“Não há crise em Itabira. O que existe é ajuste entre receita e despesa da prefeitura”, diz Marco Lage sobre contingenciamento

No dia 30 de maio, a Prefeitura de Itabira publicou um decreto prevendo medidas de austeridade para conter a queda de arrecadação do município para 2025, puxada principalmente por uma baixa na Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) e no ICMS. Entre as iniciativas previstas estão o corte de despesas com pessoal, o bloqueio de […]

No dia 30 de maio, a Prefeitura de Itabira publicou um decreto prevendo medidas de austeridade para conter a queda de arrecadação do município para 2025, puxada principalmente por uma baixa na Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) e no ICMS. Entre as iniciativas previstas estão o corte de despesas com pessoal, o bloqueio de novas obras com recursos próprios e revisão de convênios e contratos vigentes, dentre outras ações. Ao todo, cada uma das secretarias municipais, assim como a Empresa de Desenvolvimento de Itabira (Itaurb), Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) e Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), terão que enxugar seus orçamentos em 30%.

De acordo com as secretarias de Planejamento (SEPLAN) e de Fazenda (SEFAZ), a meta de receita para este ano, prevista para R$1,3 bilhão, não será atingida. Principalmente porque há expectativa de queda de até 30% nas receitas com a CFEM e o ICMS, os principais tributos recebidos pela prefeitura.

No caso da arrecadação do ICMS, a previsão inicial era de uma arrecadação de R$ 296,1 milhões. Porém, não deve ultrapassar 0s R$ 228,2 milhões — um recuo de 23%. Já a CFEM, deve cair de R$ 207,5 milhões para R$ 124,2 milhões ao longo do ano — uma queda de 40%.

Em uma entrevista exclusiva ao portal DeFato Online, o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) explica o momento econômico vivido por Itabira e as medidas de contingenciamento que vêm sendo adotadas pela administração municipal. Confira a seguir (e assista no final da matéria):

DeFato: No dia 30 de maio, a prefeitura publicou um decreto prevendo medidas de austeridade diante do cenário econômico que Itabira vive. Dentro disso, gostaria que o senhor falasse para a gente qual a origem dessa crise financeira e, na sua avaliação, qual o fator que provocou esse período de contingenciamento aqui no município.

Marco Antônio Lage: Várias prefeituras do Brasil estão fazendo contingenciamento de gastos; o governo federal está fazendo contingenciamento de gastos; o governo estadual, do [Romeu] Zema [Novo] está fazendo contingenciamento de gastos. Várias prefeituras grandes e médias, como a de Contagem, tem feito isso. Vários municípios mineradores estão sofrendo consequências com relação ao preço do minério no mercado internacional. Então, a queda só com relação a CFEM, nos municípios [mineradores] de maneira geral, é entre 14% e 20% neste ano. Em Itabira não é diferente.

Em Itabira, a revisão do orçamento é necessária porque, além dos valores da CFEM, nós temos outros impactos, como a redução agora, nesses primeiros meses do ano, da produção de minério na cidade, em função do fechamento da Mina Cauê, em função das chuvas que reduzem os volumes de produção neste período de ano. Então, aqui a queda de CFEM projetada para este ano é em torno de 40%.

Somado às reduções de ICMS das outras fontes de recursos de renda do município, nós estamos projetando uma queda, uma diferença de receita de 2025 com relação a 2024 de pouco mais de 20%, o que dá R$ 186 milhões a menos no orçamento de 2025 com relação a 2024, com relação ao que foi projetado na LOA, na Lei Orçamentária Anual para 2025.

Então, o que a gente tem que fazer como bom gestor? Nós temos que fazer adequações orçamentárias. É isso que nós estamos fazendo neste momento. Nós havíamos feito uma previsão [de queda no orçamento para este ano] depois de setembro e outubro, após a LOA ter sido encaminhada e aprovada na Câmara [de Vereadores]. Desde o início do ano, nós estamos trabalhando com os secretários, com a nossa estrutura de gestão pública para fazer a readequação do orçamento. Em janeiro, nós fizemos um workshop, uma reunião com 60 lideranças da prefeitura para melhorar a eficiência, para encontrar as áreas que poderíamos reduzir custos, cortar desperdício e cortar excessos.

