Secretaria de Saúde de Itabira recusou sistema de combate à dengue custeado pelo Estado; programa reduziu casos em até 99,2%
Mesmo tendo recebido R$90 mil para implementar o programa, a Secretaria de Saúde de Itabira escolheu não seguir a política dos “Vigidrones”, optando por criar um programa próprio – que ainda segue sem previsão para ser implementado
Recentemente, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) adotou uma nova estratégia para o combate à dengue e outras arboviroses. Com o auxílio de drones, 28 Unidades Regionais de Saúde (URS) do estado estão fazendo o mapeamento e tratamento de locais com acúmulo de água parada, buscando evitar novos criadouros do mosquito Aedes aegypt.
A estratégia, que recebeu o aporte de R$30 milhões do Governo de Minas Gerais, busca promover a redução do número de casos de dengue, zika, chikungunya e febre amarela, além de otimizar o trabalho dos Agentes Comunitários de Endemias (ACE) dos municípios. No entanto, mesmo tendo recebido R$90 mil para implementar o programa, a Secretaria de Saúde de Itabira escolheu não seguir a política dos “Vigidrones”, optando por criar um programa próprio – que ainda segue sem previsão de ser implementado. A informação foi dada pela secretária de Saúde, Fabiana Machado, nesta segunda-feira (7), após o evento Conexão Minas-Saúde Regional.
De acordo com Fabiana Machado, o município escolheu não aderir à ata de contratação que estava sendo oferecida aos municípios, buscando criar seus próprios Documentos de Formalização da Demanda (DFD) e Estudo Técnico Preliminar (ETP) – documentos utilizados no processo de contratação de bens e serviços na gestão pública.
“Foi realmente uma estratégia do município em tomar conta do seu serviço, dos seus dados, de como que isso vai ser monitorado, de como que nós vamos fazer o desenho da nossa rede de saúde e de como nós vamos monitorar os territórios mais necessitados de Itabira”, justificou.
“Itabira é um território muito maior que os outros municípios da microrregião, nenhuma cidade tem o porte de Itabira. Então entendendo que a gente precisaria de um monitoramento muito mais próximo da gente, não por consórcio, a gente resolveu fazer nesse formato”, completou Fabiana. Ainda de acordo com a secretária municipal de Saúde, o processo de implementação do programa ainda depende de alguns trâmites da Prefeitura de Itabira, como a avaliação da pasta de Contratos e análise de procurador jurídico.
Com 99,2%, Microrregião de Itabira obteve a maior redução dos casos de dengue em MG
O sistema de mapeamento e combate à dengue por meio de drones é realizado pela empresa Techdengue, que utiliza os equipamentos para mapear áreas de risco e otimizar as estratégias de prevenção e controle da doença. Através dos drones são mapeadas e fotografadas áreas de difícil acesso, como terrenos, caixas d’água e piscinas descobertas. Após a fase de mapeamento, o equipamento aplica larvicidas diretamente nos focos e criadouros da doença. Todos os dados coletados são analisados por inteligência artificial e apresentados ao município
A microrregião de Itabira (que possui 27 municípios e 25 deles aderiram ao projeto) foi a que primeira a realizar o trabalho de combate às arboviroses por meio de drones e a que obteve o maior índice de redução dos casos em Minas Gerais, com média de 99,2% de queda entre janeiro e fevereiro de 2025, em comparação ao mesmo período do ano passado.
Somente nesta microrregião, foram 2.002 hectares mapeados pela empresa Techdengue, o que corresponde uma área de 1853 campos de futebol. Neste espaço foram identificados 2.950 POI’s (Pontos de Oportunidade e Interesses), onde 2.643 deles foram visitados. No total, 2.360 casos foram solucionados ou tratados pelo programa (gerando uma média de 1,47 pontos por hectare). De acordo com Renato Mafra, representante da empresa, o resultado é um fato histórico: “Agora as vigilâncias epidemiológicas dos municípios sabem onde estão [os focos], qual é o endereço deles e de que tipo são. Se tiverem um pouco de cuidado, vão saber onde [as equipes] precisam voltar”, pontuou.
Ainda de acordo com Renato, para cada real investido no programa “Vigidrone” foram economizados outros R$28 das autoridades públicas no tratamento direto para as pessoas doentes por arboviroses. “Tanto casos leves como casos graves, sem contar os custos indiretos. Porque essa pessoa parada por uma semana custa para a empresa. Se ela não produz, ela não gera riqueza, ela não gera impostos para o Estado novamente”.
Secretaria diz que cidade está com índices de arboviroses extremamente baixos
O primeiro Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (Liraa) de 2025, realizado em janeiro, registrou média de 7,2% de Infestação Predial (IP) em Itabira. O número apontava que, naquele momento, o município estava em alerta para risco de surto de contaminação pelas arboviroses dengue, chikungunya e zika. O Ministério da Saúde classifica o índice de Infestação Predial do mosquito como: inferior a 1% é considerado baixo risco (ideal), de 1 a 3,9% considerado médio risco e superior a 4% é considerado alto risco.
Fabiana Machado foi questionada pela reportagem da DeFato se os números do município eram preocupantes, mas descartou a hipótese e disse que a cidade possui um “baixíssimo número de casos” até o momento. “O LIRAa detecta o índice de infestação, mas não quer dizer sobre um surto ou que as pessoas estejam positivas para a dengue, tanto que os nossos números para a dengue esse ano são extremamente baixos”, disse a secretária.
Até o dia 31 de março, Itabira já havia tido 463 casos notificados, com 16 confirmações de dengue e um teste positivo para chikungunya. Outros nove casos em suspeita seguiam em investigação, ainda sem retorno da Fundação Ezequiel Dias.
Redução dos casos de dengue em Minas Gerais
Os dados apresentados pela Techdengue mostram que 94% à 99% dos municípios tiveram boa execução técnica: cobertura entre 20% e 40% e redução de 94% a 99% dos casos. Além disso, 71% dos municípios que ainda não iniciaram (ou iniciaram tardiamente) tiveram uma queda abaixo da média estadual. Ex: Juiz de Fora, Uberaba e Ituiutaba. Nesses locais, foi observada uma queda abaixo da média estadual, mas compatível com a média nacional (menor ou igual a 71%).
Por fim, a tabela apresentada constatou que a diferença na curva de casos se acentuou a partir do 2º semestre de 2024, após a introdução do Vigidrones, e foi consolidada nos primeiros meses de 2025.
Confira os dados de cada Unidade Regional de Saúde
- Itabira: -99,2%
- São João del-Rei: – 98,9%
- Sete Lagoas: – 97,6%
- Barbacena: – 97,1%
- Varginha: – 96,2%
- Unaí: – 95,8%
- Belo Horizonte: -95,3%
- Coronel Fabriciano: – 94,9%
- Diamantina: – 94,7%
- Divinópolis: – 93,5%
- Januária: – 93,0%
- Manhuaçu: – 92,8%
- Teofilo Otoni: – 91,3%
- Alfenas: – 91,0%
- Patos de Minas: – 90,5%
- Pirapora: – 89,4%
- Governador Valadares: – 89,0%
- Leopoldina: – 89,0%
- Passos: – 86,9%
- Juiz de Fora: – 86,5%
- Montes Claros: – 83,0%
- Pedra Azul: – 82,5%
- Pouso Alegre: – 81,8%
- Uberlândia: – 66,7%
- Ponte Nova: – 57,8%
- Ubá: + 8,8%
- Ituiutaba: + 23,4%
- Uberaba* (maior crescimento de casos; número não disponível na tabela)