Zelo que salva vidas: cuidadores relatam dia a dia com idosos em meio à pandemia

Com a rotina alterada, profissionais relatam cuidados simples que se tornaram essenciais no dia a dia do convívio com idosos

Zelo que salva vidas: cuidadores relatam dia a dia com idosos em meio à pandemia
Cuidadores se desdobram para não colocar em risco os idosos – Foto: Divulgação

Paulo Henrique Dias, de Belo Horizonte

Desde a chegada da pandemia da Covid-19, a rotina dos cuidadores de idosos se tornou um serviço desafiador e fundamental, pois lidam diretamente com o principal grupo de risco da doença. A ameaça deste inimigo invisível que é o vírus tem tornado imprescindíveis medidas que antes passavam despercebidas.

É o que relata a cuidadora de idosos Graciliane Aparecida, 37 anos. Segundo conta, medidas mais rotineiras, que antes eram pouco praticadas no dia a dia, passaram a ser monitoradas: lavar as mãos, trocar o calçado que teve contato com o ambiente externo e higienizar as maçanetas mais de uma vez ao dia se tornaram tarefas vitais no seu trabalho.

Há 22 anos trabalhando como cuidadora e dividindo a tarefa como doméstica, Aparecida cuida de duas idosas, uma de 67 anos e outra de 94. Para chegar até ao trabalho, no bairro Gutierrez, localizado na região oeste de Belo Horizonte, ela leva cerca de uma hora. São necessários dois ônibus para chegar no horário, que, segundo ela, andam com excessos de passageiros. “Desde (o início da crise do) o coronavírus, eu continuo meu trabalho normal, então, estou muito exposta porque pego dois ônibus cheios”, relata.

cuidadora de idosos
Álcool em gel, panos e chinelos para trocar: medidas simples, mas essenciais para quem lida com idosos – Foto: Graciliane Aparecida

Além de trabalhar com pessoas enquadradas no grupo de risco, Aparecida tem um filho com doenças crônicas, o que a obriga ser extremamente rígida com a higienização pessoal a cada ida ao supermercado ou ao chegar e sair de casa. “Tenho roupa e chinelo para sair na rua, tenho uma idosa de 94 anos muito frágil, limpo a casa duas vezes por dia com álcool, além da higienização das maçanetas das portas. Elas não estão recebendo visitas, somente eu. E ainda tenho um filho de dez anos com doenças crônicas”, conta a cuidadora.

Ainda segundo Aparecida, todas as obrigações externas ficam a cargo dela, evitando o máximo a exposição das idosas. Até mesmo o próprio contato com as senhoras foi modificado. “Mudou muita coisa, eu não fico muito perto delas, eu almoço em ambiente separado delas. Quando chego para trabalhar ou quando volto do mercado, lavo as mãos com sabão e uso álcool gel”, diz.

Casas de idosos 

A rotina também foi alterada nas casas de repousos para idosos, que adotaram medidas de precaução. Localizado em Belo Horizonte, no bairro Santa Tereza, um residencial voltado à terceira idade suspendeu todas as visitas, desde familiares até atendimentos, como fisioterapia e fonoaudiologia. Os contatos dos familiares acontecem por videoconferência, uma alternativa encontrada para amenizar saudade em tempos de isolamento.

Por prevenção, os 16 funcionários que trabalham na residência precisam responder a um questionário durante o início do expediente, para que eles atestem superficialmente o estado de saúde, como conta Bruno Pacheco, proprietário do residencial. “Todos os dias os funcionários, ao chegarem, respondem a um questionário, com nome completo, idade e função. E, além disso, se eles apresentarem algum sinal ou sintoma como febre, coriza, tosse, falta de ar ou dor no corpo, eles serão avaliados por um profissional”.

Ainda segundo Bruno, outras medidas tomadas foram o uso de EPIs, como: touca, luva e máscara. Para os cuidadores que pegam transporte público, é solicitado que eles utilizem roupas distintas para se deslocarem até o trabalho. Além dos equipamentos de proteção, foi disponibilizado, logo no início da pandemia, álcool gel para que eles possam utilizar no transporte público.

Capacitação 

Fernanda Correa é proprietária de uma empresa que treina e capacita cuidadores de idosos. Com a chegada do coronavírus, houve uma série de adequações para que os cuidadores tenham mais atenção em relação à higiene. Durante seu treinamento e conversa com familiares, ela tem aconselhado para que os cuidadores possam ficar na casa dos patrôes durante a semana, evitando, assim, exposição durante o deslocamento.

“Antes você tinha escala, cuidador que vai e volta, mas aí entra um monte de risco, né. Manter uma rotina de higiene e cuidado ali dentro da casa do paciente, você consegue controlar, mas, e quando esse cuidador vai para casa? O que eu tenho aconselhado é manter este esquema interno a semana inteira e ter folga no final de semana”, comenta a instrutora.

Em tempos de isolamento e afastamento de pessoas que estão no grupo de risco, como é o caso dos idosos, a função do cuidador transpassa apenas a função de cuidar, como destaca Fernanda. “O profissional precisa ter clareza que ele está ali para melhorar a condição de vida daquela pessoa. É uma sobreposição diária, tem que ter algo genuíno e verdadeiro do cuidador”, finaliza.  

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