Mas, agora, com a confirmação de uma queda deste orçamento, nós estamos promovendo medidas mais rigorosas, mais austeras para que possamos terminar o ano sem grandes consequências para a sociedade de maneira geral, mas, principalmente, fazendo a gestão correta do recurso público sem gastar mais do que a gente arrecada. Este é o princípio básico da boa gestão, seja na iniciativa privada, seja na gestão pública, não se pode gastar mais do que se ganha, do que é arrecado, seja na casa da gente, na vida pessoal. Então, esses são os princípios básicos que nós estamos aplicando em no nosso município.

DeFato: Em relação ao funcionalismo público, sabemos que o servidor efetivo está resguardado pela estabilidade. Porém, em relação aos servidores comissionados, há possibilidade de corte no número de cargos na prefeitura?

Marco Antônio Lage: Há também. Na verdade, a readequação é 360º. Claro, naturalmente, o que nós estamos priorizando e protegendo são as políticas públicas sociais. Isso é prioritário: educação, saúde, assistência social, esporte, saneamento básico e obras, de uma maneira geral, que já estão encaminhadas, elas vão continuar. O que a gente está readequando é cortar excessos. E quando você diminui o tamanho do seu investimento, dos seus recursos, naturalmente você diminui também a estrutura para poder operar.

Quanto mais dinheiro tem, mais estrutura você precisa ter para poder desenvolver e fazer gestão dos projetos, de uma maneira geral. Como você vai ter menos projetos, como você está encolhendo um pouco orçamento, é natural também que a força de trabalho, a mão de obra para tocar todos os projetos tenha uma menor necessidade. E tem que cortar aí também, de forma técnica, de forma correta, mas todas as áreas, 100% das áreas, precisam ter um compromisso com a maior austeridade e com a contribuição dos cortes necessários para a gente fazer e fechar o ano dentro da responsabilidade fiscal.

DeFato: Existe uma previsão de quantos cargos comissionados podem ser cortados ou isso ainda não está definido?

Marco Antônio Lage: A orientação é fazer um corte de 30% geral do orçamento, de todas as estruturas da prefeitura, o que inclui também o corte de cargos comissionados, terceirizados, de frota.

Em um momento que a gente está em plena atividade, na efervescência de operação dentro da prefeitura, como nós tivemos nos últimos quatro anos, no primeiro mandato, você oferece, naturalmente, as melhores condições de trabalho, sobretudo o trabalho interno, o trabalho da gestão pública. Em um momentos que precisamos enxugar [o orçamento], nós temos que fazer mais sacrifício, cortar frota, criar soluções de logística, cortar cargos, para que a gente não possa comprometer quem mais precisa na ponta. Então a premissa principal é essa.

Vale a pena fazer um sacrifício interno, cortar cargos, por exemplo, eu sei que é duro para muita gente que precisa de trabalhar, mas, ao mesmo tempo, nós vamos estar priorizando na ponta quem mais precisa. Educação, saúde, assistência social, saneamento, ou seja, aquilo que a população mais demanda do serviço público, e que precisa de qualidade do serviço público para sobreviver bem. Isso nós vamos manter dentro dessa lógica de quais são as prioridades da prefeitura neste momento.

DeFato: Em relação ao servidor efetivo, devido a essa queda de receita, há o risco de ter atraso no pagamento de salário e de outros benefícios?

Marco Antônio Lage: Não tem risco nenhum de atrasar salário. É importante frisar que nós estamos num processo de readequação de orçamento para que a prefeitura rode bem. A prefeitura vai rodar mal, vai haver caos, se não tiver gestão. Então, nós estamos tomando cuidado, fazendo todas as projeções, todos os saldos, todos os cortes necessários — e que são necessários na época de crise — para não comprometer o básico.

Atrasar salário, atrasar pagamento de fornecedores, isso é resultado de má gestão. Então, nós estamos fazendo a boa gestão para não comprometer quem trabalha principalmente e para não comprometer quem está na ponta e que precise do serviço da prefeitura.

Nós não vamos comprometer a merenda escolar, nós não vamos comprometer o trabalho que sai da educação, os investimentos em educação, os investimentos em saúde, nós não vamos cortar médicos, nós não vamos cortar medicamentos, nada disso vai estar comprometido. Isso é prioridade do nosso governo e continuará sendo.

O que nós estamos cortando são excessos. Eu sempre digo que crise, isso em qualquer lugar, às vezes é oportunidade para que a gente melhore a nossa gestão dos recursos. É o que a gente está fazendo neste momento.

