Nem todo mundo comemora: fogos de artifício podem causar sofrimento a pessoas autistas
Prática recorrente em comemorações como o próximo feriado pode provocar crises na maioria das pessoas dentro do espectro
O feriado de Nossa Senhora Aparecida se aproxima e é um costume itabirano soltar fogos de artifício. No entanto, nem todo mundo entende a prática como uma comemoração. No caso de algumas pessoas autistas, o barulho causado pelo artefato pode ser um grande desconforto.
Os fogos de artifício com estampido são artigos explosivos que propagam um som muito alto. A advogada Amanda Santos faz parte da diretoria da Associação de Mães, Pais e Amigos de Autistas de Itabira – MG e afirma que seu uso é um problema coletivo: “Tem pessoas que ficam tão nervosas que chegam a praticar automutilação. Então, quando as pessoas pensarem em soltar fogos e rojões nessas festividades, a gente pede que elas reflitam para não causarem sofrimento”.
Amanda também é mãe de dois filhos autistas e conta que seu filho Benjamin tem uma espécie de taquicardia quando escuta fogos de artifício: “Fica todo trêmulo, já chegou a ficar bambo. Ele grita, chora, abraça a gente… Por mais que a gente tente mostrar pra ele que os rojões não vão atingi-lo, pra ele, a maneira como ele vê o mundo é diferente”.
Isso acontece porque a maioria das pessoas que estão dentro do espectro autista apresentam uma hipersensibilidade pela alteração no processamento sensorial auditivo. A psicóloga France Jane Elias Leandro explica que essa alta capacidade em captar estímulos sensoriais – como cores, sons, texturas, luzes e cheiros – é o que leva a gritos, choros e agressividade.
Em Itabira, já existe uma lei que proíbe o uso desses fogos de artifício com estampido no município. O decreto 2.221/2022 prevê uma multa de R$ 384,29 para as pessoas que soltarem artefatos com efeitos sonoros. No entanto, a norma ainda não trouxe a mudança cultural necessária a essa população mais vulnerável.
“Essa lei não está sendo cumprida. Na maioria das festividades tem fogos ainda. A penalidade dela, primeiramente, é uma advertência e apreensão desse material, depois uma multa, apreensão do material e perdimento deste, depois é uma aplicação de multa, apreensão do material irregular e requerimento de instauração de inquérito policial com base no artigo nº 330 do código penal”, explica a advogada.
Assim, muitas famílias precisam se preparar para lidarem com o problema, que ainda não foi resolvido. Nesse caso, a psicóloga Jane recomenda que as famílias preparem seus entes que sofrem com essa hipersensiblidade. Além disso, cita algumas dicas para os momentos de desconforto como ficar em silêncio, apagar as luzes e falar baixo. Também é possível usar travesseiros, almofadas ou oferecer um abraço aconchegante.