Nem sempre subimos a montanha

Leia o novo texto do nosso colunista Arthur Kelles

Nem sempre subimos a montanha

Temos uma ideia, criamos um plano e traçamos metas. Nada mais natural que torcer para o que queremos tanto dê certo, de preferência na primeira tentativa. Sem perceber, esperamos que este processo se dará tranquilamente, e se ocorrer um desafio, o superaremos de maneira fácil.

Nesses momentos, podemos nos sentir já “prontos” para enfrentar a situação, totalmente preparados, até que a primeira dificuldade apareça. Isso pode ocorrer quando iniciamos um processo de atendimento psicológico, um tratamento médico, como hemodiálise e quimioterapia ou quando passamos por uma cirurgia que terá uma longa recuperação. Pode acontecer também quando mudamos de emprego, ou quando abrimos um novo negócio.

Podemos até pensar que ao vermos alguém com um negócio bem sucedido, pensemos que com o deles sempre deu tudo certo, mas não é bem assim. Uma coisa é o que as pessoas exibem, seja em conversas ou em redes sociais, outra coisa são as dificuldades que elas passam sem mostrar a ninguém.

A esperança de que nossa empreitada seja bem-sucedida é essencial, é claro que temos que fazer de tudo para que cheguemos ao final que pretendemos. O problema é quando essa expectativa se torna demais, como se tudo fosse ocorrer sem problemas.

Se faço quimioterapia, é normal que um dia me sinta enjoado ou cansado. Se inicio um relacionamento, eventualmente algum conflito ou briga vai acontecer. Em um novo negócio, problemas financeiros ou de gestão inevitavelmente chegarão. Imprevistos estão sempre por aí, podemos nos planejar para evitá-los, mas não sua totalidade. Entender que os problemas sempre ocorrerão em algum nível muda a forma que os encaramos quando aparecerem.

Não nos sentiremos tão decepcionados, desanimados e não pensaremos em desistir, pois sabemos que eles fazem parte do processo. Nem sempre subimos a montanha. Às vezes paramos, descemos um pouco, reavaliamos, para então voltarmos a subir. É um trabalho difícil, muitas vezes cansativo, mas os obstáculos não devem impedir que prossigamos. São pontos de reflexão: é um momento de ajustar algum aspecto? Há algo que posso aprender aqui?

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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