Negociadores de Lula no Congresso irritam desde o próprio PT até o “centrão”
A insatisfação dos parlamentares não é ignorada por Lula, que também se mostra descontente com a situação
Após dois revezes em três dias, a base do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mostra insatisfeita e até mesmo irritada com a articulação dos líderes das bancadas de apoio dentro do Congresso. Só na semana passada, o Executivo passou por duas derrotas ao não conseguir votar o projeto de lei (PL) das Fake News por falta de apoio e ainda viu alterados decretos do presidente que modificaram o Marco do Saneamento.
A base aliada tem a impressão de que o Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Casa, não estão conseguindo fazer o convencimento de todos os aliados quanto às propostas do Palácio do Planalto. A insatisfação dos parlamentares não é ignorada por Lula, que também se mostra descontente com a situação, mas tem se controlado e mantido suas indicações nos postos.
Porém, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tem dado alguns recados a Lula, inclusive reclamando publicamente da desatenção do governo com a Casa, como na votação da PL das Fake News, quando o Lira alertou que não havia votos suficientes para passar a proposta.
Além disso, a própria Câmara aprovou um projeto que suspendia parte dos decretos presidenciais que alteravam as regras do saneamento, já editados desde abril.
Falta de articulação
Lira alertou Lula sobre a falta de interlocução entre os poderes, que tem desagradado tanto a base aliada quanto os membros do chamado “centrão”.
Para os aliados de Lula, os articuladores têm tratado o “centrão” a “pão de ló”, deixando os deputados mais fiéis em plano secundário. Já o “centrão” reclama que Padilha não dialoga com o baixo clero, ou parlamentares de menor destaque na Câmara.
Há também reclamações de que Padilha dá um “chá de cadeira” naqueles que o procuram em seu gabinete, no Palácio do Planalto.
Há outros entraves na relação entre os parlamentares em relação a políticas regionais, como é o caso de uma disputa política entre Lira e Padilha, já que o deputado Elmar Nascimento (União-Ba), fortíssimo aliado de Lira, teria as portas fechadas na Casa Civil, comandada por Rui Costa, seu adversário político.
Na quinta-feira (4), Lula praticamente deu um sinal a Padilha sobre essas dificuldades quando disse: “Quero reconhecer o trabalho extraordinário de Alexandre Padilha. Eu espero que ele tenha a capacidade de organização e de articulação que ele teve no conselho, dentro do Congresso Nacional. Aí vai facilitar a minha vida”.
Lula reforça que tem plena confiança em Padilha e que o ministro tem um cheque em branco em seu nome para negociar com os deputados. No entanto, defensores do ministro apontam que como o governo não conseguiu formar maioria e se tornou “dependente” do “centrão”, ele se encontra em um momento delicado e com poder de barganha reduzido.