Obra de R$ 36 milhões promete resolver falta de luz em Conceição, mas não há prazo previsto
Cemig diz que vai construir nova Subestação e o projeto está na fase de licenciamento ambiental, mas moradores já enfrentam a queda constante de energia, que afeta também o abastecimento de água
A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), responsável pelo abastecimento de energia em Conceição do Mato Dentro (região central de Minas Gerais), pretende investir aproximadamente R$ 36 milhões em obras para solucionar o problema de falta de energia no município. Segundo a empresa, as operações estão em fase de projeto e licenciamento ambiental, mas sem prazo definido para início e término. A população do município enfrenta a recorrente falta de luz e de água, já que esse abastecimento depende de energia para bombeamento pela Copasa.
O investimento será feito na construção da subestação Conceição do Mato Dentro 2- Guanhães 2, estrutura do tipo compacta integrada. A subestação terá capacidade total de transformação de 15 MVA, beneficiando aproximadamente 17 mil unidades consumidoras e cerca de 50 mil habitantes. Além da construção da nova estrutura, a empresa afirma que a atual subestação Conceição do Mato Dentro 1, que atende a cidade, será desativada.
O motivo do desligamento são as torres de madeira que fazem parte do sistema de distribuição de energia. As construções são, cotidianamente, afetadas por queimadas, deixando os conceicionenses no escuro por dias. A Linha de Distribuição Conceição do Mato Dentro 2 – Guanhães 2, diferente da 1, será feita com estrutura metálica.
“A subestação Conceição do Mato Dentro 2 é de alta relevância para o sistema elétrico da região Leste, contribuindo para viabilizar o crescimento do mercado de energia elétrica e garantir índices de qualidade de fornecimento dentro dos padrões exigidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica(Aneel)”, informou a Cemig por meio de assessoria de imprensa.
A Cemig informou ainda que, nas duas ocorrências de falta de energia que atingiram a cidade no mês de setembro, foram enviados geradores para manter os serviços essenciais como saúde e abastecimento de água. Em relação aos danos em eletrodomésticos em função da instabilidade no fornecimento de energia, os clientes podem pedir ressarcimento na concessionária.
Sem luz, sem água
Segundo a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), responsável pelo fornecimento de água para os conceicionenses, 3,2 milhões de litros de água entregues, em média, em Conceição são captados no ribeirão Santo Antônio e distribuídos por meio de motobomba. As motobombas necessitam de energia elétrica para o seu funcionamento, de acordo com a Copasa. A companhia ainda afirma que as interrupções no abastecimento ocorreram devido à falta de energia, mas que, para manter a população abastecida, manobras operacionais foram realizadas e caminhões-pipas, disponibilizados.
A Copasa informou também que, para aumentar a produção de água, em 2018, foi instalada mais uma Estação de Tratamento de Água (ETA) no município. Além disso, está prevista a ampliação do sistema de abastecimento, com a implantação de novas redes distribuidoras de água tratada e bruta e a construção de novos reservatórios.
Moradores vivem em situação precária
Enquanto as soluções para o fornecimento de energia e abastecimento de água dependem da execução de projetos, os moradores de Conceição do Mato Dentro sofrem a falta de serviços básicos. Dorotéia Leite é moradora do bairro Bandeirinhas e conta que, desde 2014, quando se mudou para Conceição, a falta de luz e de água é recorrente. Segundo ela, é comum ficar sem abastecimento de água e luz por mais de quatro dias.
“Eu economizo o máximo que posso, mas, mesmo assim, continuo sem. As contas chegam caras, sem a prestação do serviço. Não sei onde está o erro, só sei que precisa ser resolvido”, disse Dorotéia.
Para Fabiana, moradora do bairro Santana, além da preocupação com o abastecimento na sua própria casa, a moradora ainda fica atenta à situação precária na casa da tia, que é acamada.
“Ela mora no bairro Cruzeiro com a minha mãe e mais dois irmãos. Foi necessário comprar dez galões de água para atender às necessidades prioritárias da casa, já que estavam há três dias sem água. Um total descaso”, disse Fabiana.
Jéssica Valéria, também moradora do bairro Cruzeiro, conta que ela, a filha de 15 anos e o marido compram galões para abastecer a casa, além de arcarem com o prejuízo de aparelhos queimados com os piques de energia.
“É uma sensação de impotência e frustração enorme. A oscilação constante da energia queimou o filtro de linha onde estava conectada a minha geladeira. Além disso, de uma hora para a outra, descobri que não tenho água na caixa”, relata Jéssica.
A falta de luz, segundo Silvania Morais, moradora do bairro Matozinhos, foi motivo de trauma. A conceicionense ficou sem energia e água na virada do ano, do dia 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro.
“Passei o réveillon sem banho, fazendo churrasco no escuro, em um caos total. Esse problema nos deixa nervosa, ansiosa e com medo de receber visitas”, conta Silvania, que mora com mais cinco pessoas em casa.
As moradoras do bairro Bougainville, Patrícia Rocha e Fernanda Faria, também compartilham do mesmo drama de Silvania.
“Já estou em Conceição há oito anos. Infelizmente, o descaso com essas coisas básicas como água, luz e internet tem se tornado motivo de desgaste emocional para muitas de nós. Se chove então, tudo acaba”, conta Patrícia Rocha.
Já na casa de Fernanda Faria, a preocupação maior é com a falta de água.
“Aqui em casa todos os dias logo pela manhã verifico se está chegando água antes de começar a lavar as roupas e fazer limpezas maiores para evitar surpresas”, ressalta Fernanda.