Vereadores criticam tentativa de interferência do prefeito Marco Antônio Lage nas eleições da Câmara
Nove parlamentares se mostraram incomodados com o processo eleitoral tumultuado — e apontam que Marco Antônio Lage está tentando influenciar o pleito
Após mais uma tentativa do presidente Weverton Leandro Santos Andrade “Vetão” (PSB) em adiar, de maneira arbitrária, a eleição da Câmara Municipal de Itabira, um grupo de nove vereadores se posicionaram radicalmente contra as manobras. Eles estiveram no Legislativo pela manhã para assegurar que o pleito possa acontecer nesta sexta-feira. Para eles, as diversas mudanças na votação da mesa diretora têm influência direta do prefeito Marco Antônio Lage (PSB) — que tem articulado para manter presidência da Casa em sua base aliada.
O grupo de nove parlamentares descontentes com a condução de Weverton Vetão em relação as eleições da Câmara é formado pelos opositores Heraldo Noronha Rodrigues (PTB), Luciano Gonçalves dos Reis “Sobrinho” (MDB), Neidson Dias Fretias (MDB), Rosilene Félix Guimarães (MDB) e Sidney Marques Vitalino Guimarães “do Salão” (PTB) — e reforçado pelos situacionistas Júlio César de Araújo “Contador” (PTB), Roberto Fernandes Carlos de Araújo “da Autoescola” (MDB), Rodrigo Alexandre Assis Silva “Diguerê” (PTB) e Sebastião Ferreira Leite “Tãozinho” (Patriota).
Confira o que disseram os vereadores, em entrevista ao portal DeFato, sobre a eleição da Câmara e a possível tentativa de interferência do prefeito Marco Antônio Lage no processo:
Heraldo Noronha:
‘‘Essa interferência mostra que desde o início do governo, o prefeito não respeita a Câmara. A verdade é essa! O prefeito acha que a Câmara deve ser submissa à ele, a todo o tempo’’.
Júlio Contador:
“É uma confusão desnecessária. O processo estava caminhando em tranquilidade total e, de repente, o próprio grupo se tumultua, causando um desdobramento que a gente não estava preparado. Chegou a esse ponto e precisamos mostrar à sociedade itabirana que eleger um presidente da Câmara é responsabilidade dos vereadores, não do Executivo. Ficamos um pouco assustados. Há sim uma interferência. Fora do horário de expediente, tanto da Câmara quanto da Prefeitura, em um dia de jogo do Brasil, às 18h41 a gente recebe um documento via WhatsApp informando a suspensão [da eleição] e agendando uma nova sessão. Quando fomos certificar com maior clareza o documento, vimos a formatação e a questão da origem de impressão. Então isso tudo causa uma certa estranheza deste processo’’.
Luciano Sobrinho:
“Os poderes são harmônicos, porém independentes. A gente fica surpreso com algumas coisas que acontecem, mas quero deixar claro que essa Câmara é independente, não é puxadinho de Prefeitura e irá trabalhar de acordo com o que acharmos de importância para o povo. Eles tiveram todo o tempo para redigir um documento aqui na Câmara, com a portaria correta, mas deixaram para fazer no gabinete do prefeito e pegaram a gente de surpresa. Inclusive, alguns vereadores da base aliada ficaram chateados, se sentiram atropelados e resolveram ficar ao lado do bloco [de oposição]. É um tiro que saiu pela culatra, infelizmente é essa a situação. A gente lamenta”.
Neidson Freitas:
“Vejo essa situação com muita preocupação. Desde o início do mandato o prefeito vem tentando intervir diretamente nos trabalhos da Câmara, nomeando pessoas ligadas à ele, como tivemos o Procurador Jurídico que hoje faz parte do Gabinete [Hugo Gomes]. O que Câmara está fazendo é a mobilização pela independência e separação dos poderes. É natural esse processo, que discutam. Mas uma vez definido, não há justificativas para ficar protelando. Na terça-feira já havia um requerimento, mas foi agendado para às 9h de sexta, e à noite [na quinta-feira] houve o cancelamento. A Câmara não pode ficar refém e submissa a essas tentativas. É quase uma coação em cima dos vereadores que já definiram em não votar em candidatos do governo por querer uma separação entre os poderes”.
Robertinho da Autoescola:
“Câmara e Prefeitura são poderes diferenciados. Vejo como uma forma de atropelo tentar até a última hora conquistar votos. Mas a gente já decidiu que a Câmara é um poder distinto, e pra mim, a forma que adiaram foi muito grosseira. Acredito que a eleição será justa e o presidente fará o papel dele. Acho interessante a força dos nove vereadores presentes dispostos a fazer valer a democracia”.
Rodrigo Diguerê:
“Os poderes precisam ser independentes e ter respeito em seus atos. O presidente fez uma reunião muito boa com a gente agora há pouco e chegamos ao consenso de que essa reunião especial de votação para a presidência acontecerá hoje. Se houve algum erro por parte de alguém, ele [Weverton Vetão] sanou essa falha, tendo ouvido a maioria dos vereadores para que a reunião acontecesse hoje. É um momento muito importante. A presidência da Câmara é conturbada mesmo, mudam os nomes o tempo todo, e estamos felizes que a Câmara vai tomar sua decisão de forma individual. Eu particularmente voto os projetos do prefeito e não sou oposição ao governo, mas entendo que a Câmara toma suas decisões e o governo Marco Antônio, as dele’’.
Rose Félix:
“Algumas rupturas são difíceis mesmo, mas é um avanço importante. Infelizmente a política itabirana, de forma viciada, está acostumada com o prefeito interferindo nas eleições da Câmara e isto precisa mudar. [A interferência do prefeito] Fere a democracia, desrespeita a população que escolhe vereadores para fiscalizarem as ações do prefeito e não para realizar as vontades dele. O prefeito precisa aprender a governar sem querer controlar a Câmara”.
Sidney do Salão:
‘‘A gente percebe que está acontecendo, como sempre falei, uma interferência muito grande do prefeito na Casa. Tudo começou com um requerimento [na terça-feira], que bastava apenas votar, com data e hora. Mas o presidente tem autoridade e marcou para hoje. Tudo bem, nós entendemos. Mas enviar às 18h um documento que saiu do gabinete do prefeito, com um número de portaria igual a outro já existente, atropelando todo o processo, ainda mais com a maioria, ficou pesado demais. Resolvemos vir [nesta sexta-feira] no horário normal, acionar o presidente para que ele comparecesse e se ele não viesse, iríamos dar início [a eleição] com a vice [Rose Félix]. Mas em reunião com o presidente, entramos em consenso que a reunião especial de votação para a presidência vai sair ainda hoje. Os demais documentos iremos verificar com os demais colegas, para tomarmos os procedimentos cabíveis. Mas que bom que entramos em consenso, por enquanto, para realizarmos a reunião ainda hoje”.
Tãozinho Leite:
“Que aconteça a reunião [eleição] da Câmara hoje. Os outros fatos não quero questionar, depois vou conversar com os demais vereadores. Meu posicionamento é tranquilo, e de que a eleição aconteça hoje”.