O presidente da Vale é o sujeito oculto da oração

É o momento de orar para que o sujeito oculto da oração dê as caras na “aldeia”. Por aonde anda o presidente da Vale?

O presidente da Vale é o sujeito oculto da oração
Foto: Divulgação/Vale
O conteúdo continua após o anúncio


“Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome”. Assim começa a mais sublime criação literária de Jesus Cristo. O itabirano necessita recitar essa icônica oração diuturnamente. A velha Mato Dentro carece de preces. Infinitas rezas nos quatro cantos da pólis. Um congresso ecumênico na cava do Cauê não amenizaria a dramática situação. O panorama está mais russo que Wladimir Putin. Esse pânico mítico inicia com o efeito de um porre de vodca Orloff. Quem não se lembra da campanha publicitária ganhadora do Grand Prix de 1985? A expressão “eu sou você, amanhã” virou febre linguística nacional.

A criativa propaganda pintou abruptamente no imaginário itabirano, no final do mês passado. No dia 27 de maio, logo ao entardecer, a empresa Gerdau — “Mineira de Coração” — deu um tiro à queima roupa na população de Barão de Cocais. Subitamente, a gaúcha de natureza desligou os fornos da tradicional usina siderúrgica da localidade. Consequência óbvia: 487 trabalhadores foram colocados na rua da amargura. A misteriosa atitude da produtora de aço impossibilitou um debate prévio com trabalhadores, prefeito, vereadores e sindicato da categoria. A drástica decisão se deu de forma unilateral. E ponto.

Esse drama cocaiense despencou como uma bomba na região. Em Itabira, teve a potência dos aparatos bélicos transportados pela aeronave Enola Gay, em agosto de 1945. E pior. Provocou ressaca típica de vodca do Paraguai. Uma alegoria clássica ocupou o imaginário dos mais céticos. “Eu sou você, amanhã”, sussurraria Itabira para Barão de Cocais. O exemplo da Gerdau é didático. Veja bem. As minas itabiranas entraram no inevitável processo de exaustão. Claro. “Minério não dá duas safras”, já diziam os mais antigos. Mas há uma perturbadora incógnita nessa equação. A Vale não precisa informar o dia e a hora do descimento derradeiro das cortinas. Basta fechar as porteiras e dar no pé. Antes, porém, providencialmente botará um batalhão de colaboradores (?) para correr. E o poder público que se vire com as consequências do previsível caos socioeconômico.

Nada de novo no front. Afinal, a antiga “joia da coroa” trata Itabira como mamucha de suculenta laranja. Chupa, chupa, chupa e, depois, joga-se o bagaço (ou passivo ambiental) num cesto de lixo. Esse cenário tem cheiro de apocalipse. Principalmente porque a terra de Drummond não se preparou para a vida depois da Vale. E para piorar ainda mais, a exploradora de minérios evita participar dos debates sobre a realidade de minas abandonadas. A “fabricante de buracos” não se preocupa com o próximo capítulo da encrenca. Um exemplo dessa falta de compromisso institucional. A Vale não está fazendo regularmente os repasses de verbas para as obras da Unifei. E note-se. A instituição de ensino superior é o primeiro passo no caminho da diversificação econômica do município. Como se vê, é hora de rezar. É o momento de orar para que o sujeito oculto da oração — o principal executivo da transnacional brasileira — dê as caras na “aldeia”. Por aonde anda o presidente da Vale? Ninguém sabe, ninguém viu. Então, melhor dirigir uma prece ao milagroso São Bartolomeu. É a única maneira de desocultar o sujeito da oração. Apareça, Bartolomeo!!!

P.S.1: no final do século passado, um ex-presidente da mineradora foi recebido com pompa e circunstância em Itabira (só para variar). O prefeito da cidade era o petista Jackson Tavares. Lá pelas tantas, durante um discurso no teatro da Fundação Cultural, o dirigente da ainda estatal disparou: “meus caros, se não fosse a Cia. Vale do Rio Doce, Itabira seria uma simples aldeia”.

P.S.2: Falei do “Pai Nosso”, uma obra- prima de Jesus Cristo. Mas o “Sermão da Montanha” é sublime. Faz bem lê-lo de vez em quando. Principalmente hoje.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

MAIS NOTÍCIAS