Covid-19: O alerta pode vir pela pele!
As manifestações cutâneas da covid-19 são, muitas vezes, semelhantes a manifestações de outras viroses ou quadros como alergias.
Se os olhos são as janelas da alma, a pele com certeza é a janela do corpo. Isso significa que o surgimento de lesões dermatológicas podem, com frequência, sinalizar o adoecimento do corpo de diversas maneiras, ou seja, a pele frequentemente serve como marcador de uma doença interna de base. Não é raro que os pacientes percebam, por exemplo, que a pele está mais seca, o cabelo mais quebradiço ou que surgiu uma manchinha que não estava lá antes. E, muitas vezes, esses sinais podem ser usados como pista para suspeitas diagnósticas de doenças internas.
Com base nesse fato, a comunidade científica tem investigado todas as linhas de sintomas possíveis da covid-19 e os achados dermatológicos tem sido cada vez mais comuns. A relação entre manifestações dermatológicas e a covid-19 chamou a atenção dos médicos logo no início da pandemia. Naquele momento, também ficou claro que a covid-19 poderia estar na lista de infecções virais que envolvem manifestações na pele, como dengue, zika e chikungunya. Isso, no entanto, não exclui outras hipóteses que expliquem o surgimento das lesões na pele, como reações às medicações usadas no tratamento, resposta imune (reação de defesa do organismo), ataque direto do vírus na pele e fatores emocionais.
Já foi observada uma grande variedade de manifestações na pele pela covid-19, sendo as mais frequentes o exantema que é caracterizado por manchas avermelhadas distribuídas pelo corpo; a urticária que é caracterizada por placas elevadas, avermelhadas associadas a coceira; o livedo que já mostra comprometimento vascular, assim como a isquemia. Nesta, a pele já está mais comprometida, com coloração arroxeada/ azulada, podendo evoluir para necrose, em que há destruição tecidual.
Há ainda a alteração chamada “Dedo de Covid”, que é o apelido popular para eritema pérnio, que são bolinhas avermelhadas ou azuladas que aparecem nos dedos dos pés e das mãos, e no caso da covid-19 até no calcanhar. Essa condição, que chamou a atenção durante o primeiro pico da pandemia de covid-19, é uma inflamação ao redor dos vasos de sangue da pele que leva a formar uma lesão. Pode coçar ou queimar. Em condições raras, pode haver algum coágulo que produz uma ferida. Há dados disponíveis até agora apontam que esse sinal aparece em pessoas com boa imunidade contra os antígenos virais, como crianças e jovens adultos. Alguns pacientes com esse sinal pode inclusive ter resultado negativo para a presença do vírus no corpo, dada a velocidade com que o corpo eliminou o vírus. Em geral, os “dedos de covid” somem de duas a três semanas após o contato com o vírus.
Geralmente, essas manifestações estão presentes durante o percurso da doença, mas algumas delas podem ter regressão antes da cura. Não há um padrão definido. Da mesma forma, ainda não se comprovou correlação entre manifestações cutâneas da covid-19 e gravidade da doença. Ainda devemos levar em consideração que essas alterações dermatológicas não aparecem em todos os pacientes infectados, mas o seu surgimento pode ser um alarme para a investigação de um possível diagnóstico de COVID-19 caso este ainda não tenha sido feito.
As manifestações cutâneas da covid-19 são, muitas vezes, semelhantes a manifestações de outras viroses ou quadros como alergias. Para que se pense no diagnóstico de covid-19, é preciso investigar o histórico de todos os sintomas narrados pelo paciente. Essas manifestações em geral duram de 5 a 14 dias, são ligeiramente mais presentes em mulheres, mas não há diferença significativa de uma faixa etária para outra.
Além disso, a pandemia trouxe uma mudança comportamental significativa: agora as pessoas se preocupam em lavar as mãos e passar álcool gel com mais frequência. Isso pode causar em algumas peles alergia aos agentes limpantes, com descamação e coceira. Queixas essas muito comuns no consultório atualmente.
Não existem manifestações cutâneas exclusivas da covid-19. Precisamos determinar sua causa para então definir tratamento adequado. Por exemplo, um paciente com urticária devido a uma medicação precisa suspender o uso e tomar antialérgicos. Já um paciente com urticária pela covid-19 receberá tratamento para a doença segundo protocolo da instituição em que o acompanha.
O paciente deve procurar o atendimento que lhe for de mais rápido acesso, valorizando a importância do diagnóstico precoce e medidas de isolamento. Em tempos de pandemia, todas as manifestações que podem fazer parte do quadro da doença devem ser levadas em consideração e investigadas.
Daniella Miolo é dermatologista. O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.