Todas as obras e ações governamentais são eleitoreiras
Leia o novo texto do jornalista e colunista da DeFato Online, Fernando Silva
A eleição é o oxigênio do político. É o momento da verdade. Nenhum ocupante de cargo eletivo escapa dessa periódica avaliação de desempenho. O voto também é ferramenta imprescindível para o povo, num estado democrático de direito.
O sufrágio universal é elemento basilar da democracia participativa. Esse regime político possibilita a interação indireta do povo no poder Legislativo. Pelo menos conceitualmente o sistema funciona assim. Na prática, nem tanto. O Processo de votação, portanto, é reconhecimento ou defenestração.
Na antiga Atenas, os cidadãos se envolviam pessoalmente nas decisões da administração pública. Esse processo tinha um facilitador: o número de habitantes das cidades era relativamente pequeno. Quase todos os atenienses compareciam a essas reuniões deliberativas, na Ágora – a praça onde se resolviam as demandas gerenciais da pólis (a cidade-estado).
Mas, atenção. A democracia grega não era universal, pelo contrário. Nem todos os segmentos da sociedade tinham acesso a esse conselho estatal. Os seguintes atores eram alijados do sistema: mulheres (sempre elas), homens menores de 18 anos, escravos e estrangeiros, obviamente.
Vale ressaltar aqui uma realidade fundamental: ninguém era obrigado a envolver-se nessas assembleias da Grécia antiga. Comparecia quem bem entendesse. Uma minoria, porém, não tinha interesse nos assuntos da coletividade. Alguns gregos- e isso era muito raro- não apreciavam a política, apesar de Aristóteles. O discípulo de Platão tinha uma denominação muito peculiar para esses omissos: “idions” ou idiotas (os apolíticos de nosso tempo).
A aversão ao exercício do bem comum (a atividade política) contradiz a clássica reflexão de Aristóteles: o homem é um animal naturalmente político ou zoom politicon. Com razão. Faz-se a política em todas as atividades humanas (até imperceptivelmente) – desde complexa negociação comercial até simples paquera. O flerte é a mais pura política. Afinal, só estamos aqui porque o pai – em determinada ocasião – cortejou a mãe. Essa é a mais sublime atitude política.
Enfim, aqui, e agora, a balela das balelas. É muito comum ouvir essa recorrente ladainha, em finais de mandatos: “esse prefeito (ou governador) só está fazendo essa obra porque estamos no período eleitoral”, alardeia o senso comum com estardalhaço. É um ponto de vista meio besta. Qualquer gestor público – quando estabelece uma ação em benefício da comunidade – aposta no reconhecimento das urnas.
A distinção meritória só acontece por meio de um pleito. Assim, o comportamento (povo x políticos) tem um quê de cumplicidade. Um (o político) divulga impactantes realizações para provocar o encantamento da população. O outro (o povo) sinaliza com votos a granel como premiação pelo bom trabalho do administrador da “coisa pública”.
Assim, uma obra de governo – no primeiro ano ou nos derradeiros meses do mandato – tem objetivo comum: a conquista da empatia do eleitorado. A obtenção de uma votação – com percentual suficiente para garantir a vitória – é indicativo de satisfação popular. A escassez de votos é repúdio ou simbólica seta indicativa do rumo do ostracismo. Anote aí: a primeira e mais correta atitude de um chefe do Executivo – logo depois da posse – seria a imediata implementação de políticas públicas. Afinal, a aprovação da sociedade é um tesouro a ser conquistado, desde sempre.
PS: E assim ensinava Platão: “O preço que os homens de bem pagam pela indiferença aos assuntos políticos é ser governado pelos maus”.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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