Nova espécie de aracnídeo é descoberta em Minas Gerais
A descoberta é resultado das rotinas de monitoramento ambiental conduzidas pela equipe técnica que atua na Reserva da Mata Escura
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Uma nova espécie de opilião, um tipo de aracnídeo, foi descoberta na Reserva Biológica da Mata Escura, localizada nos municípios de Jequitinhonha e Almenara, em Minas Gerais. Denominada Cajango ednardoi a espécie apresenta características morfológicas distintas que a diferenciam de outras do mesmo gênero. Além disso, é a primeira vez que é registrada a ocorrência desse gênero no estado de Minas Gerais.
A descoberta é resultado das rotinas de monitoramento ambiental conduzidas pela equipe técnica que atua na Reserva da Mata Escura, sob a gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Essas ações integram o acordo entre a Vale e o ICMBio, no âmbito da Meta Florestal. Além do monitoramento da fauna, são promovidas iniciativas de ciência cidadã que reforçam a conexão entre a sociedade, pesquisadores e a preservação ambiental.
Durante uma dessas rotinas de monitoramento, em abril de 2023, o monitor Ednardo Martins e o brigadista Jorge Pereira encontraram a espécie e compartilharam o registro fotográfico do animal em um aplicativo de ciência cidadã, o iNaturalist, que possibilita o compartilhamento de conhecimento sobre biodiversidade entre a sociedade e o público científico.
A foto despertou o interesse do pesquisador e zoólogo Dr. Adriano Kury, que trabalha com aracnídeos no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e é especialista na ordem Opiliones. Além disso, Kury se dedica a reconstrução da coleção de aracnídeos do Museu Nacional, que foi destruída no incêndio em 2018.
“Quando vi a foto fiquei animado, porque seria uma chance de conhecer melhor o gênero, e até então achei que poderia ser uma das espécies já conhecidas. Organizei uma expedição para a Mata Escura com a pesquisadora Alexia Granado no final de março de 2024. Encontramos Ednardo, que nos guiou a alguns vales úmidos, e lá achamos alguns machos e fêmeas. Chegando ao Rio, estudamos os espécimes e descobrimos que se tratava de uma espécie nova de Cajango.”, ressaltou Kury. A descrição taxonômica detalhada e o registro da nova espécie foram publicados em 3 de janeiro de 2025 em uma revista científica internacional.
De acordo com Márcia Nogueira, chefe da Reserva Biológica da Mata Escura, a descoberta da nova espécie reflete os resultados positivos que o acordo com a Vale tem gerado para a Unidade de Conservação. “Os três anos de execução da Meta Florestal na Rebio da Mata Escura têm proporcionado avanços significativos, destacando-se o monitoramento do Muriqui-do-Norte, além dos levantamentos inéditos de fauna e flora, como o registro do opilião Cajango ednardoi, que é uma descoberta relevante para a região. Todos os resultados obtidos indicam um excelente estado de conservação da biodiversidade da Reserva.”
Além das atividades de monitoramento são realizadas ações de proteção ecossistêmica, educação ambiental, monitoramento da biodiversidade e apoio a atividades de pesquisa.
Curiosidades sobre a espécie
As características que distinguem o Cajango ednardoi das outras espécies do mesmo gênero incluem variações na coloração do corpo e diferenças estruturais no fêmur e nos órgãos genitais masculinos. A nova espécie foi registrada em altitudes entre 750 e 1.100 metros, enquanto as demais do gênero habitam áreas mais baixas, geralmente abaixo de 600 metros, o que sugere que este animal possa ser um gênero mais primitivo da espécie.
Outro ponto é a localização geográfica. O gênero era classificado pela World Wide Found for Nature (WWF) como endêmica das florestas no interior da Bahia, e essa descoberta amplia a distribuição geográfica do gênero Cajango, marcando sua primeira ocorrência em Minas Gerais.
O nome Cajango ednardoi foi atribuído em homenagem a Ednardo Martins, que faz parte do quilombo da Mumbuca, território tradicional e parcialmente sobreposto à Reserva da Mata Escura, em reconhecimento ao seu trabalho em monitoramento ambiental nas áreas de florestas na região do Baixo Jequitinhonha. Ednardo, que já foi chefe de brigada do ICMBio atualmente trabalha como colaborador contratado pela Vale, na Rebio Mata Escura.
Sobre a Reserva Biológica da Mata Escura
A Reserva Biológica da Mata Escura tem uma área de cerca de 50 mil hectares, localizada em uma área de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica, no vale do Jequitinhonha. A Unidade de Conservação tem cerca de mil espécies de fauna e flora já registradas.
A Reserva Biológica da Mata Escura é uma das sete Unidades de Conservação (UCs) contempladas pelo acordo Meta Florestal Vale de Proteção, fazendo parte também do acordo de Restauração Inclusiva entre a Vale e o ICMBio, que possui o foco na estruturação de processos de restauração em larga escala, implementação de áreas demonstrativas e promoção de cadeias produtivas sustentáveis. Ambas as iniciativas têm vigência de cinco anos e visam fortalecer as ações de conservação e restauração ecossistêmica em Unidades de Conservação.