O porquê da Dengue

O colunista José Sana se debruça sobre o tema mais comentado em Itabira nas últimas semanas

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Em Itabira só se fala em Dengue (com inicial maiúscula em sinal de respeito a hospitais com lotação transbordando pelas janelas, tetos e corredores). Alguns mal informados arriscam que a culpa é de Fulano, Beltrano, Sicrano. A maioria crucifica o Zé Povinho, coitado, que come barro há anos. Usam a mesma estratégia de raciocinar até a ponta do nariz. A época em que vivemos é trágica com a verdade. Atropelam-na como a um vira-latas de pracinhas. 

A imprensa diz e repete, dia a dia, para vergonha nossa, a informação de que Itabira é a segunda cidade em Minas Gerais em mais casos de Dengue. Só perde para Belo Horizonte, cuja população é dez, vinte, sei lá quantas vezes maior. E como sinal que pode destruir qualquer argumento, temos o seguinte: a terra de Drummond, figura isolada que se envergonharia da verdade incontestável, é talvez a única do Brasil em condições de impedir que o mosquito Aedes Aegypti sequer entre para espalhar seu DNA por aí.

Vamos pelas beiradas, pegando acusadores do morador dessas terras, esse que seria o grande líder dos culpados. Não ganho um centavo para defender a maioria atacada. Alguém quer me pagar? Há quem ataque a dona de casa, o comerciante da esquina, os relaxados por não rondarem os seus quintais à cata e à caça do mosquito mais popular que barulho das ruas do “Carna-Dengue”.

Itabira tem uma arma, jamais usada para torná-la a urbe mais limpa do Brasil. A Condicionante da Licença Operacional Corretiva (LOC),  número 1, seria a bomba atômica que espantaria o Aedes Aegypti de nossas plagas. Diria que a referência ao Aterro Sanitário foi cumprida em 2012, mas, seja o que for, de negligências em negligências, voltou à condição de Lixão. É um paraíso dos urubus, que enfeitam a mistura de todos os lixos. Para lembrete aos descuidados, a LOC citada começou a valer a partir de 2000. São 24 anos de preguiça oficial e municipal. Inacreditável!

Itabira consome mais de 1 quilo de lixo por habitante, por dia. A sujeira espalhada pelas vias urbanas é a maior aliada do mosquito. Em cidade imunda qualquer um percebe, ao caminhar, a pé ou de carro, em buracos que já retornaram mostrando ser duros na queda. O convite ao Aedes Aegypti é concretizado pela sujeira, o resto deixem por conta da chuva e da falta de coleta correta que os hospitais itabiranos  sustentam. Eles estão com pacientes e impacientes saltando pelas janelas, corredores e outros buracos.

Prefeitos, vereadores, secretários, fiscais, a sociedade civil organizada e o Ministério Público Estadual (MPE) conhecem o que estou reprisando. Fica, então, a pergunta: por que não exigem da mineradora Vale o cumprimento de sua dívida? Mais uma entre milhares de outras.

Em Itabira desde 1966, nunca vi alguém dizer: “Vou seguir o exemplo que a engenheira Paula Menezes (1989-1992), que implantou a reciclagem na Itaurb, deixou. Hoje a sucessora da Extracomil, que tinha aonde ir buscar recursos, de seu próprio trabalho.  A Itaurb hoje sorevive da boca para fora, é somente o cabide de empregos oficial itabirano.

Quem tem ainda dúvidas sobre a culpa original, vinda da fonte, quente e clara, pode procurar-me. Se me provar que em uma cidade limpíssima o Aedes Aegypti tem vida fácil serei mais um a cobrar da mineradora Vale, já que, parece, todo mundo morre de medo dela. Mas adianto: já trabalhei lá, não é Bicho de Sete Cabeças. 

Tinha receio dos Sem-Cabeça, que somos nós, o Zé Povinho. Mas, asseguro, a culpa vem de cima.

José Sana é jornalista, historiador, professor de Letras e ex-vereador em Itabira por dois mandatos, onde reside desde 1966

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