Semana Santa e violência

A cultura da violência é excludente, pois envolve as classes sociais e raciais, criando, assim, estigmas sociais

Semana Santa e violência
Foto: Freepik

A caminhada da Semana Santa faz lembrar a ação violenta que Jesus sofreu ao ser condenado à morte de cruz. Em relação à violência, assim nos fala o Papa Francisco: “Quando se usa violência, nada mais se sabe quando se refere a Deus, que é Pai, nem em relação aos outros, que são irmãos. Esquece-se a razão pela qual se está no mundo e chega-se a realizar absurdas crueldades. Vemos isso na loucura da guerra, onde se torna a crucificar Cristo. Sim, Cristo é pregado na cruz mais uma vez nas mães que choram a morte injusta de maridos e filhos. É crucificado nos refugiados que fogem das bombas com os meninos no braço. É crucificado nos idosos deixados sozinhos a morrer, nos jovens privados de futuro, nos soldados mandados a matar os seus irmãos. Hoje, Cristo está crucificado aí” (Homilia do Domingo de Ramos, de 2022).

Vivemos atualmente uma supremacia da violência, pois, infelizmente, isso está se tornando tão corriqueiro que até parece que as pessoas vão se acostumando e chegam a criar a cultura da violência. Essa cultura é produzida pelos indivíduos os quais também tornam-se vítimas do próprio sistema de violência.

A cultura da violência é excludente, pois envolve as classes sociais e raciais, criando, assim, estigmas sociais como “o povo daquele país não presta”, “aquele rapaz tem cara de bandido”, “aquela mulher merece apanhar”.

A abordagem do tema da violência deve incluir o uso da primeira pessoa, por exemplo: “Eu também sou violento!?” “Quais as violências que prático!?” “Como me sinto depois de um ato violento!?” “Como são elaborados e curados os sentimentos de raiva, ciúmes, indignação e os desejos de vingança?”. Como assumo poderíamos dizer: “Curo as feridas causadas por minhas atitudes agressivas?”.

As estatísticas mostram que grande parte atitudes violentas acontecem no ambiente familiar. A prática do perdão, do arrependimento e da misericórdia são fundamentais para curar as feridas e restabelecer a paz.

A violência apresenta-se com as mais variadas formas: física, psicológica, institucional, sexual, de gênero, doméstica, simbólica, entre outras. Superar as várias faces da violência é tarefa de todos. Por isso, exige o compromisso de cada cristão e de cada cristã no enfrentamento das múltiplas formas de ofensa à dignidade humana que se naturalizam escandalosamente em nossa sociedade.

É assustador ver a violência nas escolas. Um exemplo é o que aconteceu em São Paulo, na Escola Estadual Thomázia Montoro com a morte da professora Elizabeth Tenreiro, assim como mulheres vítimas de feminicídios, espancamentos e assédios. Em Itabira, muitas violências e muitas mortes são publicadas a cada semana. Tudo isso é sintoma de uma sociedade adoecida, mergulhada na violência que a todos ameaça.

Jesus na Cruz é a expressão da violência e ao mesmo tempo da superação da mesma. É expressão da violência quando consideramos que todo o processo de julgamento de Jesus foi corrompido e foram violados os mais básicos princípios do Direito. Ele não teve direito à sua defesa e a sua condenação já estava decidida, antes mesmo do julgamento. É expressão de superação quando pelo Madeiro da Cruz, instrumento de morte, para os condenados, de sua época, torna-se instrumento de salvação. A Cruz é o sinal do triunfo da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio; é sinal da árvore da vida, sinal de esperança; é sinal de fortaleza e encorajamento e, por isso, a Cruz é um estandarte de vitória.

São Paulo, em sua Carta aos Coríntios, nos ensina que a Cruz é “escândalo para os judeus, loucura para os gentios e sabedoria de Deus para com os chamados, escolhidos e eleitos” (1 Cor 1, 23).

Jesus de Nazaré foi condenado à morte, injustamente, por ter sido considerado um risco para a elite social, econômica e política de sua época. Pilatos, aquele que o condenou, lavou suas mãos. Brasileiras e brasileiros são condenados injustamente à morte, não porque sejam uma ameaça, mas simplesmente porque não importam para as elites, que preferem o capital e o lucro acima de tudo.

Finalmente, viveremos a Páscoa, que é a vitória de Cristo. Que nossa Páscoa seja para todos e todas o tempo da superação da violência. Assim, iremos lançando as sementes para que a Cultura da paz prevaleça e que haja esperança em dias melhores para todas as pessoas!

Padre Hideraldo Verissimo Vieira é pároco na Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida – João XXIII – Itabira e licenciado em Filosofia – UFJF, com especialização em Ensino Religioso – PUC Minas.

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