“Nenhuma cidade em Minas está tão próxima da exaustão mineral quanto Itabira”, afirma analista do Sebrae

Anderson Cabido esteve na Câmara de Itabira para apresentar o projeto de reconversão produtiva do município

“Nenhuma cidade em Minas está tão próxima da exaustão mineral quanto Itabira”, afirma analista do Sebrae
Anderson Cabido em discurso na Câmara de Vereadores de Itabira – Foto: Gustavo Linhares/DeFato
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Na última terça-feira (26), o analista técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae-MG), Anderson Cabido, esteve na reunião da Câmara Municipal de Itabira para apresentar o Projeto Estadual de Reconversão Produtiva em Territórios Minerados, que busca soluções para a diversificação econômica do município.

De acordo com Anderson Cabido, que já foi prefeito de Congonhas, cidade que também já foi mineradora, existem exemplos de que a falta planejamento para o futuro das regiões mineradoras pode acarretar em sérios problemas. Por isso é fundamental iniciar o quanto antes o trabalho de mudança da matriz econômica.

“Vários territórios mundo afora já passaram por momentos críticos quando viram exaurir a sua principal fonte de riqueza mineral. O mundo nos ensinou que é preciso pensar com muita antecedência a exaustão mineração. Itabira talvez seja o melhor dos nossos exemplos de que o minério demora a acabar, mas não é o minério que vai acabar, como aconteceu na Europa, o carvão não acabou na Europa, ele ficou inviável de ser produzido lá e muitos países entraram em grave crise econômica por isso. Regiões no Norte da França vivenciaram isso nos anos 1990”, conta Anderson Cabido.

O analista do Sebrae, ainda, destaca que esse processo de diversificação das atividades produtivas e de serviços demandam bastante tempo — o que acende um alerta para que Itabira comece a buscar soluções para a sua dependência da mineração.

“O grande problema é que você não muda a matriz econômica de um território com cinco ou dez anos. Isso leva tempo, décadas para que você tenha uma mudança que seja capaz de absorver os impactos que um processo como esse pode gerar na cidade. Itabira é o município que está à frente dessa discussão em Minas Gerais e, certamente, no Brasil. Nenhuma cidade em Minas tenha um cenário de exaustão mineral tão estreito como Itabira”, avalia Anderson Cabido.

"Nenhuma cidade em Minas está tão próxima da exaustão mineral quanto Itabira", afirma analista do Sebrae
Apresentação sobre reconversão produtiva de Itabira no Legislativo – Foto: Gustavo Linhares/DeFato

Busca por soluções

Em 2019, o Governo de Minas Gerais criou o Projeto Estadual de Reconversão Produtiva em Territórios Minerados com o objetivo de auxiliar nos trabalhos para “reduzir a dependência econômica da atividade minerária em municípios e territórios mineiros, por meio de iniciativas que melhorarão o ambiente de negócios em cinco dimensões: capital empreendedor, tecido empresarial, governança para o desenvolvimento, organização produtiva e inserção competitiva”.

Dessa forma, foi realizado um estudo para identificar as cidades no estado que têm grande dependência da mineração no aspecto da arrecadação tributária, massa salarial e número de postos de trabalho. Nessa pesquisa, 15 municípios aparecem com excessiva dependência.

Porém, Brumadinho e Mariana foram retirados da lista devido às peculiaridades que envolvem as tragédias socioambientais pelas quais passaram e que envolvem trabalhos específicos. Enquanto Nova Lima e Itatiaiuçu já participam de um projeto específico para diversificação. Dessa forma, as 11 cidades restantes participam da iniciativa: Itabira, Belo Vale, Catas Altas, Conceição do Mato Dentro, Congonhas, Itabirito, Paracatu, Riacho dos Machados, Rio Piracicaba, São Gonçalo do Rio Abaixo e Tapira.

A iniciativa começou a ser desenvolvida em território itabirano em 2020, mas encontrou dificuldades devido à pandemia de Covid-19, que dificultou as ações. Agora, com o abrandamento da crise sanitária, o projeto começa a engrenar.

Além do governo de Minas, o Projeto Estadual de Reconversão Produtiva em Territórios Minerados conta com o apoio da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig), Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Sebrae-MG, Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede).

Seminário

Para dar prosseguimento às ações, nos dias 27 e 28 de julho será realizado um seminário para discutir a reconversão produtiva de Itabira.

A programação no dia 27 contará com a apresentação do projeto de reconversão, em processo de construção. Após a apresentação os participantes serão divididos em salas temáticas para a discussão dos temas propostos. As rodas de conversa serão conduzidas por especialistas. Podem participar do seminário interessados do setor público e privado, sociedade civil organizada de Itabira e região.

Os temas discutidos são:

  • Casos mundiais de reconversão produtiva;
  • A importância da governança para reconversão produtiva no território;
  • Divórcio ou viuvez: como enfrentar os desafios sociais do fechamento de minas em territórios minerados?
  • Aproveitamento sustentável de resíduos da mineração;
  • Doce fel da minero-dependência nas cidades mineiras: Brumadinho e Itabira, em perspectiva.

O encontro será na Fide, rua Sizenando de Barros, 27, Centro. As inscrições devem ser feitas aqui.

Já no dia 28, acontece um workshop para promover conversas sobre o projeto “Agenda Estratégica de Itabira”. Essa conversa será entre especialistas e a equipe que está elaborando o projeto, para troca de experiências, informações e análise da agenda elaborada para o munícipio.

"Nenhuma cidade em Minas está tão próxima da exaustão mineral quanto Itabira", afirma analista do Sebrae
Foto: Reprodução