DeFato: Vivemos um momento em que se fala muito da exaustão mineral no município. E, neste momento, temos essa queda de receita impulsionada pela CFEM e o ICMS, que são ligados à arrecadação com a mineração. Isso serve como um alerta dessa necessidade para a diversificação econômica e o desenvolvimento  econômico do município?

Marco Antônio Lage: Todo município, todo território, toda cidade que depende de uma única fonte de renda, como é o caso do Itabira, que depende da mineração, que depende de uma única empresa e de sua cadeia produtiva e de fornecedores, toda vez que esse setor sofre algum tipo de crise, ele respinga e impacta fortemente na cidade. Esse é o risco da mono economia.

Então, quando a gente fala em diversificação econômica para Itabira, muita gente me fala que não precisa correr tanto por essa diversificação econômica, que o minério não vai acabar assim. Outros momentos já propagaram o fim do minério e não aconteceu: em 2025, depois em 2031 e, agora, em 2041. Dizem que aqui vai ter muitos anos mais de minério. Tomara, pode ser que tenha, mas isso não significa que nós temos que cruzar o braço e não trabalhar pela diversificação econômica.

Itabira tem que diversificar sua economia, nós temos que carregar nossos ovos em cestas diferentes, porque se tiver exaustão mineral, nós vamos estar preparados. Se não tiver, nós vamos estar mais preparados, nós vamos estar mais protegidos para situações de crise do minério, porque aí, quando tiver uma crise, não impacta tanto.

Uma cidade do Mato Grosso, que vive em função da soja, se tiver uma crise climática, por exemplo, uma praga que comprometa a safra, ou se a queda da cotação da soja no mercado internacional cai, essa cidade sofre o que Itabira sofre hoje. Pois depende de uma única produção, de um único setor da economia e qualquer crise que abate sobre aquele setor vai impactar aquela economia do município. Itabira é a mesma coisa. Qualquer situação que acontecer com o mercado de minério no mundo vai impactar sobre a economia de Itabira e nós estamos sujeitos a crises também.

É por isso que nós temos que lutar permanentemente pela diversificação econômica em Itabira, independente se vai ter mais prazo ou se não vai ter mais prazo.

DeFato: Falando nessa questão da diversificação econômica, eu queria que você citasse para a gente alguns projetos que a prefeitura está introduzindo justamente visando essa diversificação econômica e, consequentemente, fortalecendo a economia até para que não precise passar por situações como essa de fazer um contingenciamento devido a uma situação que envolve o setor mineral.

Marco Antônio Lage: Nós estamos com o programa Itabira Sustentável que é o melhor programa de investimentos, de projeção de diversificação econômica que já existiu no Brasil e que tem relacionamento entre empresa mineradora, comunidade e prefeitura. É o melhor programa, já completamente estruturado com a ajuda de uma consultoria internacional, há três anos. É uma coisa muito profissional e que projeta 61 investimentos diferentes, 61 projetos para diversificação econômica em Itabira, estruturantes para a cidade.

Alguns já foram feitos, como a Faculdade de Medicina [da Funcesi], que vai receber agora investimentos da Vale para conclusão dos seus laboratórios, o que vai transformar a Escola de Medicina em uma das melhores do Brasil, principalmente pelos investimentos nesses laboratórios.

Temos projetos, por exemplo, como a usina de tratamento de resíduos que já está sendo licitado agora, o que é fundamental e moderniza muito o nosso tratamento de resíduos na cidade.

Nós temos a rodovia [MG-434], a duplicação dessa rodovia que liga a BR-381 até Itabira. Desde o início do meu primeiro mandato, em 2021, estamos conversando com o governo do Estado. Felizmente, tive uma reunião há duas semanas com o governo do Estado, que  já está programando uma consulta pública, [para acontecer] até setembro, para que possamos criar a concessão e fazer o projeto a partir do ano que vem, o que é fundamental para Itabira. Essa duplicação nos coloca próximos da Região Metropolitana de Belo Horizonte e isso é um investimento estratégico.

