Perfil do próximo prefeito de Itabira

Alguém ou todo mundo pode não acreditar no que vou narrar agora. Até ocorrer, o fato era inacreditável, parecia a confirmação de tudo o que vinha e venho escrevendo e publicando. Para defesa dos acontecimentos havia, além de umas 36 pessoas (29 contadas no dedo), um cinegrafista, vários gravadores em ação e nós atentos com dois equipamentos ligados.

Foi, para surpresa nossa, num bairro da periferia itabirana que ocorreu o sarau. Ninguém daria um centavo para os participantes, que trajavam até molambos e assentavam-se, sem receio, no chão, alguns usavam chapéus de palha ou bonés tipo rap. A princípio pareciam gregos no Ágora lá pela Antiguidade, revivendo os costumes da Grécia Antiga. A reunião contava com a presença de atenienses, espartanos e itabiranos. A pauta, a surpresa.

Como fui parar nesse interessante bate-boca não sei explicar. Imagine que fosse Bela Vista, Eldorado, Senhora das Oliveiras. Não vou falar. Contraditoriamente, o rapaz que estava comigo, que pediu para manter-se oculto, chegou atraído por muitos carros estacionados, insistia em ver o que estava rolando por aquelas bandas em dia de folga, um “sabadão” de festas.

Proibida a citação de nomes

O tema era política mesmo, abertamente. Por isso surgiu umas duas, ou três, citações de Nicolau Maquiavel. Só não havia permissão para citar nomes de quem quer que fosse vivo, pré-candidato ou cabo eleitoral. E o filósofo, historiador, poeta e diplomata italiano não vota na terra mineral. Num quadro havia a frase: “Vamos escolher o perfil do próximo prefeito de Itabira”.

Um casal, de um e outro lado dizia nos ouvidos de cada um: “Por favor, pode gravar, mas, não fotografe”. Curioso que todos obedeciam, inclusive nós, que tínhamos celulares em punho. Seguimos as ordens e assinamos a folha de presença.

Perfil de gestores

Um dos moderadores do encontro procurava orientar cada presente com relativa maestria. Insistia sempre com as palavras: “Itabira vive um momento delicado, precisamos nos unir e escolher não um prefeito, mas verdadeiramente o perfil de um dirigente. Só assim não cometeremos erros”.

Depois de várias discussões, chegou-se a este consenso e foram enumerados os perfis, virtudes e/ou defeitos de um futuro candidato. Enumeraram o seguinte: — o próximo prefeito precisa ser de estilo empreendedor, ter a capacidade que uma pessoa identificada com realizações, com característica cabeça voltada para investimentos. Chega de parasitas e tapadores de buracos!

— Segundo ponto: A sinceridade será vigiada com muito rigor. — Terceiro tópico: a coragem precisa entrar em jogo e é a energia moral do pretendente. — Quarto ponto: humildade, não o cinismo, mas a resignação e renúncia. — Quinto item: ponderação, calma, sensatez, paciência. — Sexto: saber ouvir muito e falar pouco (evitar “lives”).

— Sétimo ponto: aceitar sugestões ou montar um trabalho para mais ouvidorias que atendam a voz geral, cortar o demagógico “orçamento participativo” e criar o “governo participativo”.

— Oitavo ponto: nunca permitir discussões de funcionários, comissionados ou não, com autoridades, principalmente vereadores. Reconhecer que quem tem o mandato eletivo é autoridade. Respeito acima de tudo. — Nono ponto: por que não aceitar ideias que a comunidade apresenta ao governo? Chega de ditadura e de populismo! “Que tal uma mulher para prefeita de Itabira?” — era voz de homem de voz aguda e de bom tom.

Chateado com a falsidade e o cinismo, levantou-se uma senhora de meia-idade, boa aparência e leu num papel desbotado que guardava entre os seios: “Todos deveriam renunciar à defesa dos seus interesses individuais, a fim de que prevaleça o interesse público” e citou o autor da ideia, sem errar o sotaque francês: “Jean Jacques Rousseau”.

Futuro obsessivamente

— Décimo item: o que há de mais importante hoje em Itabira chama-se FUTURO. A cidade precisa estar mobilizada noite e dia, madrugada afora, em todos os cantos, em todas as ações, trocando ideias, trabalhando e agindo para se evitar o caos com a iminente exaustão das minas de ferro.

Nota da Redação

Depois de quase três anos de desilusão com o que ocorre por aí, pudemos sair dessa reunião confiantes de que algo novo vai ocorrer em Itabira. Acabarmos com o egocentrismo é uma das metas principais.

José Sana é jornalista, historiador, professor de Letras e ex-vereador em Itabira por dois mandatos, onde reside desde 1966

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