vez interessava ao governador de São Paulo (Rodrigo Garcia). Eu disse essa semana para imprensa nacional e repito aqui, hoje, na DeFato: o PSDB é o grande responsável pelo país não ter hoje uma terceira via. Os atuais dirigentes do partido transformaram o PSDB numa sublegenda para atender aos interesses de um estado da federação (São Paulo). Mas o nosso próximo encontro está marcado. Depois dessas eleições, nós vamos reorganizar o PSDB.
DeFato: João Doria foi governador do estado economicamente mais importante do país. Ele teve uma participação fundamental na produção das vacinas nessa pandemia do novo coronavírus. Tudo indicava que disputaria a presidência da República em pé de igualdade com Bolsonaro e Lula. Na sua avaliação, por que o governador de São Paulo não decolou?
Aécio Neves: Aqui, nas Minas Gerais, sempre ouvimos dizer que tudo em excesso é perigoso. Dizem até que remédio em excesso pode virar veneno. Marketing em excesso pode levar, como levou no caso de João Doria, a um grande artificialismo em suas posições. Nós tínhamos pesquisas que avaliavam as possiblidades do governador. Ele não foi o candidato da minha preferência, porque eu antevia que ele teria dificuldades de crescer. Mas eu preferia que o PSDB tivesse um candidato, mesmo que fosse ele (João Doria). O problema é que a cada aparição dele (João Doria), ao contrário de melhorar, de atenuar ou ameniza uma imagem desgastada, só acentuava o artificialismo. Isso não sou eu, Aécio, que estou dizendo. As pesquisas qualitativas mostravam que ele não passava para as pessoas algo crível, algo real. Infelizmente, essa foi uma das principais razões para que governador do maior estado do Brasil, com os acertos de sua gestão, eu reconheço isso e acho que essa rejeição até é exagerada, mas ela existe e impediu que ele avançasse. No momento em que ele retirou a sua candidatura, para não prejudicar a candidatura do seu companheiro de São Paulo (o governador Rodrigo Garcia), ele (João Doria) deveria ter tido a grandeza de permitir, apoiar e sugerir o nome do segundo colocado nas prévias (Eduardo Leite). Quando ele desistiu, houve um impasse no partido: a direção queria apoiar o MDB e nós querendo disputar as eleições com um candidato do PSDB. Mas, com esse impasse, a força de São Paulo infelizmente prevaleceu e o país paga um preço alto.
DeFato: O senhor tentou emplacar o ex-governador Eduardo Leite como candidato do PSDB, mas não conseguiu. Agora, uma conversa de bastidores garante que o senhor negocia um cargo de vice para alguém do PSDB, na chapa de Ciro Gomes. Essa proposta tem algum fundamento?
Aécio Neves: São duas coisas. Essa questão do vice não tem nenhum fundamento, até por uma razão óbvia: o PSDB está coligado com o MDB, algo definido em convenção do partido e, na semana passada, a federação consagrou essa aliança nacional. Então, estando coligado com o MDB, a federação com o Cidadania só poderia apresentar um vice àquela chapa. O que existe, em relação ao PDT, é uma aproximação aqui em Minas. Nós estamos apresentando ao estado uma terceira via como queríamos apresentar a nível nacional, com a candidatura do ex-secretário de Saúde, Marcus Pestana. Então, o PDT de Ciro Gomes, através dos seus dirigentes, apresentou uma proposta de entendimento entre nós. E o PDT deve participar da nossa chapa e, com isso, em Minas Gerais, o PSDB estaria abrindo o seu palanque para a candidatura de Ciro Gomes e, por mais que se questione o seu temperamento, ele é um homem de bem e tem um projeto para o Brasil.
DeFato: Nas eleições de 2014, o senhor perdeu o segundo turno para Dilma Rousseff por um percentual muito pequeno. Num certo momento da apuração, até esteve na dianteira com uma diferença de seis milhões de votos. Depois do pleito, o senhor insinuou que teria havido fraude. Hoje, o presidente Jair Bolsonaro questiona a segurança das urnas eletrônicas, inclusive afirmando que as eleições de 2014 foram fraudadas. Aécio Neves concorda com esses questionamentos de Bolsonaro?
