Porque a perda de pontos pode ser decisiva na luta contra o racismo no futebol brasileiro

Medida pode ser adotada a partir de 2023

Porque a perda de pontos pode ser decisiva na luta contra o racismo no futebol brasileiro
Jogadores do Remo fazem gesto antirracista. Foto: Samara Miranda/Remo

O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, apresentou, na última quarta-feira (24), uma proposta que pode impactar diretamente o futebol brasileiro. O mandatário defende a ideia de que, em casos de racismo, os clubes dos criminosos percam pelo menos um ponto. A medida poderia ser adotada já a partir da próxima temporada.

Confesso que nunca fui fã das punições diretas às agremiações. Para mim, elas deveriam sempre ser individuais, já que o clube (na maioria das vezes) não é responsável pelas bobagens ditas por seu torcedor. Mas o fundo do poço me fez rever essa posição.

Campanhas educativas, multas e perda de mando ou capacidade reduzida já se provaram ineficazes. E aí entra o principal impacto direto da perda de pontos, caso seja aprovada pelo Conselho Técnico do Campeonato Brasileiro. Responsabilizar o racista pelo prejuízo esportivo do seu time pode não só deixá-lo mais “atento” às consequências, como também forçar a reação dos demais torcedores. Hoje, considero como o principal problema no que tange o tema a apatia de quem presencia os atos racistas e se cala. Esperar que o racista deixe de ser racista chega a ser utópico, mas é necessário coagi-lo.

É comum, por exemplo, ver outras pessoas denunciando um infrator por arremessar um objeto em campo. O medo de punições mais duras cria um senso de “responsabilidade” nos ocupantes das arquibancadas. Quando o clube é alvo das sanções, todos que torcem por ele se tornam corresponsáveis. Mas, obviamente, não devemos nos limitar a isso. É preciso reforçar campanhas e ações contra o racismo, deixando claro ao criminoso que ele não é bem vindo naquele lugar. A punição individual também não pode ser esquecida, até porque sempre devemos nos lembrar: racismo é considerado crime inafiançável no Brasil. Pelo menos é o que está escrito na constituição.

A boa notícia, no meio disso tudo, é que finalmente parecemos perceber que chegamos no limite. Os casos só aumentam e as pessoas se sentem cada vez menos constrangidas em expor sua burrice. As entidades, como bem fez a CBF (nunca imaginei que escreveria isso algum dia), precisam reagir. Alô, Conmebol! Vai continuar de braços cruzados?

Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.

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