A partir de semana que vem, CPI investigará em Itabira o ‘fracasso’ das obras da UPA Fênix
Prédio concluído em 2016 teria irregularidades estruturais para operar um complexo de Saúde
Começam na semana que vem os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará a construção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Fênix, em Itabira, durante o governo do ex-prefeito Damon Lázaro de Sena (PV). Orçada em R$ 4,1 milhões, a UPA começou a ser construída em 2014 e ficou pronta em 2016. Num primeiro momento, o atual governo alegou falta de dinheiro para equipar e pôr a UPA 24 horas em funcionamento. Mas, o caso se agravou: foram constatadas irregularidades na construção do prédio. O Conselho Municipal de Saúde, inclusive, decidiu recentemente cancelar a implantação do serviço.
O pedido para a abertura da CPI na Câmara de Itabira foi feito pelo vereador André Viana (Podemos), e assinado por, pelo menos, 12 parlamentares. O requerimento foi lido na reunião ordinária de 27 de fevereiro. Em 6 de março –sessão da semana passada – a CPI da UPA foi formada: André Viana é o presidente, Reinaldo Lacerda (PHS) foi nomeado relator e Jovelindo de Oliveira (PTC), o 1º vogal.
André disse hoje, 13 de março, que as reuniões da CPI começam na próxima semana, quando os integrantes irão decidir o calendário de atividades e o rito das apurações – cronograma que será tornado público. “Faremos a oitiva de testemunhas, empresa, ex-prefeito, secretários, arquitetos, fiscais”, ressaltou o presidente do grupo. Se constatadas irregularidades nas obras, o relatório final deve ser encaminhado ao Ministério Público e Tribunal de Contas, entre outros órgaõs.
UPA
A UPA Fênix, que ganhou o nome de UPA José Cesário Martins Carneiro, foi anunciada por Damon de Sena em 2013, após várias reuniões das quais ele participou em Brasília (DF). À época, a obra foi orçada em R$ 4,1 milhões, sendo que R$ 3,1 milhões seriam provenientes de convênio com a União e, o restante, de contrapartida do município. Ganhou a licitação a carioca Novo Horizonte Jacarepaguá.
A obra começou, de fato, em julho de 2014, ao lado da “Farmácia de Minas”, em uma área de 1.200 m². O projeto estrutural anunciava um moderno complexo de saúde: consultórios, inalação, enfermagem, vacinação, curativos, salas de Eletroencefalograma e Raio-X, acolhimento, sutura e engessamento, aplicação de medicações, consultório odontológico e de lavagem e descontaminação. Havia a promessa de um “alívio” ao Pronto-Socorro Municipal de Itabira, que concentra os casos de urgência e emergência na cidade.
O prazo de execução da obra era de 120 dias, mas, a estrutura só ficou pronta em 2016. Em meio à crise econômica, a unidade ficou à mercê do abandono. A Prefeitura calcula um custo mensal de, aproximadamente, R$ 2 milhões para equipar e operar a UPA.
Na atual gestão, a Secretaria Municipal de Saúde chamou uma arquiteta especializada para verificar se a construção está de acordo com as exigências legais para o funcionamento. A surpresa foi o resultado do relatório técnico: a arquiteta Rosângela Maria dos Santos confirmou o indício de irregularidades na infraestrutura e sua inaptidão para a instalação da UPA, tendo por base referências normativas.
Uma comissão do Conselho Municipal de Saúde também visitou o espaço e concluiu que ele não oferece condições de abrigar um serviço de saúde.
Agora, o governo Ronaldo Magalhães (PTB) tenta uma alternativa para que o município não tenha que devolver o dinheiro que foi aplicado na obra. O caso é tratado com o Ministério da Saúde.
Câmara
André Viana defende uma “elucidação” sobre todo o processo que norteou a obra, e, além disso, o que será feito com a estrutura erguida. “O que será feito com esta obra? Qual foi a empresa que construiu aquela UPA? Por que os erros não foram denunciados? Essa empresa tem que devolver ou não o dinheiro para o município?”, questiona o presidente da CPI.
O presidente da Câmara, Neidson Dias Freitas (PP) entende que a investigação é “extremamente relevante”, já que se trata de uma edificação construída com dinheiro público. “Isso é algo que já deveria ter sido previsto no passado, porque muito mais caro que construir uma UPA é mantê-la. Um investimento deste porte não pode ser feito sem que haja o devido planejamento de onde viria o recurso para a manutenção dessa UPA”, opinou.
Para o líder do governo na Câmara, Carlim “Sacolão” Filho (Podemos) a edificação foi algo “positivo”, mas que, “de certa forma, não foi algo bem planejado”. Segundo ele, manter a UPA em funcionamento hoje seria equivalente a manter mais um pronto-socorro. “A cidade, pela crise que passa, já está tendo dificuldades em manter funcionamentos tanto no Hospital Carlos Chagas, como no Pronto-Socorro. Então, mais uma unidade no momento que a gente se encontra hoje, seria inviável”, acredita o vereador.
DeFato não conseguiu contato com o ex-prefeito Damon Lázaro de Sena, o qual foi procurado por diversas vezes e não atendeu às ligações. Um posicionamento é buscado também junto à empresa Novo Horizonte Jacarepaguá.