Vale já não conta com Itabiruçu para 2021
Mineradora prevê queda na produção da mina de Conceição por causa de improvisações na disposição de rejeitos
Com as atividades paralisadas desde outubro do ano passado, a barragem de Itabiruçu, em Itabira, não deve voltar a operar tão cedo. É o que aponta o relatório de vendas trimestral da Vale, divulgado nesta semana. Segundo o documento, a mineradora já não conta com a utilização da estrutura no segundo semestre deste ano e nem por todo ano de 2021. Com isso, a tendência é de queda na produção da empresa em Itabira, já que os rejeitos da extração do minério de ferro na planta de Conceição estão sendo dispostos de maneira improvisada em cavas com volume limitado.
Desde que a barragem de Itabiruçu passou a ser inutilizada, a Vale adaptou duas cavas, do Onça e Periquito, para receber os rejeitos, que são filtrados para remoção da água. A alternativa é de “curto prazo”, segundo a mineradora, mas deverá se estender por todo ano de 2021, “limitando a capacidade de produção das usinas de Conceição”. Não foi informado, no entanto, qual o tamanho deste impacto.
A barragem de Itabiruçu teve o uso suspenso a partir de uma empresa de auditoria independente contratada após acordo com o Ministério Público. Na época, a Vale divulgou que a ação era “temporária” e “preventiva”, e que era necessária para o desenvolvimento de “estudos complementares sobre as características geotécnicas da estrutura”. A estimativa inicial para a conclusão desse levantamento era de 30 dias, mas a demanda se arrastou.
As atividades de manutenção em Itabiruçu, no entanto, se iniciaram bem antes da paralisação que a levou para o nível 1 de risco de rompimento. Desde abril do ano passado a Vale está sendo acompanhada de perto pela empresa de assessoria técnica independente AECOM, que emite relatórios periódicos ao Ministério Público. No fim de julho de 2019, a mineradora precisou interromper as obras de alteamento por causa de trincas que surgiram no terreno da estrutura de contenção de rejeitos. Desde então, apenas atividades preventivas são feitas no local.
Conforme informou a Vale a DeFato Online, as obras de manutenção consistem em reparos de canaletas que integram o sistema de drenagem e readequação do solo, “afetado pelas fortes chuvas na região no início deste ano”. O serviço é desempenhado pela empresa EMPA e envolve equipamentos de grande porte como caminhões, escavadeiras e carregadeiras.
Ainda segundo a Vale, todas as atividades desenvolvidas no entorno da barragem não alteram as condições geotécnicas atuais de Itabiruçu. A estrutura obteve declaração de estabilidade positiva no início de maio, mas se mantém no nível 1 de alerta, de acordo com escala da Agência Nacional de Mineração (ANM).
Alteamento
Sobre o alteamento, a Vale declarou que estão sendo realizadas “investigações geotécnicas” a fim de “determinar medidas de engenharia para continuidade das obras”. Todo o trabalho é avaliado pela AECOM.
O projeto da empresa é elevar a crista da barragem dos atuais 836 metros para 850 metros acima do nível do mar. As obras tiveram início em março de 2018, mas foram interrompidas cerca de um ano depois.
A barragem do Itabiruçu foi implantada em 1981 e tem capacidade para aglomerar até 222,8 milhões de m³ de rejeito de minério de ferro.