Oportunidades de emprego existem, mas as partes estão preparadas?
Apesar da grande procura e da oferta, ainda há um descompasso preocupante: candidatos e contratantes nem sempre estão alinhados em relação às expertises do setor
Quem nunca acessou a seção de vagas em um jornal impresso ou consultou os sites de notícias em busca de colocações? As filas em frente às unidades do Sistema Nacional de Emprego (Sine) são um reflexo evidente do elevado contingente em busca de reinserção no mercado. No entanto, apesar da grande procura e da oferta, ainda há um descompasso preocupante: candidatos e contratantes nem sempre estão alinhados em relação às expertises do setor.
Recentemente, muito se tem debatido sobre o impacto da Inteligência Artificial (IA) na empregabilidade. Alguns especialistas destacam a substituição de cargos e a reestruturação de atividades, mas um fator ainda mais crítico merece atenção: a carência de qualificação técnica e comportamental dos profissionais. A tecnologia pode modificar as dinâmicas, mas a falta de preparo adequado tem se mostrado um entrave ainda maior no mundo corporativo.
O caso da Meta exemplifica essa realidade. No início do mês, Mark Zuckerberg, CEO da companhia, anunciou a demissão de quase 4 mil colaboradores em diversas unidades globais. Segundo informações divulgadas, as decisões foram baseadas em avaliações de desempenho no emprego e no investimento crescente em IA. Isso reforça a necessidade de adaptação às novas exigências, pois as corporações estão cada vez mais priorizando a eficiência e inovação.
Um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT CSAIL) aponta que, embora a IA seja fundamental para o avanço da produtividade, seu uso apresenta riscos, como discriminação nos processos, manipulação e insegurança no uso dos sistemas. No entanto, apesar dessas preocupações, é inegável que a modernidade está remodelando, eliminando algumas funções e criando postos. A questão central, portanto, não é apenas temer a IA, mas preparar-se para utilizá-la a favor do progresso.
A necessidade de operários qualificados para lidar com essa transformação no emprego é crescente. Além da excelência técnica, as empresas buscam talentos que demonstrem excelência comportamental e capacidade de gestão. Esse contexto justifica a existência de muitas possibilidades em aberto e, simultaneamente, a dificuldade em preenchê-las.
No Brasil, a expansão do trabalho é notória. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam um crescimento das oportunidades de emprego de 16,5% em 2024. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais lideram a criação de novas oportunidades. Contudo, essa evolução não se reflete de forma homogênea em todas as regiões. Em Itabira, por exemplo, o Novo Caged registrou 1.146 admissões contra 1.454 desligamentos no último ano.
Nacionalmente, a população ocupada cresceu 2,8%, atingindo 103 milhões de trabalhadores no quarto trimestre, enquanto a taxa de desemprego ficou em 6,2%, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD).
Mas quais são as competências mais valorizadas no atual contexto? Segundo Dan Brodnitz, chefe de conteúdo global do LinkedIn Learning, entre as capacidades mais demandadas pelas corporações, em 2024, estão comunicação, atendimento ao cliente, liderança, gestão de projetos, análise de dados, trabalho em equipe, vendas, resolução de problemas e pesquisa.
Aneesh Raman, vice-presidente do LinkedIn, complementa: “As habilidades interpessoais estarão no centro do crescimento da carreira individual, enquanto a colaboração entre pessoas será essencial para o desenvolvimento empresarial. Líderes precisam comunicar-se de forma clara, compassiva e empática”.
As mudanças são rápidas e constantes, tornando desafiador acompanhar as novas demandas. A IA continuará transformando a forma de recrutamentos e como as companhias operam em 2025. Para manter a relevância, é fundamental investir em aprendizado contínuo, aprimorar conhecimentos e estar atento às possibilidades emergentes.
De acordo com a psicóloga Teresa Macedo, especialista em bem-estar e saúde mental, as principais tendências para 2025 incluem um ambiente profissional cada vez mais automatizado, modelos híbridos com maior flexibilidade e um aumento na procura por qualificações socioemocionais como empatia, liderança e aperfeiçoamento permanente. Essas transformações representam tanto desafios quanto perspectivas promissoras.
Diante desse panorama, empregadores e colaboradores precisam se comprometer com a evolução constante. O investimento em novas especificações e o fortalecimento das performances técnicas e comportamentais são essenciais para se manter competitivo. Além disso, equilibrar a vida pessoal, preservar a saúde mental e valorizar momentos de descanso são práticas indispensáveis para um futuro sustentável e bem-sucedido.
Thiago Jacques é professor universitário, mestre em Administração, MBA em Marketing e Mídias Digitais e treinador na Escola Troka.
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