Permanecer e florescer: lições da árvore do Ténéré

Em tempos onde tudo é facilmente descartável e o prazer momentâneo é o que importa, o convite desta reflexão é sobre permanecer!

Permanecer e florescer: lições da árvore do Ténéré
Foto: Reprodução/Earthly Mission
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Uma cena me emocionou esses dias. Uma senhora celebrando as bodas de diamante com o marido acamado há mais de 13 anos, já em estado vegetativo. Coisa rara de se ver. Ela não desistiu diante das dificuldades. Ela permaneceu, corajosamente decidiu ficar. Pude ver beleza e uma alegria genuína ao reunir a família, tirar foto e celebrar aquela aliança inquebrável! Que legado sobre coragem, lealdade e amor!

Essa cena me fez lembrar da história de uma árvore: a árvore do Ténéré. A árvore do Ténéré foi uma acácia memorável, a única sobrevivente de um antigo oásis num raio de mais de 200 km no deserto do Saara. Ela se tornou famosa e um ponto de referência para as caravanas que passavam na região pois era a única árvore no meio do deserto e que, apesar do cenário improvável — clima altamente seco, água escassa e variações térmicas extremas —, exibia uma copa frondosa e folhas verdes e vicejantes.

Sua beleza e exuberância intrigava a todos que passavam por ali: “como ela consegue sobreviver e florescer em um cenário assim?”. E, fazendo uma analogia com a nossa vida, em algumas situações nos deparamos com verdadeiros Ténérés por aí, como a senhora que mencionei no início desse texto. E, ao olhar o cenário e as condições em que vivem, nos perguntamos: “Como é possível sobreviver a isso? Como consegue sorrir e florescer em condições tão desafiadoras?”.

O segredo da árvore do Ténéré eram suas raízes profundas! Em 1939, uma equipe do Exército francês recebeu ordens para escavar um poço próximo ao local. Após nove meses de trabalho, a equipe encontrou uma fonte de água junto às suas raízes há incríveis 35 metros abaixo do solo. Na superfície se via sequidão e morte, mas no subsolo havia um leito de águas que apenas a árvore do Teneré conseguiu acessar. Toda a vegetação ao seu redor sucumbiu ao cenário desafiador, mas a árvore do Ténéré, ao permanecer e esticar suas raízes, não apenas sobreviveu, mas pôde florescer e ofertar sombra para os viajantes no meio do deserto.

Quantas vezes queixamos das condições do solo da nossa vida? Queixamos da nossa família, dos nossos relacionamentos, do trabalho, da igreja, dos vizinhos e da cidade em que vivemos… facilmente concluímos que, se não estamos florescendo, é porque o cenário à nossa volta não contribui para isso. Rejeitamos nossos desertos — seja uma enfermidade, escassez de recursos ou portas fechadas — e dizemos que é impossível florescer em situações tão hostis.

Talvez o solo de que você tanto reclama pode ser o que mais precisa de você. E esse texto é um lembrete de que, em muitas situações, o que precisamos é coragem para permanecer. Esticar nossas raízes até encontrar o leito de águas — o que vai nos nutrir, dar significado e força para florescermos, mesmos nos cenários mais desafiadores da nossa jornada.

Permaneça! Floresça! Seja Tenéré!

Nina Magalhães é mãe de três, Terapeuta Ocupacional, Mestre em Educação e Saúde e certificada como Educadora Parental e Consultora em Encorajamento. Palestrante e escritora, atua em diversos projetos em defesa da infância.

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