“O paciente é colocado num saco e daqui vai para o cemitério”, explica enfermeira

Nelma Oliveira é enfermeira em Itabira e fala sobre a dificuldade de lidar com a morte nesses tempos de pandemia

“O paciente é colocado num saco e daqui vai para o cemitério”, explica enfermeira
O conteúdo continua após o anúncio


A enfermeira Nelma Oliveira Barbosa Barros, de 37 anos, conta que escolheu a enfermagem porque sempre gostou de cuidar e levar o melhor para os pacientes. Profissional da linha de frente de combate à Covid-19, no Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD), em Itabira, ela exerce a profissão há quatro anos. Em um depoimento forte à série de vídeos produzida pela DeFato, Nelma fala sobre a dor de perder alguém durante a pandemia do coronavírus.

A enfermeira lembra que em março de 2020, quando a pandemia começou, mesmo com muita insegurança, a rotina era tranquila. “Eram poucos casos. A gente conseguia desenvolver bem com cada paciente. Hoje, não temos vagas, não temos leitos disponíveis, não temos tempo de descanso, os pacientes são todos graves”.

Nelma conta que, muitas vezes, foi preciso fazer escolhas difíceis por falta de recursos.

“Nunca imagine que eu teria que escolher pela vida de um ser humano. Eu não tenho esse poder. Esse poder vem de Deus. Queria eu realmente ser herói como nos chamam. Queria eu poder salvar essas pessoas, mas infelizmente vamos até onde os recursos nos permitem. É aquela sensação de que a gente deixou a pessoa morrer. É exaustivo e desgastante porque a gente está de cara com o vírus”, se emociona.

O choque de perder uma vida

Nelma não esconde a tristeza de não conseguir salvar todas as vidas que atende.

“O que mais choca a gente é a pessoa que está ali sozinha, você faz uma chama de vídeo para ele ver os familiares e aquele é o último contato dele antes de ser intubado. Depois, a família vem para reconhecer o paciente no necrotério. Estávamos acostumados à cultura de fazer um velório, de dar um abraço na família. Hoje, não se prepara um corpo para um velório. Do jeito que sai do leito, é colocado num saco e daqui para o cemitério”.

Para a enfermeira, ainda é possível ter esperanças. “Tenho uma filha de 8 anos. Eu tenho muito medo de levar isso para casa. Mas, eu não penso em desistir. A minha esperança vem do carinho das pessoas e da conscientização. Eu espero que as pessoas tenham mais amor à vida e amor ao próximo. Estar isolado no conforto de caso é muito melhor do que dentro de um hospital”.

Confira o depoimento de Nelma Oliveira na íntegra: