Na tribuna da Câmara, Rose Félix comenta gafe da Prefeitura de Itabira: “Negaram a representatividade da mulher”

A vereadora foi ignorada no lançamento de um programa municipal criado a partir de um projeto de sua autoria. A gafe foi cometida pelas secretárias Clarissa Lages, Laura Souza e Nélia Cunha

Na tribuna da Câmara, Rose Félix comenta gafe da Prefeitura de Itabira: “Negaram a representatividade da mulher”
A vereadora Rose Félix. Foto: Gustavo Linhares/DeFato
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No dia 13 de abril, na Escola Municipal Marina Bragança de Mendonça, bairro Santa Marta, a Prefeitura de Itabira deu início ao Programa de Dignidade Menstrual — que prevê a entrega gratuita de absorventes à adolescentes de baixa renda entre 13 e 17 anos. A solenidade foi conduzida por secretárias municipais: Clarissa Santos Lages (Saúde), Laura Souza (Educação) e Nélia Aparecida Jerônimo Cunha (Assistência Social). Na ocasião, as três ignoraram a presença da vereadora Rosilene Félix Guimarães (MDB), autora do projeto de lei que deu origem ao programa da Prefeitura de Itabira. A situação embaraçosa foi comentada pela parlamentar durante o uso da tribuna do Legislativo, na reunião da Câmara da última terça-feira (18).

“Eu fui simplesmente ignorada pelas três secretárias e pela cerimonialista que dirigiram o evento. Naquela ocasião, elas subiram naquele palco para falar sobre direito da mulher, sobre igualdade de gênero, saúde da mulher, falaram da importância da mulher em ocupar os espaços e de certa forma até incentivaram aquelas alunas a buscarem esses direitos, a ocuparem os seus seus espaços, fizeram discursos ali tão fortes quanto os discursos das maiores feministas do País. No entanto, nas atitudes, simplesmente negaram a representatividade da primeira mulher preta eleita na história de Itabira”, disparou Rose Félix.

“Negaram a representatividade da mulher que estava ali e poderia inspirar a história daquelas alunas que tem a origem parecida com a minha. Fizeram com que aquelas meninas que souberam dessa história possam ter mais medo ainda de ingressar na vida pública; porque as mulheres não participam muitas vezes da política por temerem a selvageria que às vezes a gente encontra por aí”, completou a vereadora.

Por ser autora do projeto que originou o lançamento do Programa de Dignidade Menstrual, Rose Félix foi à cerimônia a convite de Danilo Alvarenga, secretário de Governo. Porém, durante a solenidade, a vereadora foi ignorada nos discursos das secretárias, assim como foi esquecida pelo cerimonial — mesmo ela sendo a única representante da Câmara no local. A emedebista também não foi convidada para se pronunciar durante o evento.

Em seu discurso na Câmara, Rose Félix não poupou críticas à gestão Marco Antônio Lage. “Se apoderar, se apropriar de projetos alheio é algo que também tem sido a marca desse governo. Aconteceu comigo, mas acontece até com os vereadores da Casa, que muitas vezes são desprestigiados nas suas conquistas quando o governo Marco Antônio [Lage] deixa de citá-los, deixa de mencioná-los, deixa de atribuir a eles as conquistas que eles têm. Essa é a marca desse governo”, ressaltou.

“Nós esperamos mais respeito e nós esperamos que a população entenda que quando a gente pede respeito, não é respeito à Rose Pessoa simplesmente. É o respeito ao nosso mandato e à democracia que nós estamos aqui para representá-la e, principalmente, para resguardá-la”, finalizou.

Vereadores prestam solidariedade

Após as falas na tribuna do Legislativo, Rose Félix recebeu manifestações de solidariedade de alguns de seus colegas. O seu correligionário, Luciano Gonçalves dos Reis “Sobrinho” (MDB), classificou a atitude das secretárias municipais como “papelão” e afirmou que os demais parlamentares não concordam com o que aconteceu. “Rose, quero te dizer que esta Casa é solidária à senhora. Nenhum vereador concorda, eu tenho certeza absoluta disso, com o papelão que eles [Prefeitura] fizeram com a senhora, uma vereadora legitimamente aprovada na urna e representante aqui nesta Casa”, disse.

Também do MDB, Neidson Dias Freitas argumentou que “a vereadora Rose se destacou por se posicionar, por ser uma mulher que representa bandeiras importantes nesta Casa e que conseguiu brilhar muito mais do que as meras promessas do governo [Marco Antônio Lage]”.

“Parabéns pela sua sabedoria de participar, de levar a sua mensagem, de defender seu projeto e pela sua inteligência emocional de se posicionar aqui também com esse belo discurso. Que sirva de exemplo para os demais colegas, pois a gente sempre precisa fazer valer o nosso espaço e é o que a vereadora Rose hoje muito bem fez aqui, colocando palavras de reflexão aqui nessa tribuna hoje”, ponderou.

Já Sidney Marques Vitalino Guimarães “do Salão” (PTB) apresentou um requerimento verbal para uma nota de repúdio para as secretárias Clarissa Santos Lages, Laura Souza e Nélia Cunha — o parlamentar pretende, inclusive, tentar levar esse requerimento para votação na próxima terça-feira (25). “A sua firmeza, o seu brilho faz a diferença na nossa cidade e você faz a diferença aqui dentro desta Casa — você sabe muito bem disso, sabe do nosso carinho por você. Então não deixe isso te ofuscar, tirar o seu brilho, porque nós estamos aqui pra defender a população itabirana. Nós não somos cargo comissionado e nem comandado de ninguém. Nós estamos aqui fiscalizando, fazendo o nosso trabalho”, declarou.

O presidente da Câmara, Heraldo Noronha, foi mais um a manifestar solidariedade sobre o ocorrido. “Eles lançando o seu projeto seu e simplesmente querem pegar carona no projeto e ainda te deixar de lado. Além disso, com a falta de respeito a gente vê a falta de conjuntura, a falta do prefeito ali e a [falta] de união entre os próprios secretários, já que [foi] o secretário de Governo[Danilo Alvarenga] que te convidou. Aí vem três secretárias nomeadas faltam com respeito com esta Casa, não é com senhora, é com esta Casa e com aquelas pessoas que te puseram como representante. Elas desrespeitaram não só a senhora, mas o Legislativo”, avaliou.

Até mesmo o governista Weverton Leandro Santos Andrade “Vetão” (PSB), que tem sido um defensor do governo Marco Antônio Lage, prestou solidariedade à vereadora — mas tentou contemporizar a situação. “Sou totalmente contrário ao que ocorreu, totalmente contrário. A senhora tem uma luta de vida e política fora do comum. Nós temos que respeitar não somente por ser mulher, mas pela liderança que você é”, ressaltou.

“E diante dessa situação eu tive a oportunidade de questionar o prefeito também o que que realmente teria acontecido. E posso dizer, vereadora, com toda sinceridade, não foi a pedido do prefeito [que ela foi ignorada]. (…) Danilo, secretário de Governo, a convidou porque era a orientação do governo”, completou.

Outro lado

O portal DeFato Online entrou em contato com a Prefeitura de Itabira, por meio da sua assessoria de comunicação, que informou que não se manifestará sobre o ocorrido.

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