Tráfico usa diversas rotas para distribuir droga em Minas
Da América do Sul para os aglomerados mineiros. A droga distribuída em Minas, que pode se tornar alvo de traficantes cariocas, tem duas portas principais de entrada: Triângulo Mineiro e Sul do estado. Pelas BRs 050 e 381, a droga é distribuída para o interior e para a capital. Mas os entorpecentes que são apreendidos […]
A droga primeiro é transportada para estados que fazem fronteira com outros países sul-americanos. A cocaína e sua pasta-base – matéria-prima também do crack –, originárias da Bolívia, são injetadas no Brasil através do Mato Grosso do Sul e seguem por terra até a divisa entre os dois estados, no pontal do Triângulo Mineiro, pela chamada “Rota Caipira”. Já a maconha é proveniente do Paraguai, podendo entrar no país tanto pelo Mato Grosso do Sul, seguindo o mesmo trajeto da cocaína, quanto pelo Paraná, via Foz do Iguaçu. De lá, segue para o interior paulista e entra em Minas pelo Sul do estado.
A produção das chamadas drogas sintéticas (LSD e ecstasy) se dá basicamente na Europa e na Ásia e sua entrada ocorre por voos internacionais. Há cerca de três anos, as companhias aéreas criaram conexões diretas entre cidades europeias, como Lisboa, e Minas. Com isso, a droga, que antes obrigatoriamente passava por Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo – cidades com voos diretos da Europa –, passou a ter nova conexão. Mas, segundo a Polícia Federal, o cerco foi fechado: este ano, todas apreensões de drogas sintéticas e haxixe feitas em Minas tinham como origem São Paulo. Segundo o chefe da Delegacia de Repressão de Entorpecentes da Polícia Federal, João Geraldo, não foi registrado nenhum caso direto BH–Europa neste ano.
Os micropontos de LSD são importados da Índia e da Tailândia e o ecstasy é originário de Holanda e Inglaterra, entrando pelos aeroportos paulistas e sendo distribuídos para Minas, por meio da rodovia Fernão Dias (BR-381), e para outros estados. “O objetivo é prender o fornecedor”, explica o delegado. “Para isso, deixamos a droga ‘caminhar’, para prender emissário e comprador.”
Na Europa, o microponto de LSD custa entre 2 e 3 euros (entre R$ 5 e R$ 6), enquanto o grama da cocaína pode chegar a 70 euros (mais de R$ 150). Já no Brasil, dada a proximidade com os principais produtores da droga no mundo – Bolívia e Colômbia –, ocorre o inverso. A cocaína é comercializada a R$ 10/grama, enquanto o LSD pode custar até cinco vezes mais – R$ 50 cada microponto. Um atrativo para quem se arrisca a tentar embarcar e cruzar o Atlântico com pó para voltar com o entorpecente sintético.
Mas a ousadia dos traficantes extrapola as rotas já previsíveis. Em julho, a PM apreendeu, em Ibiraci, Sul do estado, um avião monomotor usado no transporte de drogas do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul para Minas. Usando a pista de pouso de uma usina desativada, os traficantes escapavam da fiscalização das rodovias, principalmente nos estados de origem da droga, onde a Polícia Rodoviária Federal mantém ação mais rígida. Desde o início do ano, das cerca de 65 toneladas de maconha apreendidas pela PRF no país, quase 51 toneladas foram localizadas em rodovias do Paraná e do Mato Grosso do Sul, o equivalente a mais de três quartos do total.