O surrado mantra de Marco Lage: “é tudo culpa do governo anterior”

Não há culpas do governo anterior, todas as culpas são do atual governo

O surrado mantra de Marco Lage: “é tudo culpa do governo anterior”
Foto: Reprodução
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O mantra é um cântico mítico do Hinduísmo e Budismo. A canção mantém único, contínuo e monótono ritmo. O objetivo desse ritual é a busca de fina sintonia com o divino. A entonação provoca relaxamento mental e conduz à plena meditação. Um símbolo popular dessa evocação sacra é o som de fundo da música “My Sweet Lord” (meu doce senhor) do ex- Beatles George Harrison, então convertido ao Hinduísmo. A canção estourou nas paradas de sucessos, nos anos 1970.  É muito encantador ouvir a suave e cadente repetição do coral, dialogando com a inigualável voz de Harrison: “Hare Krishna/Hare Krishna, Krishna/Krishna, Hare/Hare”. E segue o jogo.

A política itabirana inovou e criou um mantra caipira singular. A exótica mania começou na era Damon de Sena. O ex-prefeito repetiu intensamente, durante quatro anos, o mantra dos mantras: “é culpa do governo anterior, é culpa do governo anterior, é culpa do governo anterior…” O visível e rotineiro fracasso foi atribuído ao antecessor.  

As asnices gerenciais eram consequência de feitiços do mandatário anterior. Nesse caso, as navalhadas estruturais foram previamente fabricadas por João Izael, segundo os damoníacos. E tome a repetição do cansativo bordão. “A culpa é dele, a culpa é dele, a culpa é dele”. E nesse diapasão, Damon e sua turma não saíram do lugar. A locomotiva entrou irremediavelmente no modo “atoleiro”.  

O enfadonho cântico não funcionou. De Sena foi eleito com o maior percentual de votos válidos da história de Itabira. Veja bem: 70,20% dos eleitores apostaram nas propostas do homem de jaleco branco. A tentativa de reeleição do mandarim, porém, foi um vexame do tamanho da cava do Cauê. O capital eleitoral do doutor virou pó. O pífio saiu das urnas. Os números revelaram desempenho de candidato a vereador de partido nanico. Como se vê, a melodia “culpa do governo anterior” não colou e Sena saiu de cena pelas portas do fundo. 

Mas, de repente, Marco Antônio Lage despencou de paraquedas no terceiro andar da Prefeitura. A vitória da incógnita foi momento de hipnose coletiva do eleitorado de Mato Dentro. E o espírito da modernidade finalmente baixou na “atrasadíssima Itabira”. “Nada será como antes foi”, prometia o ícone de um novo tempo. A gestão do guru da Fiat, contudo, tem explícitas semelhanças com o estilo damoniano. A principal referência dessa percepção é a ressurreição do mantra do governo anterior. A todo o momento, o Imperador de Ipoema cantarola a velha toada. Marco derrapa constantemente numa pista ensaboada e não se cansa de repetir: é tudo culpa do governo anterior. 

Incompetência administrativa? Culpa do governo anterior. Ruas repletas de mato, lixo e buracos? Culpa do governo anterior. Amadorismo gerencial? Culpa do governo anterior. Secretariado mambembe? Culpa do governo anterior. Descompromisso com as futuras gerações? Culpa do governo anterior. Licitação modelo Atas, com empresa suspeitíssima? Culpa do governo anterior. Discurso repleto de besteirol marquiniano? Culpa do governo anterior.   

 A realidade, porém, revela outra faceta. A cidade é a cara (esburacada) da atual administração. E só. O governo anterior há muito acabou. A segunda versão Ronaldo Magalhães está relegada às páginas dos compêndios de história, apenas isso. A maioria do eleitorado itabirano caiu na conversa mole do ex-diretor do Cruzeiro de Itair Machado. Esse povo só elegeu o cidadão turinense porque não estava concordando com as ações do mandatário de antes. O itabirano pediu para o “novo” Marco entrar em campo e fazer a devida correção de rota. Os problemas da polis, portanto, são uma exclusividade do “socialista”. Então, tome que o filho é teu, Marco Lage! 

O atual chefe do Executivo tem a suprema obrigação de reparar erros de Daniel de Grisolia, Virgílio Gazire, Jairo Magalhães, José Maurício, Luiz Menezes, Li Guerra, Jackson Tavares, João Izael, Damon e Ronaldo. O sofista herdou todos os desenganos da terra do Poeta. As mazelas (de ontem e de hoje) devem ser debitadas essencialmente nas contas de Lage. O homem foi um enviado de Deus para colocar o metrô nos trilhos. Conclusão: não há culpas de governos anterioriores, todas as culpas são do atual governo. O resto é discurso de incompetente. 

Enfim: Convém Marco Lage descascar o esburacado abacaxi da Rua Tabelião Waldemar de Alvarenga. Do contrário, deixará um mantra para a próxima administração da cidade. A encrenca da Tabelião, por ora, é culpa do atual governo. Mas tem tudo para virar culpa do governo anterior, daqui a dois anos.

PS1: Sugestão para o vereador Heraldo Noronha – atual presidente da Câmara: que tal começar um mantra? O velho elevador do prédio do Legislativo não funciona? Culpa do presidente anterior e contumaz cantor de mantras. Vetão gastou R$ 2 milhões na reforma do imóvel, mas ignorou solenemente o simpático elevador.

PS2: O “Diário de Itabira” mancheteou: “Itaurb contrata ex-presidente do Atlético em processo contra a União”. O que é isso, Padre Cláudio? Aqui a pergunta que insiste não calar: cadê os doutores advogados de Itabira? O governo Marco Lage definitivamente não valoriza itabiranos. Vou sugerir um profissional do Direito, com reconhecida competência: Bernardo de Souza Rosa.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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