PF indicia Vale, Tüv Süd e 13 funcionários por tragédia em Brumadinho
Polícia identificou indícios de falsidade ideológica e uso de documentos falsos; crime ambiental e homicídios serão relatados em outro inquérito
A Polícia Federal (PF) indiciou, na noite desta quinta-feira (19), sete funcionários da mineradora Vale e seis membros da consultora TÜV SÜD pelos crimes de falsidade ideológica e uso de documentos falsos envolvendo a tragédia de Brumadinho. As duas empresas também foram indiciadas. Nenhum dos funcionários da Vale indiciados pertence à cúpula da mineradora.
O rompimento da barragem I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, ocorreu em 25 de janeiro deste ano. Quase oito meses após a tragédia, 21 pessoas continuam desaparecidas e o total de mortos identificados chega a 249.
O relatório também pede medida cautelar contra os indiciados, proibindo os 13 funcionários de prestarem consultorias ou novos trabalhos nessa área. O indiciamento dos funcionários da Vale e da TÜV SÜD resulta da primeira parte das investigações da Polícia Federal sobre o caso, que também é investigado pela Polícia Civil do estado.
A PF ainda deverá fazer novos indiciamentos, mas, no momento, aguarda a conclusão de perícias criminais sobre os crimes ambientais e os de homicídio.
Veja quem são os indiciados da Vale e da Tüv Süd:
Vale
Geotecnia corporativa
– Alexandre Campanha (Gerente-executivo de Governança de Geotecnia Corporativa): foi citado por funcionários da Tüv Süd por fazer pressão para a elaboração de documentos atestando a estabilidade da barragem;
– Marilene Lopes (gerente de Gestão de Estruturas Geotécnicas): participava da Gestão de Riscos Geotécnicos (GRG), sistema responsável por armazenar os dados de barragens, e também mantinha contato com funcionários da Tüv Süd sobre a situação de barragem I. Era subordinada a Alexandre Campanha;
– Felipe Rocha (engenheiro ligado à Gestão de Riscos Geotécnicos): Trabalhava diretamente com Marilene Lopes e foi responsável pela apresentação dos dados do GRG sobre a situação das barragens em mais de um painel realizado pela Vale nos anos de 2017 e 2018;
– Washington Pirete (engenheiro): Participa dos painéis da Vale onde eram discutidas as situações das barragens e também atuava junto às empresas auditoras e contratadas para fazer inspeções nas estruturas;
Geotecnia operacional
– César Grandchamp (geólogo): Experiente funcionário da mineradora, era responsável por assinar pela Vale as Declarações de Condição de Estabilidade da barragem I de Brumadinho;
– Cristina Malheiros (engenheira): Era a responsável pelo monitoramento e inspeção da barragem rompida de Córrego do Feijão e assinava a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) da estrutura;
– Andréa Dornas (engenheira): Trabalhava desde a década de 90 na Vale e também tinha conhecimento sobre a situação da segurança de B1. Manteve conversas com Cristina Malheiros sobre os índices da barragem abaixo dos recomendados internacionalmente.
Tüv South
– Chris-Peter Meier (Diretor de Desenvolvimento de Negócios e gerente de Negócios de Infraestrutura da Tüv Süd, na Alemanha): Teria tido conhecimento da manobra da Tüv Süd no Brasil para a formulação do Fator de Segurança para a barragem I de Córrego do Feijão fora de qualquer padrão adotado mundialmente;
– Makoto Namba (coordenador de projetos): Engenheiro com mais de quarenta anos de experiência, coordenava a equipe da Tüv Süd nos diversos contratos mantidos com a Vale. Makoto ainda assina a Declaração de Condição de Estabilidade (DCE) da barragem I de setembro de 2018;
– André Yassuda (consultor de geotecnia): É quem assina a DCE da barragem em junho de 2018;
– Arsênio Negro Jr. (consultor e dirigente da empresa): Participou ativamente das conversas para a elaboração de um Fator de Segurança de B1 abaixo do recomendado pela própria Vale e pela literatura internacional;
– Marlísio Cecílio (engenheiro geotécnico sênior): Era quem realizava em campo os testes na barragem para a formulação do Fator de Segurança;
– Ana Paula Ruiz Toledo (engenheira geotécnica sênior): Também participava da equipe montada pela Tüv Süd para emitir a DCE da estrutura de Brumadinho.
Veja a resposta da Vale sobre o caso:
Em nota, a Vale informa que tomou conhecimento, nesta sexta-feira (20), dos resultados do primeiro inquérito policial relativo ao rompimento da Barragem I, na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).
A Vale avaliará detalhadamente o inteiro teor do relatório policial antes de qualquer manifestação de mérito, ressaltando apenas que a empresa e seus executivos continuarão contribuindo com as autoridades e responderão às acusações no momento e ambiente oportunos.