Por trás da maquiagem: as redes sociais e os problemas psicológicos que elas podem causar

Entre cliques e likes, diversos transtornos mentais podem ser gerados nos usuários

Por trás da maquiagem: as redes sociais e os problemas psicológicos que elas podem causar
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Você tem o celular em mãos, dá uma bisbilhotada no que acontece em suas redes sociais e o guarda. Trinta segundos depois (ou menos), você pega o celular novamente, dá a mesma bisbilhotada e o guarda. E assim acontece durante todo o dia, mesmo que, na prática, nenhuma daquelas “conferidas” tenha lhe trazido algo de útil.

As redes sociais estão mais do que inseridas na vida do homem moderno. Porém, a exposição exagerada pode trazer sérios problemas a quem as consome. Se, por um lado, tais ferramentas apresentam uma oportunidade de criar novos laços, registrar momentos importantes ou crescer profissionalmente, por outro, podem ajudar a desenvolver alguns transtornos psicológicos, principalmente devido à propagação da vida perfeita que algumas delas oferecem.

Quem ratifica isso é a psicóloga Fernanda Bretas, de 44 anos. Ela explica como a troca de experiências virtual, mesmo que superficial, pode prejudicar a saúde mental de alguns usuários:

“A exposição à rede social pode aumentar sintomas ansiosos e depressivos na medida que as pessoas começam a comparar a sua vida com as dos outros. Sem dúvida, a rede social veio para ficar e ela tem o lado positivo. Porém, temos que nos cuidar para evitar os excessos e fazer essa auto análise para entendermos até que ponto ela está nos fazendo bem ou mal”, afirma Fernanda Bretas.

No entanto, a psicóloga reforça que aquilo que está sendo mostrado em fotos ou vídeos é apenas um recorte da vida real do indivíduo. “A partir desse recorte, algumas pessoas começam a achar que a sua situação é muito ruim, que não conseguem fazer tudo o que o outro faz, sem saber ao certo se a vida do outro é tudo aquilo que ele expôs”.

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Para a psicóloga Fernanda Bretas, se expor às redes sociais ou não é uma escolha de cada um – Foto: Arquivo pessoal

A autoestima

A padronização de determinados tipos estéticos prejudica bastante a autoestima de algumas pessoas. É o caso da estudante Talita Ferreira, de 24 anos. Com contas no Whatsapp e Instagram, ela relata que a quantidade de conteúdos focados na aparência a faz se sentir insatisfeira com o próprio corpo:

“O que mais me incomoda é como todo esse bombardeio de conteúdo faz me sentir. A reprodução constante de padrões estéticos mexe muito com minha autoestima e me deixa extremamente autocrítica em relação à minha aparência. Além disso, me sinto em um ‘espírito de competição’ com pessoas que sequer conheço, que são mais novas que eu e já conquistaram mais profissionalmente. Isso gera muita angústia, ansiedade, desânimo e frustração, e tampa minha visão para coisas bem legais que já conquistei e as experiências boas que já vivi”, relata Talita.

Para tentar diminuir o problema, a estudante desinstala, esporadicamente, o aplicativo. Porém, pouco tempo depois ela já está conectada novamente. “Quando a situação fica bem crítica, eu tento desinstalar o aplicativo por um dia para limpar a mente do bombardeio constante de imagens. Mas, admito que, às vezes, é difícil fazer isso. Já li que as redes sociais funcionam como uma droga no nosso cérebro e acredito, queremos sempre atualizar o feed. Isso me alerta ainda mais para a situação toda e o quanto pode ser nocivo”, comentou a estudante.

Essa dificuldade em abandonar as redes sociais não é incomum. Fernanda Bretas diz que, em alguns casos, a situação pode ser considerada até um vício. “Para alguns já virou um hábito e até um vício (como o da bebida, comida e compras). E mudar um hábito e/ou um vício não é fácil e nem acontece de um dia para o outro”.

O mundo das influencers

Uma atividade que tem gerado muita repercussão atualmente nas redes sociais é a dos “influencers”. Pessoas que, como o próprio nome sugere, possuem um poder de influência sobre determinado grupo de pessoas. É o caso da biomédica itabirana Gabriella Lacerda, que produz conteúdo sobre o universo fitness.

Além de falar sobre dietas e treinos, Gabriella utiliza suas experiências passadas com transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, para tratar sobre estes temas junto a seus seguidores. Contudo, a necessidade por resultados estéticos imediatos gera um ambiente de pressão entre a influencer e os que consomem seu conteúdo, como ela mesma explica.

“Por motivos óbvios, se eu estou falando de um Instagram fitness, obrigatoriamente existia uma pressão com meu corpo. E tem o outro lado que é ainda mais massacrante. Eu sou biomédica esteta. Então, havia essa cobrança pelo físico. Não só por ser influenciadora, mas também por ser biomédica e vender beleza. Então, sim, existia esse tipo de pressão. O seguidor queria ver esse resultado. Até porque, se ele consumia o conteúdo que eu postava, ele esperava de mim um corpo neste padrão”, explica a itabirana.

Além da pressão do seguidor e de patrocinadores, que apostam na imagem dos parceiros para a venda dos seus produtos, existe uma imposição da própria Gabriella sobre si mesma. Ela conta que sentia necessidade de estar conectada com seus “devotos” o tempo todo. “Precisei me afastar das redes sociais porque estava pirando. Quando eu não interagia, não gerava conteúdo, não ligava meu celular para falar com as pessoas, eu me sentia mal. Por quê? Porque sabia que, caso não engajasse, eu estaria cada vez mais distante do meu sonho de ser uma influenciadora de sucesso.

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Por trabalhar com a biomedicina, Gabriella Lacerda convive com a pressão pela beleza constantemente – Foto: Arquivo pessoal

Como escapar?

Para Gabriella, Talita e outras pessoas que possam atravessar o mesmo problema, a psicóloga Fernanda Bretas deixa algumas dicas essenciais para que o uso das redes sociais não seja tão prejudicial.

“Recomendo trocar a comparação (que não leva a lugar algum) pelo espelhamento. Quando encontrar uma pessoa que você admira, se espelhe nela, estude sua trajetória e veja como ela chegou até esse ponto. E a última dica é olhar para sua vida e perceber tudo o que funciona bem nela, trocando o seu foco do negativo para o positivo! Cuidado com a exposição excessiva a informações que não te acrescentarão em nada!”, conclui.