Sem informar à Assessoria Técnica Independente, Vale começa a demolir mais casas no Bela Vista
Aos moradores, a Vale entregou uma cartilha que não informava a data de início e encerramento das obras de demolição
A Vale começou a realizar nesta quarta-feira (10), a demolição de imóveis que foram negociados por moradores à mineradora para a empresa dar continuidade às obras de descaracterização das barragens de rejeito do Sistema Pontal. A destruição das casas acontece na rua José Marinho Fernandes, no bairro Bela Vista e levantou uma série de reclamações da população local.
As queixas dão conta do barulho, da poeira, do trânsito de veículos pesados pela região e da ausência de sinalização da via, onde ônibus da Viação Itabira/Transportes Cisne e veículos de moradores continuavam circulando próximo onde as máquinas pesadas demoliram as casas. A Vale informou que haveria placas de sinalização nas áreas e vias próximas, mas não havia nenhum material do tipo instalado na localidade.
Outra queixa ocorreu pela demolição de um muro, que segundo informações não estava previsto de ser derrubado, mas acabou caindo durante a movimentação da máquina. Os destroços da estrutura caíram próximo a um poste, que estava energizado. Segundo a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) não houve nenhuma solicitação de interrupção do fornecimento por parte da Vale, de forma emergencial ou programada na localidade.
Carlos Gonçalves da Silva, morador do bairro Bela Vista, acompanhou toda a ação de derrubada das casas e comentou à DeFato que, no momento em que o muro caiu, ele estava próximo ao local: “Eu vi as trincas do muro começando a aumentar. Foi o tempo que me afastei, o operador da máquina deu uma “conchada” na laje da casa, a parede caiu e derrubou o muro”, disse. A situação deixou o morador assustado, já que, segundo ele, futuramente uma residência vizinha a sua também será demolida pela Vale.
“Eu senti insegurança porque a Vale fala que está tudo sob controle, não tem vibração, não tem ruído, não tem poeira, está tudo sob controle. E a gente vê que não tem nada sob controle, né?! A gente fica inseguro por causa disso. Inclusive, a casa onde moro é “colada” na casa do vizinho de baixo, que vai ser demolida. Como vai ser esse procedimento com a casa ao lado?”
Quem também não foi comunicada de maneira oficial pela Vale foi a Assessoria Técnica Independente da Fundação Israel Pinheiro (ATI/FIP), entidade que está acompanhando todo o processo de descomissionamento do Sistema Pontal e só ficou sabendo das obras de demolição pelos moradores atingidos. “Ficamos sabendo que ela avisou alguns moradores aqui da rua João Júlio de Oliveira Jota, porém não foi todo o bairro. Mais uma vez a Vale falha na sua comunicação e não nos comunica. Ou seja, é um plano omisso e inexistente”, disse Renan Ribeiro, arquiteto da ATI/FIP. Ainda segundo Renan, o departamento jurídico da Assessoria Técnica acompanhou a ação da Vale e elaborou uma tomada de termo extraordinária.
Nenhuma equipe da Superintendência de Transportes e Trânsito (Transita) estava no local para sinalizar as vias próximas, assim como não havia fiscais do Setor de Posturas e da Secretaria de Obras, Transportes e Trânsito (SMOTT). A DeFato procurou a Vale e a Prefeitura de Itabira para saber se a gestão municipal foi comunicada sobre as demolições e aguarda retorno. O espaço segue aberto para futuros posicionamentos.
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Moradores foram avisados por cartilha
Além das reclamações já citadas, os moradores apontaram que a Vale entregou uma cartilha que não informava a data de início e encerramento das obras de demolição. No encarte, a mineradora explicou os motivos da demolição, os “direitos, deveres e compromissos”, além das etapas do processo e o que será feito após a demolição – sem citar uma data inicial para a derrubada das casas.
Ainda segundo o material informativo, o intuito da ação é atuar apenas nas edificações que se encontram no local de implantação da Estrutura de Contenção à Jusante II (ECJ II). “A demolição ocorrerá gradativamente, observando a desocupação dos imóveis negociados, sendo que as ações serão, prioritariamente, executadas através dos acessos em área Vale, evitando tráfego excessivo de caminhões e maquinários nas vias públicas do entorno”, diz parte da cartilha.
De acordo com a Vale, para cada imóvel, serão aproximadamente 5 dias de serviço, dividido em três etapas que não acontecerão, necessariamente, em dias consecutivos a depender do tipo de imóvel. O trabalho será feito entre 9h e 17h, de segunda a sexta-feira. Confira as etapas:
- Avaliação do imóvel e retirada manual de parte dos materiais recicláveis
Nível de ruído: 50 dB (decibéis)
Nível de poeira: 50 PM (material particulado atmosférico)
- Demolição mecanizada com separação de resíduos
Nível de ruído: de 50 a 90 dB (decibéis)
Nível de poeira: de 50 a 90 PM (material particulado atmosférico)
- Retirada do material e limpeza do terreno
Nível de ruído: 50 a 80 dB (decibéis)
Nível de poeira: 50 a 80 PM (material particulado atmosférico)
O que será feito depois da demolição?
Após a derrubada de todos os imóveis, começará a circulação de dois caminhões com capacidade de 14 m³ para o transporte dos entulhos. Segundo a Vale, o trajeto ocorrerá durante a maior parte do tempo em estradas particulares e todos os resíduos recolhidos serão enviados a um Depósito Intermediário, onde o material deverá ser avaliado para posterior separação e reciclagem.
“O caminhão deverá transitar na velocidade máxima de 30km/h, dentro do bairro se necessário. Se houver excesso de carga nas laterais, o caminhão deverá ser escoltado por um batedor na sua frente. O caminhão deverá circular sempre com lona, evitando sujar o caminho. As vias serão molhadas por um caminhão diariamente para minimizar a poeira provocada pelo tráfego de veículos”, informou a Vale na cartilha entregue à população.
Já os terrenos demolidos receberão cercamento de divisas, limpeza e rondas de equipe de segurança patrimonial.
Confira o posicionamento da Vale na íntegra
“A Vale esclarece que foi iniciada, hoje (10/7), a demolição dos imóveis já desocupados, localizados no bairro Bela Vista, próximos ao Sistema Pontal. A comunidade foi informada, entre os dias 8 e 10 de julho, por meio de cartilhas e comunicação porta a porta.
A empresa reforça que a demolição é necessária para a implantação da ECJ 2, que permitirá a execução das obras de descaracterização dos Diques Minervino e Cordão Nova Vista de forma segura para as pessoas e o meio ambiente.
Foi realizada umectação das vias por caminhões-pipa para minimizar a poeira provocada pelo tráfego de veículos e há monitoramento constante de ruído. Não foi necessário realizar a interdição de vias para a execução da atividade e, por isso, não houve a instalação de placas de sinalização.
A demolição está ocorrendo de forma gradativa e as ações estão sendo, prioritariamente, executadas por meio de acessos em área Vale, evitando tráfego excessivo de caminhões e maquinários nas vias públicas próximas, buscando alterar o mínimo possível a dinâmica dos bairros.”