Não deixemos Itabira virar deserto

As piores notícias começaram a chegar: restaurantes fechados, ruas vazias, vamos combater o “Bolsão de Pobreza” e a síndrome cidade-acampamento

Não deixemos Itabira virar deserto
Foto: José Sana
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Bem-aventurados os que enxergam além do nariz porque já era tempo de acontecer essa evolução retardada. Na Bíblia há algo escrito, embora não possa dizer agora em que versículo foi anunciada também a frase embutida e assim explícita: “Vossos filhos profetizarão”. Ainda na Bíblia Cristã há algo assim: “Aparecerão os falsos visionários”. Tenho certeza de que eu não me aventuro neste campo.

Itabira prepara-se para ser um fantasma sem luzes e tremendamente triste. Vários setores já ligaram o alarme, inclusive aquele que vai causar a grande depressão, só comparável à de 1929, em Nova York, embora uma grande maioria tenda a acreditar em milagres.

Opto pela sorte sempre e sou seguidor do ensinamento do saudoso Nelson Rodrigues: “Sem sorte Napoleão Bonaparte seria atropelado por uma carrocinha de pipocas”.

O deserto itabirano terá uma extensão mais acanhada que o do Saara, ou da Síria, Antártida, quase todos, mas pode dar exemplos de depressão aguda mais contundentes. É bom, então, seguir o conselho de Gabriel, o sonhador: “Vamos aproveitar bem porque deste mundo nada se leva”.

Tomei o cuidado de vigiar Itabira neste fim de ano. Mais que vigiei, tocaiei, fiz fotos e muitas observações. A primeira das anotações resumiu-se em analisar o aspecto do futuro. Debrucei-me na questão turística, simplificada, acompanhando o caso Bochum, cidade alemã que deixou a mineração de carvão e reconstruiu-se como museu histórico. Deu certo.

Itabira tem essa opção escancarada, que até os cegos veem. Trata-se do projeto de Rafael Cléver Gomes Duarte que, de tão perfeito, imaginei que os alemães copiaram dele. Falo sério. Se não for essa a nova construção de Itabira, podem desistir. Drummond não consegue sustentar tão pesada carga.

O turismo não consegue carregar sozinho uma atração turística, embora rara e preciosa. Seria a lógica porque turismo só decola com fatores agregados. Até quem hoje defende o poeta sabe que milagre ele não faz. No viés cultural, outros personagens poderiam ser lembradas, como João Camilo de Oliveira Torres, Luís Camillo de Oliveira Neto, Cornélio Penna, além de personagens a serem levantados.

Com absoluta certeza, Itabira não está preparada para disputar com outras cidades o espaço turístico. Os donos dos botecos não têm culpa alguma, mas neste fim de ano, logo após fechar-se a última loja, as portas do Natal fizeram erguer também as tabuletas “open” nas portas de restaurantes. Itabira ficou sem oferecer a opção “comer fora” na vida das donas de casa.

Por enquanto são dois fatores que trarão dificuldades para Itabira acostumar-se em ser deserto. Quem diria: o Cauê vendido a preço de um saquinho de jabuticaba, agora, que virou cava, mostra o quão idiota foram seus ex-donos, nós, que não aprendemos a gerir o pedaço que nos coube, de acordo com Drummond.

Vamos conter o “Bolsão de Pobreza” previsto pela própria mineradora ao lançar o seu primeiro estatuto, e transformar Itabira de cidade-acampamento em terra do bem-viver. Passou da hora de agirmos, pamonhas! Não entreguemos a rapadura!

José Sana é jornalista, historiador, professor de Letras e ex-vereador em Itabira por dois mandatos, onde reside desde 1966

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