Nós tivemos o tema da água, do rio Tanque, que não está no Itabira Sustentável porque isso vem sendo discutido através de um termo de ajustamento de conduta (TAC) junto ao Ministério Público, mas que também é um projeto estratégico e fundamental para que Itabira se desenvolva, além de trazer de volta a água potável para as torneiras de todos os itabiranos — que aí é questão humanitária, social. Mas também é fundamental para o projeto de diversificação econômica: a água é pré-requisito, não se pode falar em nenhum projeto de diversificação econômica sem água em abundância, sem oferta de água para essas empresas que virão e, consequentemente, no rastro disso tem um novo distrito industrial. O projeto já está sendo concluído para ser montado na Fazenda Palestina. Será um distrito moderno, um “ecodistrito” com conceitos mais modernos.

Já o investimento em turismo, o “master plan”, o plano macro, vamos dizer assim, do turismo para Itabira também já está sendo desenhado para que nesse segundo mandato a gente avance fortemente nessa indústria do turismo, seja no turismo de Itabira seja na zona rural, Carmo, Ipoema, Ribeirão São José…

Então tem muitas novidades, muitos investimentos nessas vertentes econômicas e outras vertentes para diversificação econômica projetadas mais à frente um pouco: um hub logístico, um polo logístico em Itabira para aproveitar melhor a [Estrada de Ferro] Vitória a Minas, um projeto que depende da Vale, inclusive no projeto da duplicação da rodovia, para tornar Itabira esse corredor até a Região Metropolitana de Belo Horizonte, o que vai permitir que no futuro a nossa indústria e da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Contagem, Betim, Santa Luzia, de toda aquela região, possa exportar seus produtos a partir de Itabira, a partir da ferrovia e a partir dos portos de Vitória.

Tem o polo médico também em que estamos avançando, já para ser constituído como um macro polo de saúde, de atendimento SUS, o que vai elevar Itabira a uma condição de assistência sanitária para quase um milhão de pessoas, o que a gente chama de turismo médico. E essa estrada [MG-434] também é importante para isso porque nós vamos receber pacientes de Caeté, que em vez de ir para o Belo Horizonte eles vão ser assistidos pela estrutura médica de Itabira. Isso vai requerer investimento na cidade, mais emprego, mais treinamento, mais especialização na área de Saúde.

Constituir esse polo de saúde na nossa cidade também vai promover e vai estimular a iniciativa privada a investir nos laboratórios, nos equipamentos, nos centros de saúde particular, mas também se tornando um centro que presta serviço para o SUS.

O polo universitário também está em andamento, avançando com a Unifei que agora vai ter uma sequência diferente do que teve nos últimos 16 anos. Não só a repactuação que já foi feita com a Vale para terminar as obras [de três novos prédios] no próximo um ano e meio, mas também o trabalho de pesquisa e desenvolvimento. A Unifei vai passar a fazer pesquisa, por exemplo, na área de aproveitamento da mineração circular, aproveitamento o rejeito de minério para a indústria de construção. Nós estamos trazendo Itabira para a Unifei efetivamente, já que depois de 16 anos a Unifei não deu o resultado conforme foi pensado nos primórdios, mas nós começamos agora a vislumbrar a Unifei com resultado prático e concreto.

No agronegócio já duplicamos a agricultura familiar, mas a fronteira produtiva da agricultura em Itabira pode e deve crescer muito mais. Nós estamos estudando um centro tecnológico para a agricultura familiar, um centro de inovação e uma produção mais em larga escala de alguns produtos como mandioca e banana, que já avançou bastante nos últimos anos.

São vertentes econômicas que vão nos dar uma visão em curto prazo muito melhor e, em dez anos, Itabira já vai poder depender muito menos do minério, da mineração e da Vale para que não aconteça o que acontece agora, que tem uma crise internacional. O preço do minério já foi a 130 dólares a toneladas e está em 90, no máximo 100 dólares, já caiu em mais de 30% o preço da tonelada de minério no mercado internacional e isso impacta a nossa receita porque a gente vive ainda em função de uma economia única, que é o minério de ferro.

DeFato: Pensando na economia local, desde que surgiu esse assunto do contingenciamento tem causado algum receio na população. E, como o senhor disse, pode impactar alguns funcionários públicos [os comissionados], pode impactar prestadores de serviço da prefeitura e isso também pode fazer com que a população deixe de comprar no comércio local com o intuito de segurar um pouco mais o dinheiro. Consequentemente, com menos compra no comércio, também há impacto na receita do município. A prefeitura trabalha com alguma iniciativa para tentar não desestimular o consumo do comércio local?

