Suspenso neste fim de semana, alteamento de Itabiruçu é cercado de discussões desde que anunciado

O ritmo frenético das obras deu lugar ao vazio na barragem de Itabiruçu, em Itabira. Com a suspensão do alteamento determinada pela Vale nesse sábado (27), o único barulho que se escuta no entorno da estrutura é o da água do vertedouro. Os trabalhadores foram dispensados e as máquinas estão paradas. No local, somente um […]

Suspenso neste fim de semana, alteamento de Itabiruçu é cercado de discussões desde que anunciado
Obras de alteamento foram paralisadas na barragem do Itbairuçu – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato||||
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O ritmo frenético das obras deu lugar ao vazio na barragem de Itabiruçu, em Itabira. Com a suspensão do alteamento determinada pela Vale nesse sábado (27), o único barulho que se escuta no entorno da estrutura é o da água do vertedouro. Os trabalhadores foram dispensados e as máquinas estão paradas. No local, somente um segurança permanece na guarita. 

Cercado de discussões desde que foi anunciado pela Vale, o alteamento de Itabiruçu é tido como vital pela mineradora para continuar suas operações em Itabira. A barragem é responsável por receber as sobras do Complexo de Conceição e atualmente aglomera 130,7 milhões de m³ de rejeito de minério de ferro. A capacidade afirmada pela empresa é de 228 milhões de m³. 

A borda da barragem hoje está em 836 metros acima do nível do mar. Com o alteamento, essa marca subirá para 850 metros, limite estabelecido no projeto da estrutura. O licenciamento foi conquistado pela Vale no fim do ano passado. Segundo defendeu o gerente geral das minas de Itabira, Rodrigo Chaves, em reuniões para debater as obras, a produção de minério na cidade cairia pela metade caso a barragem não tenha sua capacidade aumentada. Seriam 29 milhões de toneladas de minério de ferro não produzidas por ano e 4,1 mil empregos impactados. 

Na parte superior, caminhões parados na barragem – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

Mas o alteamento é alvo de questionamentos por parte de alguns setores da comunidade. A preocupação era grande por causa do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em 2015, e se acentuou com a nova tragédia da mineração, dessa vez em Brumadinho, em janeiro deste ano. Em reunião pública sobre o alteamento em junho do ano passado, a segurança foi o item mais questionado pelos participantes. 

“Não haverá alteração do nível de risco da estrutura”, garantiu o engenheiro Túlio Praes, especialista em licenciamento ambiental da Vale, durante a reunião pública. Segundo ele, a empresa utiliza os recursos mais modernos para garantir a segurança da barragem.

Apesar das declarações com garantias de segurança, até mesmo a Igreja Católica se posicionou contra a obra. A Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano fez circular um abaixo-assinado para paralisar o processo de alteamento de Itabiruçu. Foram mais de 5 mil assinaturas recolhidas, a maioria durante a Romaria das Águas e da Terra, que teve forte discurso contra a Vale em Itabira. 

No início deste mês, em audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), representantes do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região manifestaram preocupação e pediram a paralisação do alteamento em Itabiruçu. 

Máquinas estão paradas na barragem do Itabiruçu – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

Obras paralisadas

A Vale suspendeu nesse sábado (27) as obras de alteamento da barragem do Itabiruçu, depois que um projetista identificou “alterações decorrentes de assentamentos diferenciais no terreno”. A empresa afirma que esse efeito é “passível de acontecer durante esse tipo de obra”. 

Os órgãos competentes foram avisados e, de acordo com a mineradora, “estudos mais aprofundados estão sendo conduzidos e, em caso de necessidade, medidas corretivas serão tomadas”. 

A Vale afirma que a paralisação das obras é preventiva e que não há qualquer alteração nos índices de segurança da barragem, construída pelo método a jusante. Não foi informado se há um prazo para retomada do alteamento.