E-Sports
PILARES DO ESPORTS: SOCIAL MEDIA – José Victor “Scarleto” Gimenez
A série “Pilares dos Esports” mostrará um pouco sobre importância de profissões e profissionais que fazem os esports acontecer. Na primeira matéria da série falaremos da profissão de Social Media com a ajuda do José Victor “Scarleto” Gimenez Social Media da Team Liquid.
Com o crescimento dos esportes eletrônicos todo do ambiente de trabalho tende a se tornar cada vez mais profissional no meio, não somente os pro-players tendem a ter um comportamento mais profissional como novas profissões começam a agregar os esports.
A série “Pilares dos Esports” mostrará um pouco sobre importância de profissões e profissionais que fazem os esports acontecer, mas que na maioria das vezes o grande público não dá valor ou até mesmo não conhece.
Na primeira matéria da série falaremos sobre a profissão de Social Media. O que é ser um Social Media? Como é o trabalho de um Social Media nos esports? Estas e muitas outras perguntas foram respondidas pelo José Victor “Scarleto” Gimenez o brasileiro de 21 anos que trabalha como Social Media na Team Liquid, uma organização holandesa.
Scarleto começou seu interesse nos esports em 2015. Assim como muitos, seu interesse de início era se tornar um um pro-player de League Of Legends. No mesmo ano o time da KLG (Kaos Latin Gamers) campeões da CLS estiveram no Brasil para jogar o International Wildcard.
Com o interesse de entrar no cenário como jogador, Scarleto foi atrás do técnico do time, o brasileiro Alexandre “DrPuppet” Weber, para saber mais sobre como o time trabalhava. Mal sabia ele que DrPuppet seria a pessoa que mudaria a vida profissional dele. Dentre muitas conversas entre eles, o treinador brasileiro viu em Scarleto um outro potencial.
“Ele viu que eu tinha um potencial para comunicação no geral, mesmo eu tendo poucos seguidores, o pessoal famoso sempre me respondia, alguns dos meus tweets viraram virais”, para confirmar que ele tinha essa facilidade de se comunicar nas redes sociais. DrPuppet decidiu testá-lo colocando-o no controle se seu perfil do twitter por uma semana, “Então eu fiz tweets por uma semana no perfil dele e alguns dos tweets inclusive estouraram, pegaram centenas de likes”.
Foi então que Dr.Puppet o chamou para um projeto, um time de League Of Legends que jogaria o Circuito Desafiante naquele ano, mas não o chamou para jogar e sim para cuidar das redes sociais, esse time seria a Robot E-sports.
Apesar do time ter sido mais uma tag do que uma organização na época, e mesmo com a pouca experiência, Scarleto fez com que o twitter do time chamasse atenção, muitas vezes mais do que os próprios jogadores em jogo. Em uma época onde o mais comum era ver conteúdos de organizações em um estilo mais formal, o perfil do time saia dos padrões e fazia tweets descontraídos junto a algumas animações. Uma das marcas registradas do twitter da Robot E-sports era como se iniciava todos os posts “Beep Boop” fazendo referencia o som de um robô.
“Eu me diverti e ao mesmo tempo foi um baita de um aprendizado, todo mundo me respeitava, e ele além de ser o técnico o próprio DrPuppet que movimentava tudo, ele que teve a iniciativa de criar a tag, se não fosse ele eu ainda estaria procurando o que fazer da minha vida”.
Falando um pouco sobre a profissão, Scarleto definiu para ele o que é ser um Social Media nos esports “Eu gosto de falar que social media é o elo entre a torcida e a organização, não só entre torcida e organização, mas entre partes distintas de um mesmo ecossistema, eu gosto de falar que o social media trabalha com a paixão”.
Trabalhar com a paixão de um torcedor é algo delicado mas quando bem feito pode ser muito prazeroso e pode trazer grandes resultados.
