São Sebastião do Rio Preto, uma cidade sem lazer

Aqui jaz um campo de futebol, o Estádio João Rodrigues de Moura


São Sebastião do Rio Preto localiza-se a 58 quilômetros de Itabira, menos de uma hora de viagem e quase totalmente ligada à civilização por asfalto. São 127 km² de área territorial ocupados por 1.700 habitantes. Ainda sem água tratada nem tratamento de esgoto, as 400 residências existentes na sede do município poluem de forma violenta o rio Preto a partir do desembocar de redes de esgoto, produzindo, a partir desse trágico ambiente, doenças que se agravam, principalmente a esquistossomose.
 
Como se não bastassem esses números, a cidade, classificada entre as demais com o Índice de Desenvolvimento Municipal de 0,5120, há quase dois anos perdeu o seu principal palco do lazer, o Estádio João Rodrigues de Moura. Em novembro de 2007, a Pavimax Construções, na abertura de obras de pavimentação para Santo Antônio do Rio Abaixo, destruiu o campo de futebol com a promessa de construir outro. A empresa não deu prosseguimento à obra encomendada pelo governo de Minas Gerais, foi substituída pela Contek Engenharia e aconteceu o que todos jamais desejariam: acabou-se a área de lazer.
 
Muito vagamente, os moradores locais, principalmente os esportistas, dizem que foi elaborado um projeto para a reconstrução do campo. Teria sido entregue à Secretaria de Esportes e Lazer do Governo de Minas Gerais, via deputado Gustavo Valadares (DEM). Além dessa vaga informação, sem detalhes, ninguém mais diz alguma coisa sobre o andamento do pedido de verba necessária à execução da obra.
 
DE CIDADE CULTA AO PARADEIRO ATUAL
 
São Sebastião do Rio Preto parece, hoje, uma cidade sem ânimo. Nos seus tempos de distrito de Conceição do Mato Dentro, mesmo totalmente abandonada pela sede, com as próprias pernas seguia a vida cheia de entusiasmo. Na área cultural, mantinha duas bandas de música, sendo uma delas, conhecida como Banda do Godó, de grande prestígio na região. Grupos folclóricos, como marujos e caboclos, existiam nas várias localidades do distrito, como Cauís, Porto, Banqueta, Lopes, Barra do Rio Preto, Engenho e outras mais.
 
Na vila, também, grupos de teatro, atuavam nas escolas, em noites animadas. As festas religiosas eram o ponto alto de São Sebastião do Rio Preto, quando se destacavam a do Padroeiro, em 20 de janeiro, e as de Nossa Senhora das Vitórias, Divino Espírito Santo e Rosário, em setembro. Há quase duas décadas, os moradores locais, para evitar o difícil deslocamento dos fieis a Conceição do Mato Dentro, onde se realiza anualmente o Jubileu de Bom Jesus do Matozinhos, foi organizado o seu jubileu local, no mês de julho, na vila de Bom Jesus.
 
Outras tentativas ocorrem na busca do retorno à religiosidade antiga e à cultura tradicional. Em maio, realiza-se um animado Encontro de Amigos, representado por uma seresta, quando se reúnem sebastianenses ausentes em busca de entrosamento.
 
O que de pior ocorreu nos últimos tempo, em matéria de destruição, aí está: o centenário campo de futebol, onde se realizaram memoráveis embates esportivos que sacudiam o interesse da região. Pior do que tal ocorrência somente a derrubada da histórica Igreja do Rosário, na década de 1960, pelo então pároco, padre Raul de Melo.
 
ESTÁDIO JOÃO RODRIGUES DE MOURA
 
Dois times de futebol enfeitam as páginas históricas de São Sebastião do Rio Preto: o Íris Futebol Clube e o São Sebastião Futebol Clube, ambos de longa vida, embora existisse um de cada vez. Para fortalecer a existência de pelo menos uma equipe forte, os ausentes, que residiam na capital, organizaram o Folgamba, que cumpria presença certa nas festas locais e agitavam o animado arraial, emancipado em 30 de dezembro de 1962.
 
João Rodrigues de Moura, engenheiro agrônomo, nascido em São Sebastião do Rio Preto (1906) e falecido em Guanhães em 1968, era um entusiasta sebastianense de primeira linha. Apaixonado pelo futebol, comandou, durante muito tempo, a equipe que se tornou, nas décadas de 1950 a 1980, praticamente imbatível em seus domínios.
 
Ao se emancipar o município, as autoridades cuidaram de oficializar o nome do benfeitor João Moura como referência do campo de futebol. Durante muitos anos, mesmo precário (pequeno e desnivelado), foi o centro das atenções da região, persistindo até novembro de 2007. Nessa época, a Pavimax destruiu tudo e, logo a seguir, foi alijada da obra, deixando outros prejuízos aos moradores da cidade.
 
Agora é apenas sonho e esperança praticamente vazia. Poucos dão informações sobre o tema: a cidade voltará a ter o seu campo de futebol? Além do periogo de ter uma mocidade sem opção de lazer, tentada a seguir o caminho das drogas, ainda existe tal problema. A quadra poliesportiva, construída na vila Bom Jesus, não é muito freqüentada e também não está bem cuidada, junta-se a outra, essa em vias de extinção, no centro da cidade, como espaços sem finalidade.
 
Resta um contato com o deputado Gustavo Valadares (DEM), que seria o intermediário na busca de ajuda do governo estadual. Até o momento DeFato não o localizou. Algumas pessoas na cidade dizem que ele recebeu apenas um ofício e não um esboço de projeto técnico. 
 
Restam, também, explicações sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) que a Prefeitura está arrecadando  da empresa Contek Engenharia. DeFato apurou que são cerca de R$ 300 mil por ano, referentes a 5% de incidência. A reportagem apurou, também, a disparidade do ISSQN na região: Passabém — 2%; Santo Antônio do Rio Abaixo — 4% e São Sebastião do Rio Preto — 5%. Por que não aproveitar esses recursos extras, não incluídos em orçamento, para reconstruir o campo de futebol?
 
Registre-se uma tentativa de sacudir a auto-estima dos moradores locais: acordem, sebastianenses! Em 2010 ocorrerão eleições para governador do Estado e a Assembleia Legislativa. É hora, pois, de buscar a recuperação do estádio, que poderia voltar a ser o principal local de encontro da população e fortalecer o turismo de eventos.