Vizinho de barragem pede remoção urgente de moradores: “A 30 metros, não há salvamento”

Sentado em uma das cadeiras do auditório da Mata do Intelecto, o aposentado João Batista Carlos acompanhou nesta quinta-feira, 14 de março, toda a reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema). Com uma pasta em mãos, aguardou até o último ato do encontro, quando uma representante da Vale apresentou uma parcial do que já […]

Vizinho de barragem pede remoção urgente de moradores: “A 30 metros, não há salvamento”
João Batista mostra a proximidade de sua casa com a barragem do Pontal – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato|||
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Sentado em uma das cadeiras do auditório da Mata do Intelecto, o aposentado João Batista Carlos acompanhou nesta quinta-feira, 14 de março, toda a reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema). Com uma pasta em mãos, aguardou até o último ato do encontro, quando uma representante da Vale apresentou uma parcial do que já foi colocado em prática dentro do plano de emergência de barragens em Itabira. No momento das perguntas, externou toda sua preocupação com a segurança de sua família e vizinhos que moram praticamente muro a muro com o cordão da barragem de Pontal, a maior da cidade.

“Queria saber sobre o tempo de salvamento. Moro a 30 metros da barragem. A essa distância, Deus não permita que aconteça, se houver um rompimento, eu não tenho qualquer condição de me salvar”, disse João Batista, enquanto mostrava a pasta com um arsenal de fotos e documentos sobre a barragem do Pontal. O aposentado até mesmo escreveu uma carta que pretende fazer chegar à presidência da Vale, pedindo a remoção imediata dos moradores que estão na mesma condição que a dele.

João Batista é morador da rua João Júlio de Oliveira Jota, na divisa com a área da Vale onde está a barragem do Pontal, no bairro Bela Vista. Segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) a estrutura de contenção abriga 226,9 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro e é uma das maiores em capacidade de armazenamento no Brasil.

Durante a reunião do Codema, a questão das moradias nas chamadas zonas de autossalvamento (ZAS), ou zonas de macha, foi abordada com preocupação também pela arquiteta Patrícia Ferreira, representante da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) no conselho. Ela questionou à representante da Vale se os mapas que apontam essas áreas serão disponibilizados pela empresa e disse que a intenção é desestimular a ocupação desses territórios na próxima atualização do Plano Diretor de Itabira.

A representante da Vale afirmou que o PAEBM completo está disponível em versão impressa na Secretaria Municipal de Meio Ambiente para consulta. Já a secretária responsável pela pasta, Priscila Braga Martins da Costa, presidente do Codema, afirmou que não veria problema em digitalizar o documento para atender à colega de Prefeitura.

João Batista fez questionamentos à representante da Vale – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

PAEBM

Segundo apresentado pela Vale no Codema, 1.176 domicílios já foram visitados em Itabira nos bairros Bela Vista, Nova Vista e Rio de Peixe. Equipes contratadas pela empresa apresentam orientações sobre as barragens e informam sobre pontos de encontro, rotas de fuga e sirenes. Nesta semana, placas de orientação começaram a ser instaladas.

A mineradora também já instalou 26 sirenes nos bairros mais próximos às barragens que mantém no município. Além disso, a empresa prepara para levar os moradores dessas localidades para conhecer de perto as estruturas, o que já vem fazendo com funcionários e entidades.

De acordo com a secretária de Meio Ambiente, Priscila Braga, o índice de casas com portas fechadas nas visitas das equipes da Vale tem sido alto, em torno de 36%. Nessas residências em que não há ninguém durante a semana, os grupos retornam aos sábados.  

Placas de sinalização com pontos de encontro e rotas de fuga foram instaladas na região do Bela Vista – Foto: Associação de Moradores

Encerramento abrupto

A reunião do Codema foi encerrada de maneira abrupta depois que outra moradora de área próxima a barragem, Ana Gabriela, do bairro João XXIII, fez críticas ao posicionamento de membros do conselho e pediu uma postura mais incisiva do órgão. Ela disse que o filho estuda na Escola Municipal Matilde de Menezes, no bairro Conceição de Baixo, a menos de seis quilômetros da Barragem de Conceição, e que convive com a incerteza.

“Não quero saber se vou ser ou não atingida pela lama por um aplicativo”, disse, se referindo a uma das propostas do PAEBM, que é criar um dispositivo para celular com informações sobre as rotas e pontos de segurança.

A presidente do Codema advertiu a participante que somente conselheiros poderiam propor debates durante a reunião, mas Gabriela insistiu, argumentando que aquele era o momento para perguntas. Houve um princípio de discussão e Priscila Braga, então, encerrou a reunião.

Moradora do João XXIII, Ana Gabriela fez críticas ao Codema – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

Representantes da área de relações com a comunidade da Vale conversaram com os dois moradores que se manifestaram na reunião, anotaram nomes, endereço, contatos e tomaram nota dos questionamentos. Houve promessa de retorno.