“Você trabalhar com a paixão das pessoas, fazer eles serem fiéis a uma camisa, trazer esse público a consumir coisas da marca, fazer com que esses números não pare só nas redes sociais, que passem adiante para que a ideia seja vendida, aumentar a paixão, querendo ou não a parte de moral que a torcida trás é uma coisa incrível e muitas vezes pode fazer o time virar um jogo. Isso ae pra mim é o trabalho de um social media”.
Ser um Social Media nos esports não é somente fazer posts nas redes sociais, é também se preocupar com a imagem da marca ou organização, e isso às vezes acaba envolvendo outras pessoas, como os próprios jogadores que vestem a camisa da organização, qualquer comportamento do mesmo em suas redes sociais pode acabar influenciando no trabalho do profissional.
“O social media é o cara que também mexe com toda parte de gerenciamento de jogadores faz toda essa parte de assessoria, não toda, mas faz parte da função também. Você vê que às vezes alguns jogadores acabam passando um pouco do ponto, então tem que dar uma segurada, tem que ser o cara chato as vezes”.
Ser um profissional que trabalha com redes sociais é ter que passar por desafios para entender seu publico exige muita desenvoltura. Identificar e fidelizar são alguns desses desafios.
“Primeiro desafio é identificar sua torcida, ao identificar sua torcida você tem que torná-los fiéis. Fidelidade é uma coisa muito complicada, porque existem muitas marcas no meio e querendo ou não você cria uma identidade junto a marca e é o que muitas vezes vai ser a virada de jogo entre o cara escolher torcer para a sua organização ou torcer para outra”.
Manter uma consistência ajuda a criar uma identidade é uma parte importante a se trabalhar e faz com que o público continue acompanhando a marca.
“Segundo desafio é manter a consistência. Quando uma organização posta memes… algumas postam á muito tempo acho bem legal, mas outras postam um meme uma hora, logo depois falam de um forma totalmente diferente, e logo em seguida posta outro meme, tipo… ué vocês são os caras que falam de tal maneira ou os caras que fazem memes adoidados? Você tem que criar uma personalidade do seu público, uma persona. Se você fica alterando essa persona, uma hora você vai ter um tipo de público, e outra hora outro tipo, e esse público no geral vão ficar desinteressado”.
Voltando a falar um pouco mais sobre Scarleto, após a visibilidade e o bom trabalho nas redes sociais da Robot E-sports, Scarleto chamou a atenção de uma das organizações mais tradicionais no cenário brasileiro a CNB e-sports Club onde trabalhou por um ano e meio. Foi na CNB onde começou a levar isso como profissão de fato e foi onde aconteceu uma das histórias “engraçadas” de sua vida de Social Media.
Estava para começar o primeiro split do CBLOL de 2017 a CNB iria anunciar o ex jogador de futebol Ronaldo Nazário também conhecido com Ronaldo fenômeno, como um dos sócios da organização.
“Eu estava no tweedeck com o Clebão (CEO da CNB) atrás de mim, e faltava cinco minutos para o anúncio, eu estava conversando com ele digitando o anúncio, eu precisei pular uma linha no anúncio pra deixar mais organizado, eu esqueci de segurar shift para pular a linha e acabei dando enter… saiu cinco minutos antes, eu olhei pra trás e o Clebão tava com uma cara de – moleque o que que você fez!? – Eu apaguei 3 segundos depois, ele olhou pra mim e disse – não se preocupa ninguém viu – ele saiu… e quando eu olhei no twitter tinha gente marcando a CNB com o print do Ronaldo, eu achei que ia ser demitido aquela hora”.
No final das contas deu tudo certo, Scarleto não foi demitido e o ex jogador visitou a Gaming House da organização na semana seguinte.
Após trabalhar um ano e meio na CNB, o jovem Social Media foi contratado pela Team Liquid, uma organização holandesa que atua nos EUA. O social media brasileiro é responsável por produzir conteúdos nas redes sociais em português e inglês com foco na line-up de Tom Clancy’s Rainbow Six Siege que é composta por cinco jogadores brasileiros.
