Não mudamos ninguém
Não mudamos ninguém, mudamos apenas a nós mesmos e a nossa mudança é um convite para o outro mudar
Ah, como viveríamos melhor se essa afirmativa fosse o ponto de partida dos nossos relacionamentos! Sou casada, mãe de três filhos, lidero pessoas há algum tempo e confesso que demorou para eu aprender essa simples, mas poderosa lição: não mudamos ninguém. Não temos nenhum poder ou controle sobre o outro. O problema é que no nosso dia a dia esquecemos disso e nos desgastamos muito ao empreender esforços para mudar àqueles que estão à nossa volta. E o pior, depositamos uma expectativa irreal de que nossa vida será melhor quando o outro, finalmente, mudar! A receita perfeita para o estresse e a frustração.
Há quase dez anos fui confrontada com essa realidade quando me vi decepcionada ao exercer uma maternidade muito aquém da que eu havia idealizado. Eu já era uma estudiosa do comportamento e da infância, porém os meus diplomas não haviam me preparado para o desafio prático de ser mãe e lidar com um ser humano complexo, no ápice dos seus “maravilhosos 2 anos”. Sob o estresse da rotina eu me via reproduzindo padrões que eu jurava que não fariam parte do meu maternar. Foi esse cenário de “luto” — pela distância entre a mãe ideal e a mãe real — que me levou a mergulhar na área da parentalidade.
Definitivamente, vi que eu precisava aprender novas ferramentas para quebrar os ciclos de violência e educar com mais empatia, conexão e respeito. Mas como abrir mão das bagagens do autoritarismo, das ameaças, castigos e barganhas? Definitivamente, esse não é um processo simples, afinal vivemos em uma sociedade que normaliza tudo isso, especialmente com as crianças. Ao longo dessa jornada, em busca de uma maternidade mais consciente, o primeiro desafio foi me desvencilhar das armadilhas vendidas por aí, que prometem transformar as crianças com métodos quase mágicos. São ofertas tentadoras, com promessas de resultados a curto prazo — uma grande balela!
Precisei reconhecer que a transformação que eu gostaria de ver no meu lar era minha responsabilidade e que para isso era necessário um trabalho duro. Para ter filhos educados e respeitosos, tive que encarar a necessidade de mudar a mim mesma, de me tornar modelo das habilidades de vida que gostaria de ver neles. E isso leva tempo e não há garantias do resultado final, requer coragem e disposição! Ainda estou aprendendo e a boa notícia é que não tem linha de chegada. Todos os dias são convites para a mudança, para o aperfeiçoar da conexão que estabelecemos com àqueles que estão à nossa volta.
Ter êxito na relação com os filhos, ou com qualquer outra pessoa, passa pela consciência de que é muito mais sobre o que somos e fazemos, do que sobre o que falamos. É sobre ser referência e inspirar pelas nossas atitudes. É ter ousadia e assumir as nossas vulnerabilidades. Não precisamos ser perfeitos, mas coerentes ao assumir os nossos erros e consertá-los. Afinal, quando falhamos e assumimos a nossa parte na equação dos problemas que enfrentamos, também ensinamos lições preciosas.
Hoje dou início à essa coluna trazendo essa breve reflexão. Para viver com mais leveza e alegria, desfrutando dos seus relacionamentos, experimente parar de tentar mudar as pessoas e reconheça que a mudança que você deseja começa em você. Aqui falaremos sobre relacionamentos, família, infância, e outros temas que nos desafiam, mas sempre com a perspectiva da autorresponsabilidade. Chega de esperar que os outros mudem e comece a inspirar as pessoas através da sua mudança. Espero que esse texto e os outros que virão sejam ótimos convites para a nossa transformação! Vamos juntos?