Presidente do Saae culpa moradores por problemas com fossas sépticas no Boa Esperança

Karina Lobo ainda disse que autarquia visitou local semana passada, mas associação afirma não ter sido procurada

Presidente do Saae culpa moradores por problemas com fossas sépticas no Boa Esperança
A diretora-presidente do Saae, Karina Lobo – Foto: Victor Eduardo/DeFato Online
O conteúdo continua após o anúncio


Há pouco menos de um mês, um episódio do quadro DeFato nos Bairros relatou a situação dos moradores do Boa Esperança. Em 2022, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) instalou na comunidade fossas sépticas, que, poucos dias depois, entupiram e começaram a transbordar pelos terrenos, gerando inúmeros transtornos. Desde então, o problema não foi resolvido.

Questionada pela reportagem da DeFato sobre a situação, durante prestação de contas feita na Câmara de Itabira nesta segunda-feira (18), a diretora-presidente do Saae, Karina Lobo, responsabilizou os moradores pelas falhas. Para entender melhor o caso, clique aqui.

De acordo com ela, as fossas sépticas – cuja instalação contou com o auxílio da empresa Hydrotech Brasil e custou mais de  R$ 1,4 milhão – utilizam o sistema biodigestor. Diferente do emissário de esgoto, este sistema, diz Karina, faz o “processo de conversão do esgoto em uma água que seja adequada para retornar ao rio dentro daquelas próprias instalações, através de bactérias que vão consumir o esgoto que está ali”.

A presidente do Saae também detalhou que o serviço é feito em três etapas, sendo a última a instalação de uma caixa de gordura. E foi aí que os problemas começaram. Isso porque os moradores descartaram produtos de limpeza e outros impróprios a este tipo de fossa séptica, afirma Karina.

“Como falei, são bactérias. Elas não sobrevivem se tiver, por exemplo, produto de limpeza, detergentes. Então faz parte dessa instalação toda uma estrutura além dos biodigestores. E são três etapas: o gradeamento para separar o líquido do sólido, para dar sequência e depois sedimentar e aí sim as bactérias trabalharem. Por isso tem que ter a instalação de uma caixa de gordura. A responsabilidade pela instalação dessa caixa de gordura dentro da casa é do morador, então essa é uma primeira questão que a gente precisa ficar atento. Esses biodigestores não vão funcionar em lugar nenhum se tiver desinfetantes, detergente… você vai atrapalhar esse processo”, ressalta a líder do Saae.

“Muitos deles (equipamentos) foram desinstaladas pelos próprios moradores, porque não queriam a caixa de gordura. Eles falavam ‘ah, deixa a gordura ir para o meu galinheiro que a própria galinha…’. Mas aí não funciona, interfere.

Questionamos se a mesma explicação técnica dada à reportagem foi feita para a população do Boa Esperança. Karina Lobo respondeu que sim, mas pontuou que está distribuindo folhetos informativos, além de uma carta de anuência aos moradores. Tudo isso feito por meio de visitas de profissionais da autarquia e da Hydrotech Brasil.

“Foi dada na hora (a explicação), mas como melhoria do processo a gente também tá [sic] fazendo um folheto e entregando junto com esse termo de responsabilidade. Então se você não quer, a gente não vai entrar, mas vai ficar registrado que você não quer”.

Sem soluções

À reportagem da DeFato, a presidente da associação do Boa Esperança, Jordana Dias, até confirmou a visita, mas pontuou que nenhum integrante do Saae ou da Hydrotech Brasil procurou anteriormente a entidade representante dos moradores. Segundo Jordana, os profissionais sequer sabiam a localização das fossas sépticas, além de não aceitarem a ajuda oferecida por ela.

“Eles estiveram lá, sim, mas não olharam nada e não conversaram nada com os moradores. Porque não marcaram uma reunião avisando ninguém e nem pedindo ninguém para acompanhá-los lá. E no dia que foram lá eu estava em outra reunião e o senhor Francisco (outro membro da associação) também tinha saído. Aí a técnica da empresa falou ‘ah não, hoje não estou podendo andar’. Falei que poderia andar com ela depois do almoço, porque tinha uma reunião com um rapaz de Ipatinga. E até questionei se eles teriam um mapa para saber onde estava cada fossa em cada casa, eles me falaram que não sabiam onde estavam (as fossas), então precisava de alguém da comunidade para andar com eles”, relata.

Jordana Dias também ressalta que, desde então, não houve nenhum retorno sobre uma possível nova visita. “Então falei que poderia andar depois do almoço, aí falaram ‘não, depois do almoço não tenho disponibilidade, estou voltando para Belo Horizonte’. Disse para agendarmos um dia que aí andamos com eles, porque para vir aqui tem que agendar, todo mundo tem compromisso. Mas eles não andaram (pelo bairro) e não identificaram a casa de ninguém não. Ela (técnica da empresa) não voltou até hoje e não deu nenhum retorno para nós e a comunidade”, conclui.

Cobrança e autoritarismo

Outros relatos feitos pelos moradores à DeFato em agosto apontam que as fossas sépticas foram instaladas contra a vontade de alguns deles – com direito a ameaças de aplicação de multas a quem se contrariasse à ideia – e a cobrança pelo serviço de esgoto continua acontecendo, embora ele não esteja sendo executado em algumas casas.

Em relação à primeira denúncia, Karina Lobo negou qualquer tipo de imposição. Por outro lado, a presidente do Saae confirmou que a cobrança continuará acontecendo normalmente.

Entenda o caso

Em tese responsáveis pelo descarte correto e o tratamento adequado do esgoto, as fossas sépticas instaladas no Boa Esperança entupiram e começaram a transbordar pelos terrenos, voltando detritos e esgoto nas redes das casas. Os materiais subiam pelos ralos e vasos sanitários dos banheiros, provocando muito mal cheiro e diversas outras intercorrências à população.

Diante disso, a solução encontrada pelos moradores foi ter que desativar as fossas e voltar a despejar os resíduos domésticos diretamente nos córregos da região, como era feito antes da instalação dos dispositivos.