Marco Antônio Lage: Não é crise econômica em Itabira! A gente tem crise na receita da prefeitura, é muito localizado isso, e, naturalmente, a prefeitura tem que ter a responsabilidade das iniciativas de gestão para fazer readequações, isso o prefeito responsável tem que fazer até porque é improbidade administrativa você gastar mais do que arrecada. Então, repito, como prefeito e como gestor fiz isso a vida toda na iniciativa privada, estou fazendo isso na prefeitura e faço isso na minha casa. Então o cidadão tem que pensar o tempo todo em não gastar mais [do que ganha], pois todo mundo que tem a experiência de gastar mais do que recebe passa dificuldade com dívidas — e esse não é o caso de Itabira.

Não tem crise na cidade de Itabira, não tem nem crise na prefeitura, o que tem na prefeitura é uma necessidade emergencial urgente e uma responsabilidade de gestão de readequar receita com despesas. Isso é muito focado na prefeitura, então não terá impacto sobre o comércio nem sobre a economia local. Itabira continua em pleno emprego, a mineração não está reduzindo a sua produção e a Vale não está reduzindo a produção em Itabira ainda. Pode ser que lá na frente [a Vale reduza a produção], e nós vamos nos preparar para isso, mas não é o caso agora. Nós temos muito emprego na cadeia produtiva da indústria da mineração.

O que nós temos que trabalhar é readequar. É uma coisa localizada, não vai impactar o comércio, o cidadão não precisa parar de comprar porque não tem uma crise nacional, não tem uma crise na economia nem sequer tem uma crise na economia de Itabira. A cidade vai continuar acontecendo, impulsionada sobretudo pela economia vigente da própria mineração e sua cadeia [produtiva]. Vamos continuar com os hotéis cheios, com o comércio efervescente e vamos ter um Natal maravilhoso de novo este ano.

Itabira está se projetando como um polo comercial da região então isso aqui é tranquilo. Claro, vamos ter uma redução dos quadros de mão de obra da prefeitura por necessidade, por responsabilidade mas que são profissionais, trabalhadores que perfeitamente podem ser realocados no mercado. Nós estamos trabalhando muito com essa realocação com o nosso sistema de emprego, o Sine, que vai estar estruturado para fazer o atendimento. Nós vamos entender todas as vagas e  dar uma assistência para o trabalhador que estiver deixando a prefeitura, que estiver deixando um fornecedor da prefeitura, um terceirizado, um comissionado. Todos eles serão acolhidos para que eles possam buscar uma realocação no mercado de trabalho.

Esse mercado existe e não tem crise. Então é isso que é importante: a gente tem que cuidar da prefeitura. Às vezes medidas que não são tão agradáveis assim para quem sofre elas, mas que são  importantes. Lembrando sempre que não haverá impacto social, principalmente para as pessoas que mais precisam.

DeFato: Falando especificamente dessas medidas de contingenciamento, a saúde é sempre um tema bastante sensível. Haverá mudanças, por exemplo, nos convênios com os dois hospitais [Nossa Senhora das Dores e Municipal Carlos Chagas]? Há previsão, por exemplo, de diminuição do repasse? Como é que isso vai impactar o atendimento dos hospitais?

Marco Antônio Lage: Nós estamos pedindo a todos os conveniados, todos os contratados, todos os parceiros da prefeitura que façam o dever de casa. Digo e repito, por experiência de gestão de muitos anos, toda crise é uma oportunidade de cortar excessos e, naturalmente, tem excessos quando você vive em abundância, isso é na casa da gente e é em qualquer lugar. Quando você tem dinheiro sobrando os excessos vêm naturalmente, não é nem por deficiência de gestão, mas, naturalmente, você acaba tendo mais gastos do que o necessário.

Então nós estamos fazendo uma revisão de todos os contratos e convênios, descobrindo no meio do caminho aqui que tem muito excesso mesmo e que são excessos que precisam ser cortados. Então a gente tem que cortar sem prejuízo, sem impactar a ponta, que é o cidadão que mais precisa da prefeitura.

DeFato: Em relação à educação também há algum impacto que possa ser mais sensível, principalmente no ensino municipal?

