Vale planeja desviar rejeito e diminuir impactos sobre Barão de Cocais em caso de barragem se romper

Além do muro a ser erguido a seis quilômetros de distância da barragem Sul Superior, em Barão de Cocais, a Vale tem outra estratégia vultosa para diminuir os impactos de um eventual rompimento da estrutura. A empresa planeja fazer um desvio para o lado inverso do fluxo natural do rejeito e assim reduzir a intensidade […]

Vale planeja desviar rejeito e diminuir impactos sobre Barão de Cocais em caso de barragem se romper
Jefferson Corraid apresentou plano de desvio de rejeitos – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato|

Além do muro a ser erguido a seis quilômetros de distância da barragem Sul Superior, em Barão de Cocais, a Vale tem outra estratégia vultosa para diminuir os impactos de um eventual rompimento da estrutura. A empresa planeja fazer um desvio para o lado inverso do fluxo natural do rejeito e assim reduzir a intensidade da lama que chegaria à região central do município.

A Vale já tem, inclusive, uma decisão liminar, obtida em 18 de maio, que garante à empresa o direito de entrar em propriedades particulares para executar as obras necessárias. A ação cita nominalmente a empresa Gandarela Minérios Ltda e faz referência a “todos os demais proprietários e possuidores de terrenos na região do complexo minerário de Gongo Soco”. A sentença, assinada pelo juiz substituto Carlos Pereira Gomes Júnior, da comarca de Rio Piracicaba, ainda estipula multa de R$ 10 milhões aos sitiantes que desobedecerem à determinação judicial.

Todo o procedimento foi explicado na tarde desta quarta-feira, 29 de maio, pelo gerente de tratamento de Brucutu, Jefferson Corraide, durante reunião na Câmara de Vereadores de Barão de Cocais. A ideia, segundo o representante da Vale, é criar uma espécie de “Y” próximo à barragem Sul Superior para desviar parte do rejeito para o outro lado. “Vamos emagrecer a mancha em Barão e engordar para o outro sentido”, ilustrou.

O sentido inverso seria a comunidade conhecida como André do Mato Dentro, já em território de Santa Bárbara. Próximo está o Córrego do Arroz, que seria afetado. Obras já acontecem no local, de acordo com o gerente da Vale, para saber se realmente há viabilidade em executar o planejamento. “O que está sendo feito é um estudo geofísico. Precisamos saber que tipo de solo temos naquela área para saber se o plano é aplicável. Não é um projeto simples de se fazer”, comentou.

Segundo Corraide, existem de quatro a cinco sítios na área em que a Vale planeja executar a obra de desvio. Durante a reunião, o vereador Lúcio Bonifácio Pastor apresentou a reclamação de uma das proprietárias de terra que afirma ter se surpreendido com a presença do maquinário da Vale em sua propriedade durante o último fim de semana. Jefferson respondeu que ele próprio tentou falar com a mulher, mas que não conseguiu e por isso usou a determinação judicial para adentrar na propriedade. Apesar disso, afirmou que não é intenção da mineradora “passar por cima das pessoas”.

A decisão judicial concedida à Vale estipula que a empresa faça um depósito de garantia de R$ 50 milhões para cobrir eventuais danos nas propriedades em que as equipes precisarem entrar. O prazo era de 48 horas após a data da sentença.

Reunião aconteceu na Câmara de Vereadores de Barão de Cocais – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

Sem precisão

Durante sua permanência na Câmara de Vereadores, o representante da Vale foi questionado tanto por moradores das comunidades evacuadas e quanto de bairros na zona urbana próximos ao rio São João sobre o quanto o cenário seria modificado com o novo plano de desvio da Vale.

Jefferson Corraide afirmou que ainda não é possível estabelecer uma nova realidade. Segundo ele, somente quando todo o planejamento estiver pronto é que as áreas de mancha poderão ser atualizadas. “O que podemos afirmar é que a nossa intenção é diminuir os impactos em Barão de Cocais. Tudo o que pudermos fazer para desacelerar esse rejeito em caso de um rompimento e fazê-lo chegar com menos força ao município, é positivo”, disse o técnico da Vale.

O representante da mineradora disse também que, quando as obras avançarem para trechos mais próximos à barragem Sul Superior, as máquinas terão que ser todas controladas remotamente, sem presença de operadores. “É outra dificuldade que teremos, já que não podemos arriscar a segurança dos trabalhadores”, disse Corraide.

Não há um prazo estipulado pela Vale para concluir o desvio. Na Câmara, o gerente da empresa se comprometeu a compartilhar as próximas informações com a comunidade e os representantes políticos do município.

Outras ações

Além do muro e do desvio, que seriam as maiores obras para reduzir os impactos de um eventual rompimento, a Vale executa outros projetos de prazos mais imediatos. A maior delas é a construção de uma espécie de bacia, entre a mina de Gongo Soco e a barragem Sul Superior, que ajudaria a reter parte dos rejeitos de minério.Também estão sendo colocadas telas e blocos de granito no percurso para diminuir a velocidade do rejeito.