Ronaldo Silvestre leva brasilidade itabirana para SPFW e desfiles internacionais
À DeFato, estilista detalhou sua última coleção, falou do trabalho com mulheres pelo Instituto ITI e contou seus próximos planos
O estilista Ronaldo Silvestre realizou mais um desfile na São Paulo Fashion Week (SPFW). No último dia dez, o itabirano levou à passarela alguns elementos da identidade brasileira a partir do reaproveitamento de materiais descartados e contou à DeFato mais detalhes da coleção.
O momento representa uma mudança de posicionamento na carreira do estilista. Ronaldo tem buscado fortalecer a identidade da moda no Brasil, resgatando suas origens. Ao mesmo tempo, pensa nas gerações futuras ao fortalecer sua moda sustentável por meio do reaproveitamento de materiais. “A coleção traz muito da minha essência, que não é segredo, eu venho de uma infância muito pobre. Minha mãe desmanchava uniformes usados pra eu e meu irmão termos o que vestir e o que, hoje, se fala muito de sustentabilidade, naquele tempo era sobrevivência”, relembra.
O olhar minimalista da mãe permanece na moda de Ronaldo em sua atenção aos detalhes. Além disso, o artista conta que a coleção atual ficou bastante barroca, com o uso do ouro envelhecido das bijuterias recebidas por doação e as estampas desenvolvidas na própria serigrafia da Fábrica Social em Itabira.
A minha coleção traz um momento especial meu. Eu, enquanto Itabira, enquanto filho da Dona Eurídice, costureiro, estilista, designer, articulador social, escolhi fazer o que eu gosto. E o que eu gosto não necessariamente precisa ser patrocinado para ficar na dependência de escolha de uma coisa, de um tecido, de um material ou compromissos burocráticos que estavam deixando a minha moda feia.
A partir dos tecidos guardados há cerca de 20 anos e doações de peças obsoletas, trouxe as quatro cores da bandeira com fortes pinceladas no amarelo e no laranja. “Vieram centenas de rolos de cordão de amarrar tênis de criança e a gente fez um laboratório, transformamos em macramê, em acessórios e saíram peças fortes dentro de um lado artesanal brasileiro”, conta Ronaldo, que utilizou estampas como chitas.
Instituto ITI
O Instituto ITI é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve projetos socioeconômicos em Itabira. Por meio da Fábrica Social, qualifica mulheres gratuitamente no ofício de costura. Em março deste ano, a Fábrica Social foi a vencedora do prêmio Cidades Empreendedoras.
A transformação pelo terceiro setor não precisa ficar presa só à mineração, à área industrial, a determinadas outras áreas. Itabira também é uma cidade criativa. Itabira também pode não só ditar tendências de moda, como se reinventar através da economia criativa, que envolve a moda, a gastronomia…
Esboços
Para o futuro, Ronaldo delineia participações em importantes circuitos internacionais, sem perder o foco nas origens. O estilista conta que está em negociação para fazer a semana de Nova York ou a de Paris. Além da identidade da coleção, também pensa em convidar DJs de Itabira para presenciarem a música das passarelas.
Além disso, será inaugurada a Padaria Social do ITI em janeiro. O projeto recebeu recursos do Ministério do Trabalho e pretende gerar 30 empregos: “Para que pessoas que não tiveram qualificação ou tiveram uma qualificação básica em panificação e confeitaria possam ter uma experiência de produzir em escala industrial”, explica Ronaldo.