Uma vida ocupada demais
No texto desta semana, o psicólogo e colunista da DeFato fala sobre a forma como aproveitamos nosso tempo
Mesmo em meio a um período de pandemia, a vida de muitas pessoas segue na correria. É verdade que muitos de nós já não perde tempo no trânsito, deslocando-se de casa para o trabalho, mas essa economia de tempo nem sempre funciona. Em casa, pode ser que muitas tarefas e papéis se acumulem, trabalhar, cuidar dos filhos, dos animais, limpar a casa. Pode parecer que ainda não temos tempo para nada.
Todos conhecemos uma pessoa (ou somos essa pessoa) que nunca para, que está sempre em movimento, sempre arrumando algo para fazer. Um fim de semana à toa, descansando parece um sacrifício. O ócio e o silêncio assustam. Melhor seria consertar aquilo que há tempo queríamos, ou adiantar alguma coisa do trabalho, afinal sempre temos muito o que fazer, não?
Sim, vivemos uma vida bastante ocupada, há cobranças vindas de todos os lados, chefes, família, cônjuges, amigos. Contudo, queria apontar as ocupações que nós mesmos procuramos, quando às vezes, sem perceber, nos envolvemos em tarefas porque não conseguimos ficar sozinhos ou lidar com o tempo livre que temos pela frente.
Isso se dá porque tentamos preencher nosso tempo incessantemente para não termos que lidar com nossos próprios problemas ou irmos atrás do que queremos de verdade.
É mais fácil dizer que não conseguiu estudar para uma prova porque teve muita coisa para fazer, ou que não conseguiu ligar para um parente com quem se está brigado porque ficou atolado no trabalho o dia todo. Pense um pouco, além dos afazeres que realmente não temos como não fazer, há algo que realizamos para escapar de algum conflito?
Uma vida ocupada demais pode ser a defesa que utilizamos para não nos envolvermos com as nossas verdadeiras questões, seja para resolver um problema ou ir atrás de um sonho.
Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos
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