Aécio Neves: Eu até agradeço por essa sua indagação, porque essa conversa virou uma narrativa quase universal. O PT insistiu muito nela, mas ela não tem a menor conexão com a realidade. Naquelas eleições (2014), às 8h30 da noite, quando o resultado final foi anunciado pelo TSE, eu telefonei para a presidente Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada, para cumprimentá-la pelo resultado da eleição, pela sua vitória. Nas democracias avançadas essa é uma liturgia que se cumpre. É uma etapa necessária à consolidação da vitória. Eu desejei que ela tivesse condições de unir o país, depois de uma eleição tão acirrada como aquela. Quando fiz isso, eu estava consagrando, estava aceitando o resultado da eleição. O que ocorreu e acabou confundindo tudo? Durante a campanha eleitoral ocorreram inúmeros atos criminosos por parte do PT e seus aliados. Disparos de WhatsApp dos Estados Unidos de forma ilegal e criminosa, dizendo que se Aécio ganhasse a eleição iria acabar com o Bolsa Família, com o décimo terceiro salário, acabar com o Minha Casa Minha Vida e todo o tipo de ataque pessoal imaginável e inimaginável. Nós tínhamos vídeos de caminhões dos Correios, uma empresa pública, se desfazendo do nosso material de campanha, em vários lugares do Brasil. Não se falava, então, de se questionar o resultado das eleições, mas de punir criminalmente, até em defesa da própria democracia, aqueles que no governo haviam agido de forma ilegal. E não apenas isso. Ao final, recebemos notícias do Brasil inteiro falando de problemas com as urnas eletrônicas. Então, nós pedimos uma autorização ao TSE para que se pudesse ser feita, com especialistas nacionais e internacionais, uma auditoria nas urnas eletrônicas. Eu acho que isso seria em benefício das urnas eletrônicas, para que se mostrasse que elas eram efetivamente eficazes e essa sombra de que possa haver alguma manipulação se dissipasse. Foi feita essa auditoria por 12 especialistas recrutados em empresas diferentes, inclusive algumas de fora do país, e chegaram à conclusão de que as urnas eram inauditáveis. E ficou por aí. Eu sempre fui, desde quando estava no Congresso, como presidente da Câmara, um defensor intransigente da modernização do nosso sistema eleitoral. Mas eu, muito antes do Bolsonaro se manifestar, tenho defendido que todo o sistema eleitoral passe por uma permanente evolução, por constante aprimoramento, buscando uma forma para que ele tenha maior efetividade e credibilidade perante a população. Eu defendi, lá atrás e, por incrível que pareça, 80% dos deputados votaram pelo voto impresso acoplado à urna eletrônica, e isso não é algo contra a urna, mas a favor, para que se pudesse, amanhã, haver uma aferição, mesmo que seja por uma parcela desses votos…
DeFato: Mas, nesse ponto, a sua ideia coincide com os argumentos do presidente Bolsonaro…
Aécio Neves: Não. Eu acho que é mais. Eu acho que o presidente da República é que está acompanhando o nosso pensamento. Em 2015, 483 deputados votaram a favor dessa acoplagem. O STF, porém, entendeu que não usamos o mecanismo adequado para a tramitação dessa matéria. Mas o presidente Bolsonaro transformou isso numa grande disputa política e, por outro lado, o TSE considera isso como algo intocável. E essa questão (das urnas eletrônicas) foi tratada no país inteiro, inclusive pela mídia, de uma forma muito rasa. Se você for a favor do sistema, como o mundo inteiro discute, você é a favor de Bolsonaro. Se você é contra, você é contra o Bolsonaro. Mas é muito além disso. Bolsonaro vai passar, daqui a pouco não estará mais aqui. Vou te dar um exemplo: hoje, no mundo, apenas o Butão é Bangladesh têm um sistema de votação como o nosso. A Suprema Corte alemã considerou inconstitucional a urna eletrônica. Mas esse tema até é meio difícil de ser tratado porque, daqui a pouco, vou sair daqui como se fosse um bolsonarista ferrenho.
DeFato: E, por falar nisso, em algumas oportunidades, o senhor trabalhou pela aprovação de algumas pautas de interesse do presidente Jair Bolsonaro. O seu posicionamento político não está muito claro. Hoje em dia, o senhor é situação, oposição ou, tucanamente, muito antes pelo contrário?
Aécio Neves: Talvez essa última opção. Na verdade, o trabalho parlamentar não pressupõe um antagonismo permanente. Ninguém foi mais adversário de Lula do que eu, mas votei a favor do Bolsa Família, por exemplo, que é um programa de inclusão social. A reforma da previdência do governo Bolsonaro estava no programa de governo do PSDB. Será que vou votar contra o que eu acredito, só porque foi proposto por um governo do qual eu não faço parte? Na área da economia, por maiores que sejam os equívocos na condução do ministro (Paulo) Guedes, há uma maior proximidade com o pensamento liberal do que como o pensamento estatizante do PT. Então, em todos os governos, nós vamos encontrar pontos convergentes. Se você me perguntar se Bolsonaro é o governo que me representa, com o qual eu tenho sintonia maior, eu respondo que não é. Mas, eu acho que a volta do PT fará muito mal ao país. Por isso o meu esforço, o tempo todo, foi por uma terceira via. O velho Tancredo dizia que as virtudes não estão nos extremos, mas próximas ao centro, que é onde se encontra o equilíbrio.
DeFato: Aqui, em Minas Gerais, num eventual segundo turno entre o governador Romeu Zema e o ex-prefeito da capital Alexandre Kalil, qual seria o posicionamento do PSDB?