Trabalhando um ano e meio com o público de League Of Legends, e hoje com Rainbow Six Siege, nota-se algumas diferenças de comportamento de cada comunidade. O público que é apresentado para o League Of Legends já é apresentado como um alto padrão por ser um dos jogos mais jogados do Brasil e já ter um cenário competitivo bem definido, já o público de Rainbow Six Siege tende a ser mais casual mas isso tem mudado com o tempo e com trabalho junto com os próprios jogadores.
“Nós da Liquid com o trabalho junto aos jogadores nas mídias sociais, estamos cada vez mais chamando jogadores casuais a acompanhar o cenário competitivo”
Com quase três anos trabalhando como Social Media nos esports, Scarleto passa algumas dicas para quem quer começar ou está começando a trabalhar na área.
“É importante que a pessoa que esteja falando de um jogo saiba coisas sobre, eu senti isso quando comecei a trabalhar com R6 eu não sabia tanta coisa, tinha visto uma coisa ou outra sobre, então tive que me adaptar o quanto antes, assistindo campeonatos com mais atenção, cheguei até perguntar coisas para o técnico do time”
Ter uma boa noção de inglês é um diferencial hoje em dia para qualquer profissão, assim como para um Social media.
“Você não precisa ser o expert no idioma mas é preciso ter um domínio de pontuação, domínio de regras, e até um domínio de estética”
Scarleto explica que outro ponto importante é entender como cada rede social funciona, ter uma noção de algoritmos das plataformas que vai utilizar como: twitter, instagram, facebook e youtube.
Ser um Social Media é também saber vender! “Se você faz uma publicação a esmo, muitas vezes pode ser uma publicação vazia não vai ter nenhum objetivo de fato. Todo social media quando publica algo tem que vender algo nem que seja uma ideia”.
Um ultimo ponto que Scarleto achou importante citar é questão do profissional não querer se passar pela organização ou marca, ser maior que o nome da empresa.
“Você não é o cara que a galera quer saber! Você não é o cara que vai estar na frente do palco! Você é cara que vai estar mexendo nas luzes, no cenário, na cortina. Você é o cara que muitas vezes vai está narrando a história! Não adianta você querer falar pela organização, se citar como organização”
Ainda completou “O principal é você colocar a marca ou organização que você está representando acima de você!”
Como se tornar um Social Media? Muitas dúvidas podem surgir sobre como se tornar um profissional das redes sociais. Se caso é preciso ter formação ou algum curso na área, são dúvidas muito frequentes.
“Se você tem alguma graduação ou formação na área de Marketing digital ou algo relacionado é muito positivo sim, mas não é uma coisa que digo que é necessário, eu mesmo quando comecei não sabia nada disso e com o tempo fui fazendo cursos, alias eu mesmo não tenho formação superior”
Muitos profissionais, independente da área, muitas vezes usam outros profissionais como exemplos e inspiração. Sobre alguma marca no qual Scarleto tem como referencia, o mesmo citou um trabalho de redes sociais fora dos esports, o da Netflix.
“Eles sempre passam a impressão de que eles são uma pessoa que acompanha internet, muitas séries, que gosta de ficar fazendo memes na internet. Eles pegam as trendings do público e colocam na própria marca isso amplia a questão da identificação”.
O trabalho de um Social Media é muito desvalorizado, até mesmo grandes empresas às vezes cometem o erro de deixar qualquer um cuidando de suas redes sociais, umas frase que ouvimos muito e é muito usada como exemplo é “Deixa o sobrinho que passa o dia no facebook cuidando das redes sociais”. Nos esports já vimos muitos casos de perfis de organizações responder xingamentos de seguidores em um mesmo tom, fazer posts sem base, ou apenas não movimentar o perfil.
Já passou da hora de empresas e o público valorizar o trabalho de um Social Media, profissionais como Scarleto podem construir e moldar a imagem de sua marca, agregar patrocinadores e aumentar público… trazendo um saldo positivo para a empresa.
José Victor “Scarleto” Gimenez é mais um pilar do cenario de esport brasileiro.