Os milagres atribuídos à Maria do Perpétuo Socorro, jovem assassinada nas proximidades do Carlos Chagas
Assassinada com requintes de crueldade, Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues, a Lia, de apenas 15 anos, se tornou a milagreira de Itabira
Alguns meses depois do crime, começaram a aparecer bilhetes e velas acesas no túmulo da Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues, popular Lia, de apenas 15 anos. Esses objetos eram agradecimentos por supostos milagres, ou graças alcançadas. Luiz Salvador, o tio de Lia, revelou alguns exemplos de fenômenos de cura e outros feitos extraordinários. Para preservação da privacidade, a DeFato utilizou nomes fictícios nessa matéria. Caso essas pessoas resolvam se identificarem, elas serão reveladas. São três casos bastante intrigantes. Confira a seguir.
A quase impossível recuperação de um emprego na área da CVRD
Geraldo Ribeiro trabalhava numa empreiteira da Cia Vale do Rio Doce (CVRD), no final da década de 1980. Ele exercia a sua atividade profissional na usina de concentração de minério, na Mina do Cauê. Esse operário mantinha o hábito de cochilar no intervalo do almoço. Nessas ocasiões, procurava um lugar tranquilo e repousava durante uma hora. O seu trabalho braçal era fisicamente desgastante.
Certo dia, cumpriu o seu costume de pós- refeição. Estava muito cansado. Por isso, dormiu profundamente. Um colega aproveitou a circunstância para fazer uma brincadeira de gosto duvidoso. Amarrou as botinas de Geraldo a uma cadeira, por meio de cordas. Em seguida, sacudiu bruscamente o operário, que despertou bastante assustado. Desnorteado, tentou correr e levou um violento tombo. A turma de trabalho soltou estrondosas gargalhadas. A reação da vítima da chacota foi imprevisível e violenta. Esmurrou intensamente o autor da molecagem. A pancadaria teve consequência extrema: ambos foram demitidos por justa causa.
Ribeiro era casado e pai de três filhos. A família dependia dele para sobreviver. Ninguém mais da sua residência trabalhava. O desemprego, naquele momento, foi uma tragédia. Sem ocupação definida, Geraldo passava os dias à procura de uma nova colocação. No auge do desespero, o homem se lembrou da adolescente assassinada nas proximidades do Hospital Carlos Chagas.
A partir desse momento, estabeleceu uma nova mania em sua a rotina. Pegava um atalho e se dirigia ao Cemitério da Paz. Evitava as ruas do bairro Caminho Novo e chegava ao local pelos fundos. Diariamente, acendia uma vela e orava junto ao jazigo de Lia. O ritual parece ter dado resultado. Certa manhã, no sexto de dia de orações, por algum motivo inexplicável, alterou o percurso. O seu destino, naquela data, foi a rua Virgilino Quintão. De repente, percebeu quando alguém buzinou e acenou de dentro de uma camionete. Logo, reconheceu seu antigo supervisor da área da mineradora. O ex-chefe, então, o convidou para entrar no veículo e fez a surpreendente pergunta:
-Você ainda se encontra desempregado?
A resposta de Geraldo foi comovente.
– Eu ainda não consegui nenhuma ocupação. Estou desempregado há oito meses. Já não existe mais o que comer, dentro da minha casa. Alguns amigos estão doando alimentos. Estou me sentindo humilhado diante da minha família.
O supervisou deu a mais inesperada resposta:
-Olhe, Geraldo. Você é um homem sério, responsável e muito trabalhador. Você foi vítima de uma brincadeira de péssimo gosto. Eu vou pedir ao engenheiro a sua recontratação.
E, assim, Geraldo Ribeiro reconquistou o seu emprego na empreiteira da CVRD. E, melhor ainda. Poucos meses depois, ingressou na mineradora, o grande sonho dos itabiranos daquela época. Geraldo sempre reconheceu que a reconquista do seu emprego foi fruto da interseção de Maria do Perpétuo Socorro.
O inexplicável desaparecimento de um tumor na próstata
José Roberto também passou por uma experiência extraordinária. Em certo momento, nos anos 1990, um médico percebeu uma alteração na próstata do paciente. O quadro clínico se agravou e ele foi encaminhado a Belo Horizonte para exames mais sofisticados. E aconteceu o pior na capital mineira. Uma tomografia constatou a presença de um tumor no órgão. E, para complicar ainda mais, a biópsia comprovou a malignidade do tecido.
O mundo literalmente desabou sobre a cabeça do itabirano. O diagnóstico provocou preocupações e desespero. O enfermo voltou a Itabira e revelou a sua grave situação de saúde a um amigo. Esse interlocutor sugeriu que ele pedisse uma intervenção de cura à alma de Maria do Perpétuo Socorro. José acatou o conselho e passou a orar diariamente no túmulo da adolescente.
O seu retorno a Belo Horizonte seria no mês seguinte, quando enfrentaria uma nova bateria de exames. Esse procedimento seria o passo inicial para uma cirurgia de remoção da próstata. Começaria ali uma longa luta pela sobrevivência. Muito tenso, o homem foi a BH. O cirurgião solicitou uma nova tomografia. O resultado do procedimento, porém, deixou o profissional da medicina perplexo: o tumor havia desaparecido.
O clínico, então, pediu outro exame. O tomógrafo possivelmente estaria com algum problema. Mas, não. A nova imagem confirmou o desaparecimento do tumor. O final da história foi impressionante: José Roberto havia vencido a luta contra um câncer de próstata, sem intervenção da medicina. Um caso clássico de milagre.
O voluntário fim de uma dependência de drogas
Luiz Antônio era pai de um casal. O filho havia completado 16 anos. De uma hora para outra, o adolescente apresentou súbita mudança de comportamento. Ficou mais agressivo e começou a faltar às aulas. Em pouco tempo, a família recebeu a pior das notícias: o moço havia mergulhado no mundo das drogas. E para complicar ainda mais a situação, vários objetos de valores começaram a desaparecer dentro de casa.
Luiz Antônio seguiu a sugestão de um amigo e tomou uma decisão radical: começou a frequentar o túmulo de Lia, em busca de ajuda para superar esse drama familiar. Diariamente, fazia orações e acendia velas no local. Na época, década de 1990, o filho corria sério risco de morrer nas mãos de traficantes ou contrair problemas de saúde.
A situação estava muito crítica. Mas, de uma hora para outra, o quadro sofreu uma importante transformação. O jovem mudou completamente de atitude. A princípio, parou de sair de casa à noite. Em seguida, avisou à família que voltaria às salas de aulas. E o mais importante. Deixou claro que nunca mais faria uso de drogas e pediu apoio para o cumprimento dessa promessa. Tudo mudou. O moço estudou com afinco e se formou. Casou-se e, hoje, tem três filhos. O pai, Luiz Antônio, morreu há dez anos.
Relembre
No dia 8 de maio, o portal DeFato Online começou a contar a história de Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues, a Lia. Na primeira matéria, é relatado o crime bárbaro — e sem solução — que resultou na morte da jovem que tinha apenas 15 anos.