Presidente da Caixa é denunciado por assédio sexual

Ministério Público Federal abriu investigação e Pedro Guimarães pode perder o cargo ainda hoje (29)

Presidente da Caixa é denunciado por assédio sexual
Foto: Dida Sampaio – Estadão Conteúdo

Na tarde dessa terça-feira (28), o site Metrópoles publicou o relato de cinco funcionárias da Caixa Econômica Federal denunciando o presidente do banco, Pedro Guimarães, por assédio sexual. Em seguida, o Ministério Público Federal (MPF) admitiu que já está investigando o caso, que segue sob sigilo.

As mulheres preferiram não se identificar, mas falaram com equipes de reportagens sobre o comportamento de Pedro Guimarães. Uma delas afirma que certas posturas aconteceram em mais de uma ocasião. Um dos casos que ela contou se passou após um jantar promovido por ele, com direito a vinho para os empregados convidados.

“Não me senti confortável, mas, ao mesmo tempo, não me senti na condição de me negar a aceitar uma taça de vinho. E, depois disso, ele pediu que eu levasse até o quarto dele, à noite, um carregador de celular. E ele estava com as vestes inadequadas, estava vestido de uma maneira muito informal, de cueca samba canção. Quando cheguei pra entregar, ele deu um passo para trás me convidando para entrar no quarto. Eu me senti muito invadida, muito desrespeitada como mulher e como alguém que estava ali para fazer um trabalho. Já tinha falado que não era apropriado me chamar para ir ao quarto dele tão tarde e ainda me receber daquela forma. Me senti humilhada”, relembra.

De acordo com essa mesma funcionária, às vezes o constrangimento era na frente de outros colegas. “Por exemplo, pedir para abraçar, pegar no pescoço, pegar na cintura, no quadril. Isso acontecia na frente de outras pessoas. E, às vezes, eram ditas coisas ao pé de ouvido e na frente de outras pessoas, mas de forma com elas não ouvissem”, detalha.

Outra denunciante afirma que o presidente da Caixa era muito insistente em suas investidas e fala sobre constrangimentos vividos nos tais jantares pagos por ele.

“Na hora de pagar a conta, me pediu um abraço. Eu fiquei muito sem graça. A gente já sabe da fama, então eu me reservei o máximo possível. Na terceira vez que ele insistiu e me fez abraçá-lo, passou a mão na minha bunda”, conta.

A mulher também fala sobre outras situações em que se sentiu invadida pelas atitudes de Pedro Guimarães. “Ele, toda vez que vai tirar foto, pega na cintura da gente com uma intimidade que não existe. E isso nos deixa muito constrangida. É muito sem graça. Eu me sinto meio violentada mesmo, quando ele tem esse tipo de atitudes, sabe?”.

Algumas das mulheres que formalizaram as reclamações no Ministério Público dizem que simplesmente desistiram de usar o canal de denúncias oferecido pela Caixa. Elas afirmam que souberam de outros casos que não teriam sido levados adiante e contam que as vítimas até sofreram retaliações.

Casos acobertados

De acordo com notícias divulgadas na manhã desta quarta-feira (29), o comando da Caixa Econômica Federal sabia dos casos de assédio e acobertou denúncias. Quem falou a respeito foram três ex-integrantes dos conselhos de Administração e Fiscal da instituição.

De acordo com essas testemunhas, que também escolheram manter sigilo sobre sua identidade, as primeiras denúncias datam de 2019, quando Pedro Guimarães assumiu a presidência. Os ex-conselheiros detalham que as mulheres vítimas do assédio, que aceitavam não levar adiante as denúncias, foram transferidas, receberam cargos em outras instituições públicas ou ficavam temporadas no exterior, em cursos.

Eles ainda acrescentam que os funcionários, diretores e conselheiros que ajudavam Guimarães a acobertar os casos e abafar as denúncias chegaram a receber promoções. Há ainda o relato de executivos da instituição que deixaram o banco porque não aguentaram o ambiente de assédio, que também era moral.

Um ex-dirigente conta que, em reuniões do conselho e da diretoria, Guimarães gritava com auxiliares e xingava subordinados, inclusive com palavrões. As áreas de “compliance” e a ouvidoria eram pressionados pelo próprio presidente do banco, segundo outro relato.

Saída ou demissão?

A revelação das funcionárias colocou em cheque a permanência de Pedro Guimarães no cargo. Até o momento, nem o ainda presidente da Caixa, e nem o presidente da República, Jair Bolsonaro, fizerem pronunciamentos oficiais sobre o caso. Há uma expectativa de que Guimarães peça exoneração antes de ser mandado embora.

Na manhã desta quarta (29), ele participou de um evento, a portas fechadas, em que anunciou estratégias para o Ano Safra 2022/2023, na sede da Caixa Cultural em Brasília. Em seu discurso, citou sua esposa que estava na plateia. “Quero agradecer a presença da minha esposa. Acho que de uma maneira muito clara… são quase 20 anos juntos, dois filhos, uma vida inteira pautada pela ética”, disse.

Em seguida, Pedro Guimarães cancelou a coletiva de imprensa que estava prevista para acontecer na frente do prédio e deixou o local.