O ministério de Lula escancara a irrelevância de Minas Gerais
Confira o novo texto do jornalista e colunista da DeFato Fernando Silva
Minas Gerais não é um estado inexpressivo. Nunca foi. Pelo contrário. É relevante protagonista na paisagem nacional. Esse “paraíso” montanhoso tem história exuberante, tradição maravilhosa e cultura fascinante. Desfila com elegância até na passarela internacional. A terra dos inconfidentes apresenta ainda uma economia pujante. Um exemplo marcante dessa realidade financeira. No terceiro trimestre de 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) do estado alcançou a cifra de R$240,2 bilhões. O valor espetacular significa 9,4% do PIB brasileiro.
Essa amostragem excepcional, porém, não tem influência positiva no ambiente global tupiniquim. No passado, já tão distante, os grandes eventos políticos necessariamente passavam por Minas. Hoje, esse pedaço do Brasil passeia despercebido pelos palácios da capital federal. Não se entende o motivo de tal anemia. Afinal, Minas é o segundo maior colégio eleitoral da “Terra de Santa Cruz”, atrás apenas de São Paulo. E há aqui um fenômeno social bastante significativo. Minas Gerais é o principal indicador de humor do eleitorado da nação. E mais. Ninguém vence uma eleição presidencial sem o beneplácito dos mineiros. Tiro e queda.
Esse fator peculiar tem uma explicação aparentemente lógica. Em cada ponto das Alterosas há um pouco do Brasil. Esse panorama está muito claro. O Norte de Minas reflete o Nordeste brasileiro. A Zona da Mata recebe forte influência do Rio de Janeiro. O Sul de Minas orbita São Paulo. O Triângulo Mineiro está conectado com a região central do Brasil, principalmente Goiás e Distrito Federal. Esse mosaico multicultural justifica a velha máxima: Minas são várias.
Apesar dessa intensa riqueza socioeconômica, o estado não consegue esconder a sua atual mediocridade política. É comovente. A montagem da equipe ministerial de Lula atesta essa letargia. No período de formatação do governo, prevalecia uma expectativa bastante otimista: pelo menos três mineiros ocupariam importantes cargos na cúpula da nova administração. No final das contas, só Alexandre Silveira (PSD) foi contemplado. O ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) assumiu o ministério de Minas e Energia. Os petistas daqui passaram distantes de posições estratégicas. Foram relegados ao cafundó do poder.
Esse cenário constrangedor provoca a famosa pergunta – que naturalmente insiste não silenciar: quem é mais inexpressivo? Minas Gerais ou o Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores? A dúvida persiste. O deputado federal Reginaldo Lopes – um petista histórico – é o mais claro exemplar dessa escandalosa insignificância. No início do processo eleitoral do ano passado, o parlamentar tentou concorrer ao Senado. Não deu. A sua legítima pretensão foi atropelada pela imposição do nome de Alexandre Silveira, que buscava a reeleição para a câmara alta. Mas foi derrotado.
Depois da vitória de Lula, Reginaldo virou uma consistente aposta para a pasta da Educação. E, mais uma vez, esse sonho de verão foi para o vinagre. E o que aconteceu dessa feita? Lopes sofreu nova abalroação da locomotiva Silveira. Alguém, aí na plateia, pode discordar desse papo de gritante desprestígio dos “companheiros” mineiros nos governos do PT. E até existe um importante contraponto para essa tese: Dilma Rousseff sempre ocupou cargos de destaque nas administrações rubras. Afinal, ela foi ministra e presidente da República. A prática, no entanto, desmente a teoria. Rousseff é naturalmente mineira, mas politicamente gaúcha. Então, fica combinado assim: hoje em dia, não há como ignorar a perturbadora irrelevância do PT de Minas Gerais.
Enfim: Alexandre Silveira ou Reginaldo Lopes? Para Itabira, tanto faz. Os dois têm sólidas ligações com a cidade. Lopes, por exemplo, teve importante participação na criação do Colégio Militar. Já a pasta de Alexandre Silveira (Minas e Energia) tem tudo a ver com a terra de Drummond, principalmente em tempos de ameaçadoras barragens.
PS: Coletiva no auditório da Prefeitura com a presença do deputado Reginaldo Lopes. Na pauta, o Colégio Militar (Tiradentes) de Itabira. Lá pelas tantas, alguém fez uma pergunta exótica ao parlamentar:
– Deputado, não haveria risco do Colégio Tiradentes de Itabira auxiliar na implantação de um regime militar no Brasil?
“Silêncio profundo, a menina dormiu!!!”
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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