Mistura aí: Lula, PEC, pacotaço americano, inflação, Copom, covid…

Última semana foi agitada nos bastidores políticos e econômicos do país

Mistura aí: Lula, PEC, pacotaço americano, inflação, Copom, covid…

Pois é José…O mercado financeiro brasileiro virou montanha russa na semana passada e a volatilidade foi a estrela dos pregões. Mas como diria Geraldo Vandré, “prepare o seu coração para as coisas que eu vou contar”.

Isso mesmo, e vamos começar pela segunda feira que até o meio da tarde tinha como fato mais importante as homenagens e as comemorações de mais um dia internacional da mulher. Mas, de repente, não mais que de repente, se transformou no dia em que o EX presidente presidiário Luís Inácio Lula da Silva, Lula, viu anuladas três condenações feitas pela Lava Jato de Curitiba e, portanto, recuperou temporariamente seus direitos políticos até que as acusações sejam novamente julgadas pela justiça do Distrito Federal.

O ministro do STF, Edson Fachin, surpreendeu o mundo com sua decisão e abalou o mercado brasileiro que passou a questionar a permanência da condução da política econômica sob a ótica do liberalismo que vigora desde o governo de Michel Temer.

A volta de Lula ao cenário eleitoral pode turbinar a esquerda e a volta do que eu chamo de capitalismo de estado, um modelo oposto ao liberalismo, que prega a presença e permanência do Estado na economia e a farra fiscal, um verdadeiro retrocesso, um filme que assistimos no Cine Brasil nos governos petistas de Lula e Dilma e que levou o País à trágica situação fiscal que tentamos consertar até hoje.

A indignação e o medo foram precificados assim que o mercado soube da decisão de Fachin com o tombo da B3, queda de 4%, a disparada do dólar que chegou a beirar, no câmbio oficial, R$6,00, e a disparada dos juros futuros e consequentemente do Risco Brasil.

O preço do barril do petróleo tem aumentado consideravelmente nos últimos meses

Uma decisão como esta põe em xeque a segurança jurídica do País além de gerar um sentimento de frustração na sociedade brasileira. A Lava Jato era e ainda é um patrimônio da sociedade brasileira, um marco para a construção de um País ético e justo.

A maioria da população acompanhou por meses e anos todo o processo e a condenação em primeira e segunda instâncias e agora está tudo zerado e tem que começar de novo no Distrito Federal? Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos que acontecerão no plenário do STF com o voto de todos os ministros validando ou não a decisão de Fachin.

Há quem diga que o ministro Edson Fachin agiu dessa forma para salvar a Lava Jato, anulou as condenações de Lula e enviou para o Distrito Federal, mas manteve o restante da operação em Curitiba, um dia antes do julgamento da segunda turma sobre a suspeição do Juiz Sérgio Moro que poderia colocar em xeque toda a operação se Moro fosse considerado suspeito para julgar os processos.

Com o placar empatado em 2×2, o ministro Nunes Marques pediu vista e deixou em aberto a decisão que deveria ter sido tomada em 2018 quando o Ministro Gilmar Mendes pediu vista e só proferiu seu voto na semana passada. Quando Gilmar Mendes pediu vista a votação estava em 2×0 a favor de Moro. Agora está em 2×2 .

A decisão de Fachin e a volta do provável candidato Lula antecipou a campanha pela disputa eleitoral de 2022 e elevou sobremaneira o nível de incertezas em relação ao Brasil. Mas, em paralelo, o mundo comemorava a aprovação do pacote trilionário de injeção de recursos nos E.U.A, e junto com ele uma melhora significativa nas projeções para o crescimento do PIB global em 2021.

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) soltou novas projeções e a economia americana, que na projeção anterior deveria crescer 3,2% em 2021, deve crescer 6,5% em função da aprovação deste pacote e ser junto com a China que deve crescer 6%, um dos principais motores para o crescimento global.

A zona do Euro teve as projeções revistas de 3,6% para 3,9% e o Brasil de 2,6% para 3,7%. A aprovação da PEC Emergencial no Senado, na semana atrasada e na Câmara, em dois turnos, na sexta passada, apesar de ter sido um pouco desidratada, trouxe alívio para o mercado brasileiro que ensaiou uma reação na quarta e na quinta e contou ainda com a presença firme do Banco Central na ponta de venda de dólares com mais de um leilão por dia o que acalmou o mercado e fez com que a moeda americana fechasse a semana valendo R$5,55, uma queda de 2,18% na semana. No ano, a alta do dólar é de 7,15% e em um ano 16,09%.

Na semana passada tivemos a divulgação, pelo IBGE, da inflação de fevereiro medida pelo IPCA que é o índice usado pelo Banco Central na tomada de decisões sobre a política monetária (nível de juros no Brasil). Mais uma surpresa desagradável… a inflação oficial no Brasil, em Fevereiro, ficou em 0,86% bem acima da previsão de 0,60% e a notícia boa dentro da notícia ruim é a de que , em fevereiro , mais de 70% da inflação foi provocada por dois grupos : Transportes (alta dos preços dos combustíveis ) e Educação ( reajustes das mensalidades escolares).

Mas em doze meses o número incomoda muito , 5,2% e o teto da meta inflacionária definido pelo Conselho Monetário Nacional e que tem que ser perseguida pelo Banco Central é de 5,25%. Resumo da ópera: o Banco Central através do COPOM (Comitê de Política Monetária) deve aumentar em no mínimo 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros do País, a SELIC, que hoje está em 2,00%a.a..

O processo inflacionário brasileiro acompanha um fenômeno global de aumento de consumo de bens essenciais , commodities, turbinado pelo baixo nível de juros global e pelos pacotes de auxílio distribuídos pelos governos para minimizar os efeitos da pandemia na economia.

Em um primeiro momento o isolamento social paralisou indústrias e serviços, causando um desarranjo nas cadeias produtivas globais e o aumento do consumo de produtos básicos , em especial, alimentos , aumentou a demanda provocando aqui, a partir de setembro de 2019, uma aceleração de preços do grupo alimentos ligados principalmente às cadeias da soja e do milho que passaram por uma alta forte de preços em dólar com o aumento das importações chinesas e turbinaram os preços das carnes, do leite, dos óleos e de outros produtos dessas cadeias.

Até o final do ano passado, nós brasileiros, sentimos mais ainda no bolso a elevação dessas commodities em razão da alta do dólar em relação ao Real, sofremos com dois aumentos, o das commodities e o do dólar nos deixando mais pobres em reais.

Como eu disse anteriormente, o mundo inteiro está experimentando um incômodo inflacionário mas por aqui a valorização do dólar está nos penalizando mais e, acredito eu, que foi por isso que o Banco Central saiu do papel de espectador da flutuação do câmbio e assumiu com propriedade a sua função de ator no controle da inflação (essa é a missão do BC) e depois de agir no dólar durante os pregões da semana passada, deve, na quarta feira, anunciar a alta da SELIC para no mínimo 2,5% a.a..

Apertem os cintos porque o nível de incertezas em relação ao comportamento da inflação e consequentemente das taxas de juros (principal instrumento de controle inflacionário) aumentou em nível global e aqui já começamos a conviver com as pesquisas de intenção de voto para 2022 que podem apontar ou não uma mudança radical na condução da política econômica.

Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis

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