“Novo Carajás”: Vale lança projeto de R$ 70 bilhões no Pará
O projeto busca sustentar o crescimento da produção de minério de ferro da mineradora e também acelerar a expansão da exploração de cobre
Com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Vale lançou na sexta-feira (14), em evento no Pará, o programa “Novo Carajás”, destinado à expansão da mineração de ferro e cobre nas áreas de exploração da companhia no município de Parauapebas. Com previsão de investimento de R$ 70 bilhões até 2030, o projeto busca sustentar o crescimento da produção de minério de ferro da mineradora e também acelerar a expansão da exploração de cobre, conforme projeções (guidances) divulgados pela empresa ao mercado.
O presidente Lula chegou no fim da tarde às instalações da Vale no Pará. Ele já tinha ido a Carajás em 2004, em seu primeiro mandato, para a inauguração de uma das minas da empresa na região. Na época, o CEO da mineradora era Roger Agnelli, com quem Lula tinha proximidade. Agnelli deixou a presidência da Vale em 2011, e morreu em um acidente aéreo em 2016.
O cenário, no entanto, é diferente neste seu terceiro mandato. Ao longo dos dois últimos anos, Lula fez duras críticas ao modelo de gestão da mineradora, além de reivindicar maior poder de voz do governo no conselho de administração da empresa. Cobrou também que a mineradora precisava fazer mais investimentos no País.
Além do aceno ao governo com os aportes anunciados agora, a Vale quer garantir também uma posição de liderança na transição energética, uma vez que o cobre é cobiçado por ser usado em baterias elétricas e equipamentos de energia renovável.
Já os investimentos em minério de ferro vão atender à necessidade de reposição de minas em exaustão e à expansão de 20 milhões de toneladas na mina S11D, segundo pessoas próximas da companhia.
Nova etapa
A solenidade de ontem, portanto, pode ser o prenúncio de uma nova etapa nas relações da Vale com o governo. Há um ano, pressões do Planalto para emplacar o ex-ministro Guido Mantega como CEO da mineradora levaram tensão à companhia e a um racha dentro do seu conselho de administração.
O escolhido pelos acionistas, porém, foi Gustavo Pimenta, executivo que era diretor financeiro da mineradora. Desde então, a Vale conseguiu fechar dois acordos envolvendo o governo federal: a compensação pelo desastre de Mariana, com pagamento de R$ 100 bilhões (além de obrigações a fazer), e a revisão de valores da renovação antecipada de duas ferrovias (Vitória-Minas e Carajás), pelas quais vai desembolsar R$ 17 bilhões.
No fim do mês passado, o presidente teve um encontro com Pimenta, o novo CEO, no Palácio do Planalto. O executivo teria mostrado ao presidente os planos que foram apresentados na sexta-feira.
Ontem, na solenidade em Carajás, Lula disse que a gestão de Pimenta é uma oportunidade para desfazer uma separação entre os interesses da empresa e do Estado brasileiro. “O Estado também tem interesse que a Vale cresça”, disse.
Segundo ele, houve “um fio desencapado” entre a companhia e alguns governos, mas que em sua gestão não haverá mais ruídos nessa relação.
As boas relações com o governo são cruciais para a mineradora, que depende de concessões e licenças federais — inclusive ambientais — para desenvolver minas e sistemas de logística, com ferrovias e terminais portuários.
Ainda na solenidade, Lula afirmou que, se depender do governo, a Vale será uma das maiores mineradoras do mundo, o que a empresa já é. “Me ajuda Pimenta a fazer com que a Vale volte a ser a primeira empresa do mundo em mineração de ferro, de minerais críticos, em mineração do que quiser. E, sobretudo, a primeira do mundo no tratamento respeitoso ao povo que trabalha com vocês”, disse o presidente.
CEO vê convergência de agenda com Estado
O presidente da Vale, Gustavo Pimenta, afirmou ontem, durante a cerimônia de lançamento do novo programa de investimentos, que a mineradora tem objetivos convergentes com os do País. “A gente tem muita oportunidade de investimento e vê uma agenda muito convergente (com a do Estado)”, disse Pimenta.
O evento contou com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além dele, também estavam presentes o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).
Depois de o presidente Lula dizer que quer a empresa de novo no topo do setor de mineração, Pimenta lembrou que em 2010 a Vale ocupava a segunda posição no mercado global de minério de ferro. “Hoje, estamos em 14º, mas estou confiante de que vamos retomar a posição”, disse o executivo.
Se colheu elogios do presidente Lula, Pimenta por outro lado foi cobrado pelo governador do Pará. Helder Barbalho cobrou da Vale a execução de uma obra ferroviária, um trecho de 480 quilômetros ligando Açailândia (MA) a Bacarena (PA), parte da expansão da Ferrovia Norte-Sul, considerado um eixo estratégico para a logística e o escoamento de cargas na região.
“Não temos um estudo no momento”, respondeu Pimenta, acrescentando que sua gestão à frente da companhia, iniciada em 1º de outubro do ano passado, está acelerando agendas como a da expansão de produção de cobre. O projeto “Novo Carajás” aponta para a ampliação de 32% na produção do mineral.