Marco Antônio Lage: Algumas medidas estão sendo tomadas para readequar. Eu cito alguns exemplos: nós não vamos diminuir vaga em creche de jeito nenhum, pelo contrário, nós continuamos com a nossa missão de manter sempre o número de vagas em creche de 100% para não ter déficit na cidade. É a prioridade na primeira infância. Mas há excesso que precisa ser cortado e o “Merenda em Casa” é um bom exemplo. O programa foi instituído no meu governo porque foi detectado pelos educadores e pedagogos, de uma maneira geral pela nossa Secretaria de Educação, que as crianças voltavam das férias longas desnutridas — é uma realidade social que nós temos também na nossa cidade e nós temos no Brasil, as crianças conseguem se alimentar melhor nas escolas e no período de férias elas voltam com um déficit nutricional que atrapalha o rendimento dela nos primeiros meses. Então nós instituímos o “Merenda em Casa” exatamente para combater essa deficiência.

Instituímos para 100% dos alunos da rede pública, sem restrição porque a gente tinha recurso para isso. Agora nós vamos restringir aos alunos do CadÚnico, que são aquelas crianças que realmente não tem comida em casa, que tem problema de alimentação. Esse já é um corte que não impacta e que mantém o programa nutricional da prefeitura. É um corte legítimo e necessário de fazer.

Da mesma forma o Facilita. Agora estamos restringindo ao CadÚnico porque muitas vezes você dava o Facilita para pessoas que tinham a renda baixa, mas que não estava em uma situação de vulnerabilidade tão grande. Vamos focar na população mais vulnerável. Da mesma forma o Facilita Trabalho: a gente identificou que uma parte significativa tinha a opção do trabalho e preferia continuar usufruindo e sendo um beneficiário do cartão Facilita. Agora, se tem o emprego e a pessoa recusa, ela terá o cartão cortado. Precisamos dar o benefício, mas também criar oportunidade para aquele cidadão ser incluído na sociedade e no mercado de trabalho. Se ele tem essa oportunidade e não quer, ele perde o cartão. Também é um recorte legítimo que nós estamos fazendo. Então é uma gestão dos programas sociais que nós temos em todas as áreas de maneira que a gente reduza os custeios desses programas, mas mantendo os impactos sociais deles.

DeFato: Dentro do calendário cultural do município temos dois eventos que se aproximam. Em julho tem o Festival de Inverno e, em agosto, acontece a Expoita. Vai haver uma redução no investimento desses eventos? Até porque a gente viu nos últimos anos, por exemplo, um Festival de Inverno que recebeu investimentos robustos; a Expoita que retornou também com um bom investimento. Como é que fica a produção desses eventos?

Marco Antônio Lage: Da mesma forma das outras áreas, nós temos que sair da caixa, ser mais criativos e continuar fazendo os projetos de cultura em Itabira, pois é estratégico. A cidade tem uma efervescência cultural, tem uma vocação cultural e os investimentos em cultura não só vão continuar, como eles vão aumentar. Mas a crise nos provoca para outras alternativas que devem ser introduzidas e devem ser exploradas no nosso município. Então os eventos continuarão em formato diferente.

O Festival de Inverno neste ano vai ter um formato menor para ter menor custo. Ele continua com um foco maior nos shows na Concha Acústica, pois quando fazemos os shows na Praça do Areão a montagem daquela estrutura custa R$ 300 mil por dia, só com o cercamento da praça, por uma questão de segurança, você gasta ali perto de R$ 150 mil. Então nós temos que levar para a Concha Acústica porque já tem uma estrutura montada pronta e que cabe de 3 mil pessoas a 4 mil pessoas. Vamos adequar os shows deste ano a este público, mas continua sendo financiado pela prefeitura.

Este ano estamos revendo totalmente o projeto da Expoita. Temos uma proposta de fazer um edital para que a iniciativa privada explore os shows e o evento de uma maneira geral. Com relação a exposição agropecuária e de gado, estamos fazendo uma revisão junto ao Sindicato Rural, junto a produtores e Secretaria de Agricultura para que a gente encontre um modelo de exposição agropecuária que facilite e que promova negócios agropecuários em Itabira.

As exposições do Brasil todo, de uma maneira geral, quando tem gado, equinos e bubalinos, você promove o comércio e o negócio. Joga uma vitrine sobre a produção local desses produtos agropecuários para que a cidade seja um centro de referência na agropecuária. Itabira está longe disso com a Expoita. Ela tem que ter um conceito diferente e que promova negócios, só assim ela vai valer a pena, porque senão estaremos fazendo um grande investimento para ter apenas exposição e apresentação, mas sem uma finalidade comercial, o que não é adequado para essas exposições agropecuárias. Então há um momento de uma revisão conceitual e o ano que vem nós vamos voltar com uma Expoita completamente renovada do ponto de vista do negócio, do ponto de vista do expositor e, claro, como uma atração para quem gosta dos leilões etc. Com a parte de show,  vamos tentar manter, mas com participação da iniciativa privada.

