Em tom intimidador, Vale defende ampliação de pilha de estéril em Itabira
Gigante da mineração diz que o não licenciamento do projeto de ampliação da Pilha de Disposição de Estéril (PDE) Canga Sudeste, da Mina Conceição, pode afetar a geração de empregos e a arrecadação do município
Na noite desta quinta-feira (21), a Vale realizou uma audiência pública on-line referente ao licenciamento para ampliação da Pilha de Disposição de Estéril (PDE) Canga Sudeste, da Mina Conceição, localizada em Itabira. A PDE é utilizada para retirar o material estéril da Mina Conceição. Ou seja, materiais que não podem ser aproveitados na atividade mineradora e que, portanto, não possuem valor.
Participaram da audiência dois representantes da mineradora; membros da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e o secretário de Meio Ambiente de Itabira, Denes Lott. Em tom velado de ameaça, a Vale argumentou que, caso o licenciamento do projeto não seja aprovado, não será possível continuar com as operações no município no atual ritmo de produção até 2022.
O gerente executivo do complexo de Itabira, Daniel Junior, afirmou que a não implantação da PDE Canga Sudeste poderá culminar na perda de 120 empregos por meio de empresas terceirizadas. Além disso, ele deixou claro que outra consequência direta será na renda do município, já que ela sofrerá um forte impacto negativo, deixando de arrecadar valores referentes ao imposto de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM).
“Sem ela (a implantação) não é possível continuar com as operações no atual ritmo de produção já para 2022. Esse impacto na produção reduz, significativamente, a produção da Vale em Itabira e, consequentemente, acarretará em uma redução na arrecadação do município. Conforme estudo detalhado, esse projeto é a solução, com o menor impacto ambiental, e aproveitará parte de áreas já existentes para disposição de estéril, com todas as compensações já mapeadas”, afirma.
Impactos x Investimentos
O estudo a que Daniel Junior se refere foi feito pela empresa de consultoria ambiental “Bicho do Mato”. De acordo com a corporação belorizontina, a “alternativa locacional de ampliação sudeste da PDE Canga foi considerada a mais vantajosa ambientalmente”. Porém, o mesmo estudo informa que a implantação da pilha geraria perda e alteração da flora, aumento da erosão, perda do solo, alteração da qualidade do ar e ruídos. Problemas que, há décadas, estão no vocabulário do itabirano.
O gerente executivo do complexo de Itabira também diz que, caso o licenciamento não seja aprovado, a Vale buscará outras alternativas para dar continuidade às suas operações.
“Nossas reservas (em Itabira) vão até 2029. Caso a Canga Sudeste não seja aprovada, parte da nossa rotina é buscar alternativas para continuar nossas operações, mas sempre conciliando aspectos socioeconômicos e ambientais. Vamos buscar outras alternativas para que a gente possa dar continuidade da deposição de estéril, porque ela reduziria o ritmo de produção até que a gente encontrasse outras alternativas”.
Em outro momento da audiência, em tom mais conciliador, Daniel Junior disse que a mineradora tem contribuído com Itabira na procura por alternativas econômicas. “A Vale tem investido, nesse ano, R$ 26 milhões em pesquisas para que a gente possa aumentar a nossa reserva em Itabira. Além disso, temos desenvolvido parcerias com a Unifei e a Prefeitura para projetos de apoio à diversificação econômica no município. Em abril de 2020, oficializamos um convênio de 100 milhões destinados à ampliação da Unifei”.
A PDE Canga Sudeste seria implantada entre a Cava de Conceição e a Barragem Itabiruçu, e teria um investimento de R$ 80 milhões. Caso aprovado, o projeto levará cinco anos para ser concluído.