Nota da Prefeitura de Itabira causa indignação e vereadores pedem que Executivo respeite a Câmara

Governo sugeriu viés político em publicação feita por vereador no caso da ambulância que atolou na estrada dos Gomes

Nota da Prefeitura de Itabira causa indignação e vereadores pedem que Executivo respeite a Câmara
O assunto repercutiu na reunião ordinária desta quinta-feira. Foto: Wesley Rodrigues/DeFato
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Tanto situacionistas quanto governistas repercutiram hoje (18), na Câmara de Vereadores, a resposta dada pelo governo municipal à publicação feita pelo petebista Sidney “do Salão” na terça-feira (16), em suas redes sociais. Os vereadores concordaram que faltou bom-tom do Executivo no episódio. A maioria pediu ao líder do governo, Juber Madeira (PSDB), que leve uma mensagem ao gabinete municipal: o diálogo com a Câmara precisa ser afinado.

No Facebook, Sidney do Salão denunciou a má condição da estrada rural de acesso à comunidade dos Gomes. Ocorre que na terça, à tarde, uma ambulância que prestava atendimento de urgência atolou no lamaçal da estrada por cerca de duas horas. Quando desatolou, com a ajuda de populares, e chegou ao endereço do chamado, socorristas constataram o óbito de Frederico Augusto, 84 anos, possível vítima da Covid-19. O caso provocou comoção.

Na nota enviada pela Prefeitura ontem (17) à imprensa, o atual governo sugeriu um viés “politiqueiro” na denúncia do petebista. “Itabira tem demandas urgentes a serem resolvidas – algumas que ultrapassam décadas – e não pode haver brechas para que fatos tão sérios sejam contaminados por discursos políticos”, citou o texto.

Sidney rebateu, na sessão legislativa. “A Constituição e a Lei Orgânica me definem como agente político. (…) Meu discurso é de quem cumpre o papel de um vereador”, disparou o parlamentar.

Nota da Prefeitura de Itabira causa indignação e vereadores pedem que Executivo respeite a Câmara
O vereador Sidney do Salão manifestou indignação às colocações da Prefeitura de Itabira. Foto: Wesley Rodrigues/DeFato

Carta aberta

A reunião ordinária pós-Carnaval ocorreu nesta quinta-feira, no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade. A plenária tinha tom sereno até que o presidente da Casa, Weverton “Vetão” (PSB), autorizou o livre debate dos vereadores, concluída a pauta de votações.

Sidney do Salão pediu a vez e fez a leitura de uma carta aberta ao Executivo. “Fui claro: espero que o prefeito, junto a sua equipe, consiga em curto tempo sanar os problemas causados pela chuva. Em momento algum culpei prefeito ‘A’ ou ‘B’ pela situação que ocorreu. Deixei evidências de que foi uma situação sazonal. Me surpreende a ação enérgica da equipe do prefeito em justificar e chamar de discurso político a minha postagem. (…) Mas, o mais triste é que procuraram fazer barulho e não fizeram nada ainda pela comunidade”, narrou o vereador.

A manifestação de Sidney ganhou apoio imediato, com discursos que renderam a sessão. Bernardo Rosa (Avante) citou o autor de “Anatomia do Estado”, Murray Rothbard, ao dizer que “o estado é quase universalmente considerado uma instituição de serviço social”. “A maior ameaça ao Estado é uma crítica intelectual e independente. É o que temos que ser no parlamento: críticos, intelectuais e independentes”, disse o advogado.

Rose Félix (MDB) afirmou que o “diálogo com a administração precisa melhorar” e cobrou respeito no tratamento entre os poderes. “Nós estamos aqui a serviço da população. O trabalho que executamos precisa ser respeitado”.

Vetão ponderou, mas subiu o tom. “É pouco tempo [de governo], mas é preciso que o poder público – o prefeito que está, que o apoiei e realmente acredito nele para tirar Itabira desse atoleiro em que se encontra – respeite a Câmara. Não se pode fazer uma nota pública dizendo que um vereador, no uso de sua atribuição, está fazendo discurso de contaminação. É uma falta de respeito tremenda pela função crucial que temos, a de fiscalização”.

Comentários foram feitos por quase todos os presentes.

Defesa

O líder do governo, Juber Madeira, manifestou solidariedade a Sidney. “Jamais permitirei que o governo pelo qual eu esteja hoje na condição de líder imponha censura ou vá induzir a Câmara de Vereadores a se silenciar mediante a problemas que sejam velhos ou novos. Os problemas aqui levantados serão levados com o devido compromisso, para que haja a devida correção. Essa Casa tem e deverá ter o respeito do Executivo”, acentuou. Juber disse que a postura de Sidney foi exemplar.

Relatório médico

Sobre o caso da ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que atolou na estrada dos Gomes, Juber apresentou relatório obtido junto à corporação que, segundo aponta, não houve relação entre o falecimento do idoso e o atraso na chegada do socorro. O líder do governo leu trecho do relatório e ressaltou que no chamado ao Samu foi comunicado que “o idoso havia acabado de falecer”. “[Ao ser encontrado] o homem de 84 anos, com Covid-19 positivo, estava com pele fria e rigidez cadavérica”, citou, com as informações em mãos.