DeFato: Eu gostaria que você detalhasse um pouco mais dessas medidas que vocês têm tomado, principalmente em outras áreas que eu não perguntei, para promover esse corte de gastos na prefeitura.

Marco Antônio Lage: Isso que nós estamos fazendo de adequar a receita ao orçamento, de não gastar mais do que arrecada, não é só neste ano. No ano que vem, a projeção é de ter cerca de R$ 200 milhões a menos no orçamento [em relação a este ano]. [Em 2025], nós estamos R$ 186 milhões a menos em relação ao ano passado e, ano que vem, deve ficar também nessa ordem. O orçamento da prefeitura, que já foi perto de um R$ 1,100 bilhão está vindo para R$ 900 milhões [para 2026] — são R$ 200 milhões de diferença em números gerais.

Então é necessário fazer a gestão disso e estamos fazendo isso de forma muito consciente, muito tranquila e muito profissional. Impactando de uma certa forma algumas pessoas, mas não quem mais precisa. Certamente, de uma maneira geral, sem impactar a economia da cidade, que vai continuar fluindo naturalmente. Todas as obras em andamento vão continuar, nós vamos continuar com todas as obras da Educação, com todas as obras na Saúde, com todas as obras na Assistência [Social], não haverá nenhuma paralisação de obra no município, continuidade total.

É aprender a usar melhor os recursos, esse é um exercício importante para a cultura também do serviço público na cidade. Por exemplo a passagem de ônibus, nós estamos fazendo uma revisão do subsídio. É importante fazer, mas a gente tira o subsídio do vale-transporte, pois, quando a gente pode, beneficiamos também as empresas, que é quem paga vale-transporte. Mas a gente mantém o subsídio forte para o cidadão que não tem emprego formal. Então são medidas necessárias, mas sem prejudicar ninguém e mantendo a máquina da economia de Itabira girando normalmente.

DeFato: Pegando um gancho no que você falou sobre o subsídio que é repassado para aa Vita [antiga Cisne], vai ter mudança nisso?

Marco Antônio Lage: Vai ter. Nós vamos anunciar, provavelmente na sexta-feira (6), que vamos diminuir o subsídio. Iremos tirar o subsídio do vale-transporte, mas mantendo o subsídio [para o público em geral], que é importante para o cidadão comum. Temos que cortar em todas as áreas e como cortar sem prejudicar quem mais precisa? Esse é um bom exemplo: demos o subsídio em quatro anos, mantendo em mais de 50% para todo mundo, mas, agora, vamos manter esse subsídio de 50% para o cidadão comum e vamos tirar o subsídio do vale-transporte, ou seja, agora é necessário que a empresa volte a pagar o que sempre pagou historicamente no transporte público [o valor total da tarifa].

Quando a cidade tiver de novo uma receita que permita subsidiar também as empresas, nós vamos fazer normalmente porque também é uma contribuição para o setor produtivo.

DeFato: Alguma coisa a mais que você acha importante?

Marco Antônio Lage: Eu quero tranquilizar Itabira sobre o que a gente está fazendo aqui. Muitas vezes o meio político se utiliza dessas medidas para criticar. A política, às vezes, utiliza esses momentos para vender ou potencializar a crise ou tentar imputar à gestão municipal que a crise é uma má gestão. Eu quero dizer que não tem nada disso! Estou absolutamente tranquilo. O secretariado está trabalhando com confiança, com responsabilidade. Estamos fazendo aqui uma ação de responsabilidade.

É na crise que se demonstra e prova quem é bom gestor. Quando tem muita fartura todo mundo pode fazer, mas é na crise que o bom gestor aparece. Então quero tranquilizar a comunidade de Itabira de que estamos fazendo o dever de casa que precisa ser feito. Tem que ter coragem, tem que ter responsabilidade, tem que ter profissionalismo, tem que ter gestão… e isso nós temos e é isso que nós estamos fazendo neste momento.

Assista à entrevista com o prefeito Marco Antônio Lage sobre as medidas de contingenciamento adotadas pela Prefeitura de Itabira: