“Não maltrate quem cuida de você”: campanha chama atenção para violência contra profissionais da Saúde
De acordo com a Prefeitura de Itabira, número de registro de agressões a servidores da Saúde cresce consideravelmente em Itabira
“(…) esse assédio moral constante que sofremos dos pacientes tem que acabar! Está insuportável trabalhar assim”. O trecho é parte de um dos vários depoimentos que chegam diariamente à Ouvidoria da Secretaria Municipal de Saúde — e, também, às chefias imediatas, em Itabira.
Com o aumento do fluxo de atendimento nas unidades, cresce também o número de casos de violência contra os profissionais e de atentados contra o patrimônio público. Situações que tornam ainda mais complicada a jornada desses servidores que já há quase dois anos se desdobram para salvar vidas em meio à pandemia.
Diante deste cenário, a Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com a Coordenadoria de Comunicação Social da Prefeitura de Itabira, lança a campanha “Não maltrate quem cuida de você”. A intenção é chamar atenção para este cenário crescente e despertar entre os usuários do sistema público de saúde a empatia pelos profissionais da área.
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A pandemia da Covid-19 já matou mais de 600 mil pessoas no Brasil e é um risco ainda maior para os trabalhadores da Saúde que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Diariamente, são vários os pedidos de afastamento de profissionais adoentados. O sistema de saúde teve que se reinventar em estrutura física e pessoal para atender a demanda da população.
“Hoje uma mãe veio à minha sala e questionou minha conduta, disse que o filho piorou à noite e ameaçou. Ela falou que me mataria e que as pessoas de sua família são perigosas. Faltou me bater. Estou com medo e preocupada com o que essa pessoa pode fazer comigo. Por minha segurança e da minha família, peço transferência do meu local de trabalho”, relata uma médica — cuja identidade foi preservada —, apavorada com a situação.
“O profissional que sofre violência, seja física ou psíquica, muitas vezes adoece, fica desestimulado no trabalho, solicita transferência ou até mesmo demissão, e aí a unidade fica descoberta”, lamenta a superintendente de Ações em Saúde, Alice Teixeira Pontes, que ainda completa: “Esses profissionais estão diariamente com a mesma população, participam da vida da comunidade, conhecem e são conhecidos. Perante o assédio e a violência, as pessoas se calam, pois ficam acuadas”.
Violência sob todos os aspectos
A depredação ao patrimônio é outro tipo de violência que afeta diretamente o funcionamento da saúde pública. Somente no último semestre do ano passado, conforme dados da Prefeitura de Itabira, foram registradas quatro invasões em unidades básicas de saúde (UBS’s) no Município — nos bairros João XXIII/Machado, Jardim das Oliveiras e Centro/Vila Santa Rosa. Em janeiro, um Boletim de Ocorrência (BO) foi registrado no posto de saúde da família (PSF) do bairro Gabiroba. Casos de vandalismo e furto são apontados pelos profissionais.
“Perante as depredações, vandalismos e furtos de patrimônio, a população perde em assistência. A unidade geralmente precisa suspender suas atividades para reorganização, o trabalho é prestado sem os instrumentos necessários, o ambiente fica deteriorado”, enumera a superintendente Alice Teixeira.
Já a secretária municipal de Saúde, Luciana Sampaio, cita outro empecilho na vida dos profissionais, que são as notícias falsas, “um verdadeiro obstáculo no combate ao coronavírus, que atrapalham o sistema de saúde e confundem ainda mais os usuários”.
“A pandemia nos mostrou a essencialidade da saúde em nossas vidas e, paradoxalmente, revelou o quanto os profissionais de saúde não são considerados e respeitados nesse processo. Esses profissionais estão em estado de exaustão e sofrimento, estão adoecendo e cansados e os ataques só pioram o quadro”, lamenta Luciana Sampaio.
Assassinato no Pronto-Socorro
Outro exemplo de insegurança em unidades de saúde foi presenciado em janeiro deste ano, quando homens armados invadiram o Pronto-Socorro Municipal de Itabira (PSMI) e executaram a tiros dois desafetos que recebiam atendimento médico. Os homicídios aconteceram diante das pessoas que estavam na recepção do centro de urgência e emergência, assim como no interior do prédio, onde os profissionais da Saúde cuidavam de uma das pessoas assassinadas.
Ações de proteção
Além da campanha de conscientização, a Secretaria Municipal de Saúde tem adotado outras ações para aumentar a sensação de segurança dos profissionais. Foram providenciadas transferências de servidores que alegaram não se sentir mais em condições em determinadas unidades e intensificada a vigilância em postos com maior fluxo de pacientes, como nas UBSs do Jardim das Oliveiras, João XXIII/Machado e Gabiroba de Cima.
A Prefeitura de Itabira ressalta que também está atenta à segurança e bem-estar de todos os servidores e sempre que necessário recorrerá às polícias Civil e Militar para os procedimentos cabíveis. O município conta com o apoio da população para que crimes desta natureza não sejam recorrentes.