Aécio Neves: Essa semana, eu tive conversas com o governador e com pessoas muito próximas ao governador. Há um esforço deles em atrair o PSDB para a sua chapa, a nossa federação com o Cidadania. Mas nós estamos convictos de que a candidatura do deputado Marcus Pestana pode preencher um vácuo que ainda existe no horizonte de Minas Gerais. Você observa que, nesse momento, há quatro anos, ninguém poderia imaginar que o governador de Minas Gerais seria Romeu Zema. Eu acho que, no momento em que começar a campanha eleitoral, iniciar os debates, com o histórico do candidato sendo apresentado, tenho certeza de que ele (Marcus Pestana) poderá surpreender. Mas eu não vou agir como um tucano e fugir da sua pergunta. Claro que se o segundo turno se consolidar entre esses dois nomes que estão à frente nas pesquisas, há uma maior identidade nossa (de visão de estado) com o governador Zema do que com o prefeito Kalil. E não exatamente só pelo prefeito Kalil, mas porque ele traz consigo o PT. E não é possível ter uma boa lembrança do PT, que há pouco tempo governou o estado de Minas Gerais. E nós queremos aquilo de novo? Os salários dos servidores não eram pagos em dia, as Prefeituras não recebiam os repasses constitucionais e as nossas estradas se deterioravam. Minas Gerais, então, deixou de fazer parte do fórum das grandes discussões nacionais. O PSDB apoiou o governo Zema, na Assembleia, em algumas oportunidades. Até mesmo porque o governador nem tinha partido. Os dois deputados do partido dele votavam contra o governo.
DeFato: E, por falar em estradas, nas eleições para governador, em 1982, Itabira foi palco do último comício do candidato Tancredo Neves, na praça Nico Rosa. Na ocasião, o seu avô prometeu que asfaltaria a estrada Itabira/ Nova Era, caso se elegesse. Por algum motivo ele não realizou essa obra. Porém, quase três décadas depois, o senhor cumpriu essa promessa em dose dupla, porque não só asfaltou Itabira/Nova Era como também Itabira/ João Monlevade. O senhor, que gosta de fazer referências a rodovias, talvez consiga decifrar o enigma da interminável obra de duplicação da BR381, que azucrina a paciência da população itabirana e de todo o Vale do Aço….
Aécio Neves: É verdade tudo isso. Permita-me voltar no tempo para lamentar, porque no nosso programa de governo, caso tivéssemos sido eleito presidente, essa teria sido a primeira obra realizada (duplicação da BR381). A rodovia seria não só duplicada, mas, também, haveria um melhoramento em todo o trecho. E voltando um pouco mais ainda no tempo, eu estava com Tancredo nesse comício de Itabira e ele sabia da importância econômica desse asfaltamento (Itabira/Nova Era), mas meu avô ficou apenas um ano no cargo. Foi um ano de arrumação da casa e, logo depois, ele foi convidado a renunciar ao governo de Minas para disputar a presidência da República. Infelizmente, o destino não permitiu que ele desse ao Brasil um novo tempo. Mas, no governo de Minas, nós fizemos ligações asfálticas em 219 cidades, não foi só em Itabira. Não deixamos Minas Gerais com cidades sem ligações asfálticas, a não ser cinco pequenas ligações, que eram do governo federal. E o governo Lula, na época, por maior que fossem os nossos pedidos, não permitiu que o estado fizesse essas ligações (asfálticas). Nós teríamos feitos, inclusive as (pavimentações) das rodovias federais. Infelizmente, muitas dessas estradas não tiveram uma manutenção adequada. Mas eu volto a responder objetivamente a sua pergunta e afirmo que é preciso ter força política (para resolver o problema da BR381). Um governador, na hora da discussão orçamentária, com uma bancada parlamentar como a de Minas Gerais, tem que ter articulação e não permitir que esses recursos sejam aprovados no orçamento anualmente. Essas obras estruturais têm que ter o compromisso de ser realizadas em até quatro anos, mesmo que você não termine em um ano, o recurso já fica garantido na previsão orçamentária dos anos seguintes. E aqui está uma crítica, não pessoal, mas política, ao governador Zema: ele não compreendeu ainda que alguns cargos públicos têm uma dimensão maior do que pagar as contas do estado. O governador de Minas tem que estar negociando coisas como essa (a obra da BR381).
DeFato: Diversas pesquisas de opinião espontâneas apontam a preferência do seu nome para a disputa para o senado. Afinal, o senhor tentará a reeleição para deputado ou disputará o cargo de senador?
Aécio Neves: Em primeiro lugar, eu tenho que entender que essa manifestação dos mineiros, mesmo eu não tendo colocado a minha candidatura (ao Senado), me orgulha. Eu acho que (a manifestação do eleitorado) é certo resgate, certo reconhecimento da população mineira pelo que fizemos ao longo dos nossos governos. É o reconhecimento de uma trajetória que não é pequena, pois são 36 anos consecutivos de mandatos eletivos. Eu sou, hoje, candidato a deputado federal. Mas eu vou avaliar, nessa semana, durante uma reunião que o partido vai fazer na quinta-feira (4/8), e tomar uma decisão definitiva.