Novas gerações e as competências comportamentais

Segundo uma pesquisa feita pela Amcham Brasil, 75% das empresas enfrentam problemas relativos ao conflito de gerações no trabalho.

Novas gerações e as competências comportamentais

A babá pergunta para a menina de 6 anos. O que você vai ser quando crescer? E a criança rapidamente responde: vou ser tatuadora. A senhora tenta argumentar, diz que é melhor ser médica, advogada, arquiteta. Mas, a menina é enfática e insiste: quero ser tatuadora e eu que vou escolher o que eu vou fazer. 

Ouvi essa conversa recentemente em uma lanchonete. Me fez refletir sobre vários assuntos: as profissões e suas mudanças, o que querem as novas gerações, porque alguns pais de hoje não querem que os filhos sigam a mesma carreira que eles, por qual motivo escolhemos determinado caminho e como ajudar os adolescentes de hoje na escolha de sua profissão. 

Segundo uma pesquisa feita pela Amcham Brasil, 75% das empresas enfrentam problemas relativos ao conflito de gerações no trabalho. A futura tatuadora que citei faz parte da chamada geração Alpha, que compreende os nascidos depois de 2010. A geração anterior a esta é a Z, dos nascidos entre 1996 e 2010. Os jovens da Z e, posteriormente da Alpha, possuem aspirações diferentes dos da X (entre 1961 e 1980) e da Y (entre 1981 e 1995). Alguns pensam em experimentar um ano sabático antes de ingressar na faculdade ou trabalhar em um local renomado para obter experiência profissional e só então descobrir a carreira que desejam seguir. 

Isso representa um grande desafio para os modelos de educação atuais, para os pais e principalmente para as empresas. Ao lidar com essa mistura de gerações na mesma época percebe-se que alguns métodos tradicionais de tratamento igual a todos nem sempre funcionam. Principalmente no mercado de trabalho. 

Os líderes, em parceria com o setor de Recursos Humanos/Gestão de Pessoas, precisam compreender as necessidades de cada grupo de gerações para evitar conflitos entre eles, elevar a produtividade e reter pessoas. Um grande exemplo é com relação aos benefícios que os empregadores oferecem aos colaboradores. A geração X e Y pode achar importante ter plano de saúde, mas a Z pode preferir convênios com academias e clubes. Pensar em ofertar benefícios flexíveis pode contribuir para um melhor clima organizacional. 

Além disso, a nova geração de trabalhadores possui expectativas com relação às empresas que desejam trabalhar, sendo mais exigentes ao escolher uma organização, se comparados às gerações anteriores. O fato de a empresa possuir plano de carreira pode ser fator de interesse na escolha entre uma ou outra instituição, assim como o nível de desenvolvimento de novas habilidades ofertado durante o trabalho.

E o que seriam essas novas habilidades?

As gerações Z e Alpha já crescem em meio aos recursos digitais e aprendem rapidamente os conhecimentos técnicos, as chamadas hard skills. Mas é necessário que também desenvolvam as soft skills, que são aquelas competências relacionadas ao comportamento e ao relacionamento interpessoal, como: resiliência, trabalho em equipe, estímulo à criatividade, observação, liderança, planejamento, desenvolvimento do pensamento crítico, comunicação, dentre outras. 

Habilidades como estas são cada vez mais exigidas dos profissionais do futuro e os jovens podem exercitá-las durante um curso de graduação ou ajudando os pais em alguma atividade ou atuando como Jovem Aprendiz ou Estagiário em alguma organização, por exemplo, até que chegue o momento de entrar no mercado de trabalho.

Algumas empresas já possuem programas e métodos para desenvolver as soft skills diretamente entre os colaboradores ou em determinadas equipes. E já atuam com esse olhar durante os processos de recrutamento e seleção. 

O mercado de trabalho está sempre mudando e obrigando os profissionais a se adaptarem às novas necessidades. Por isso é fundamental exercitar as soft skills, pois de nada adianta contar com profissionais tecnicamente capacitados, mas que tenham dificuldade em lidar com ambientes de pressão ou não consigam se relacionar com os colegas de trabalho. Entender sobre as hard skills e soft skills é papel tanto dos futuros profissionais, quanto das empresas, escolas e universidades.

Rejane Sandri é Consultora em Rotinas Trabalhistas e Gestão Estratégica de Pessoas em Itabira.

*O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

MAIS NOTÍCIAS