O eterno encanto de Doutor Colombo
O ilustre itabirano de Santa Maria de Itabira completará 103 anos, nesta segunda-feira. Uma data memorável
Doutor Colombo Portocarrero de Alvarenga é singular. Único. Pessoas como Ele nascem uma vez a cada cem anos. A palavra “sempre” tem outro nome: Colombo. Um dia, uma variação linguística (ou mero neologismo) será moda em Itabira: o verbo colombiar designará ações de profissionalismo, elegância e ética.
O ilustre itabirano de Santa Maria de Itabira completará 103 anos, nesta segunda-feira (17). Uma data memorável. Essa “vivência infinita” é um monumento à vida e à ciência. A postura humana secular muito contribuiu para essa façanha extraordinária. A rotina histórica do discípulo de Hipócrates é exemplo para as próximas gerações: atividades físicas (a prática do vôlei é emblemática), notável dedicação na área da saúde e envolvimento nos mais diversos segmentos da sociedade. Ainda hoje, o clínico faz uma hora de caminhadas por dia (das 5h às 6h, bem de manhã) e atende antigos pacientes. Um fenômeno do gênero.
A idade de Colombo mexe com o imaginário e provoca reflexões. Nessa hora, revisita-me uma cena do tempo de “criança pequena”, em Ouro Preto. Lá na terra dos inconfidentes, havia um vizinho da casa materna eternamente enfermo. Não se curava de jeito nenhum. O homem passava os dias dentro de um pequeno quarto, mergulhado numa imensa escuridão. Seus longos gemidos incomodavam. O ambiente exalava um forte cheiro de remédios. Volta e meia, ouviam-se os sussurros dos moradores das proximidades. A frase agourenta saía em forma de vaticínio: “de hoje, o velho não passa”. Uma tarde, quase ao anoitecer, o moribundo cerrou definitivamente os olhos.
Mas existe algo perturbador nesse drama tétrico. O decrépito “velhinho” contava apenas 50 anos. Era meados de 1960. Na ocasião, a expectativa de vida do brasileiro estava em torno de 52,5. Esse número teve um fabuloso crescimento. A atual população nacional vive, em média, 75,5. O panorama é salutar. Os mais recentes levantamentos demográficos apontam a presença de 38 mil brasileiros com mais de cem anos. Doutor Colombo é um ilustre sócio desse seleto clube. Dona Eny Figueiredo- a sua companheira onipresente- também entrará para o grupo dos centenários, em 2025.
E fica aqui uma notícia bastante animadora nesse contexto. Os pra lá de oitentões permanecem em franca movimentação. Alguns exemplos chamam a atenção. O jornalista Boris Casoy (83) começou a cursar veterinária aos 80. José Carlos Araújo (84) e Alberto Rodrigues (84) narram futebol com sofisticada maestria. Sílvio Santos (93) informalmente ainda comanda o SBT. Roberto Carlos (83) não para de cantar. Oscar Niemeyer trabalhou intensamente até o ponto final, em 2012, aos 104 anos. O “grande arquiteto” encantou-se na plenitude mental. Itabira é um paraíso de “jovens” longevos. Sempre me lembro da incrível Dona Quininha aos 102. Eu adorava conversar com o antigo (e eterno) Aníbal Moura- o filósofo do chicote. Moura mais parecia uma entidade sem prazo de validade. Um aforismo “anibista” nunca escapou da minha memória. Veja só a sutileza. “Achar a coisa para o homem é fácil, difícil é achar o homem para a coisa”.
Enfim, é dia do lançamento do livro “Doutor Colombo- vida saudável em um centenário exemplar”. A publicação é deliciosa. Vale a pena degustar lentamente cada uma das suas 196 páginas. A realização dessa importante obra literária só foi possível graças a dois fatores imprescindíveis: o talento do jornalista José de Almeida Sana e a determinação do CEO do grupo DeFato/ Rádio Caraça, Emerson Alvarenga “Gui” Barbosa- amigo íntimo da personagem protagonista do enredo.
Um pouco adiante, em décadas distantes, quando não mais estivermos desfilando por essas paragens, todo itabirano “colombiará”. Essa será uma herança marcante.