A economia na pandemia

Confira o novo texto da economista e colunista da DeFato, Rita Mundim

A economia na pandemia

No dia 09/04/21, me deparei, no blog do professor Stephan Kanitz, com um texto de sua autoria que vai de encontro a uma boa parte dos meus pensamentos e da minha percepção de que, com razão, a maioria da população brasileira, abalada pela perda de vidas , de empregos e de sonhos , não consegue perceber a mudança qualitativa na gestão da coisa pública ,e, é claro, do dinheiro público, promovida pelo governo de Bolsonaro. A semelhança entre parte dos pensamentos de Kanitz, e, dos meus, é a ponta de otimismo em relação ao futuro do País diante dos avanços conquistados na condução da política econômica por esse governo, apesar da pandemia.

Dentre as propostas de campanha , o liberalismo econômico com a diminuição do tamanho e da presença do Estado na economia, que seria implementado e conduzido pelo seu posto Ipiranga, e, super ministro, Paulo Guedes, foi a que mais atraiu o voto do eleitor por representar uma mudança de modelo, a saída do capitalismo de Estado que vigorou nos governos petistas com o crescimento e inchaço das estatais, e, com a escolha das campeãs nacionais (empresas escolhidas e subsidiadas pelo governo para crescerem tanto no mercado doméstico quanto no mercado internacional) para o capitalismo de mercado.

Este modelo adotado pelos governos petistas faliu juntamente com as empresas públicas e privadas financiadas pelo dinheiro do contribuinte e posteriormente desidratadas pela descoberta do maior esquema de corrupção da história, desvendado pela Operação Lavajato. As estatais como Petrobrás, Eletrobrás, Correios, BNDES, Caixa, dentre outras, viram os lucros desaparecerem por se envolverem em negócios nada republicanos praticados principalmente entre elas e aquelas escolhidas pelo governo para liderarem o crescimento da economia brasileira , “ as campeãs nacionais” , como exemplo podemos citar as empreiteiras que formaram os consórcios para as obras das Olimpíadas e da Copa do Mundo ,  a JBS , as empresas X de Eike Batista, e os vários tentáculos da ODEBRECHT que passou a atuar em vários setores da economia.

O desmantelamento de esquemas e quadrilhas, a falta de credibilidade do governo Dilma, a contabilidade criativa que levou ao impeachment da então presidente, custou ao país a maior recessão da nossa história, com o PIB, Produto Interno Bruto recuando -3,8 % em 2015 e -3,6% em 2016, enquanto a economia global crescia em torno de 3,5% a.a., no mesmo período. A recessão brasileira, que durou do segundo trimestre de 2014 até o quarto trimestre de 2016, apresentou o pior biênio de crescimento econômico em mais de 100 anos (a outra vez que o PIB brasileiro recuou por dois anos consecutivos foi em 1930 e 1931, logo após a Crise de 29).

Pela primeira vez desde 2002, vimos a inflação superar 2 dígitos e a taxa básica de juros, a SELIC, voltar a ser a mais alta do mundo. Entre o governo de Dilma e de Bolsonaro tivemos praticamente 02 anos de governo Temer, que sucedeu Dilma com a promessa de implementar rapidamente as reformas , tão necessárias, previdência, tributária e administrativa. O maior mérito do governo Temer foi a guinada na condução da economia. Sob a batuta de Henrique Meirelles as contas públicas foram devidamente colocadas em ordem, e, a responsabilidade fiscal voltou com a PEC do Teto dos Gastos que recuperou a credibilidade do Brasil perante o mundo.

O governo Bolsonaro tomou posse em janeiro de 2019 e enfrentou, ainda no mês de janeiro, a tragédia de Brumadinho que impactou as exportações brasileiras de minério , a balança comercial e o próprio desempenho do PIB daquele ano que cresceu apenas 1,1% , e, cabe ressaltar, que a crise argentina provocada pelas eleições e pela derrota do então presidente Macri também afetou , em 2019, o crescimento do PIB, já que a Argentina é a nossa maior parceira comercial na América Latina. Entramos em 2020 crescendo, em taxas anualizadas, entre 2% a 3%a.a., com uma agenda cheia para a economia…

Na pauta do ano, reforma tributária e administrativa e o início do processo de privatizações, mas no meio de março tinha uma pandemia que mudou de positivo para negativo o sinal de crescimento da economia global, colocando o mundo diante da terceira guerra mundial. Sem remédio e sem vacina, o mundo fechou para o triste balanço da luta diária entre o vírus e a vida, causando um impacto e um desarranjo sem precedentes nas cadeias produtivas globais.

Governos e bancos centrais não pouparam esforços e recursos para socorrer os seus cidadãos e as suas economias. Destaque para os pacotes e estímulos do governo americano, dos países da zona do Euro e da China. Dentre os países emergentes e latino-americanos, o Brasil, sob o ponto de vista econômico, foi o que teve o melhor desempenho na gestão da crise. Em abril de 2020, o FMI projetava uma queda de 9,1% para a economia brasileira e no final do ano a retração do PIB ficou em 4,1%, um desempenho comparável aos resultados obtidos por Estados Unidos e Alemanha, maior economia do mundo e da zona do Euro, respectivamente.

No terceiro trimestre de 2020 a economia brasileira cresceu 7,7% em relação ao segundo trimestre e 3,2% no quarto trimestre em relação ao terceiro, indicando a possibilidade de um crescimento de no mínimo 3,5% em 2021. O processo de flexibilização das medidas de distanciamento social  que começaram a ser adotadas em setembro e que foram sendo ampliadas até fevereiro resultaram em um forte movimento de recuperação da economia que foi medido, dentre outros dados, pelo recorde histórico de geração de empregos com carteira assinada em janeiro e fevereiro, com o crescimento real, de 4,3%, da arrecadação da receita federal no mês de fevereiro se comparamos com fevereiro de 2020.

A nossa economia se recuperou em “V”, ou em “J”, isso quer dizer que o nível da atividade do comércio (vendas ao varejo), indústria e serviços, segundo dados do IBGE ,estavam operando, em fevereiro de 2021, acima dos níveis pré pandemia (fevereiro de 2020). Mas, como se fosse um replay de filme de terror, no meio de março, com mutações do vírus e falta de cuidado das pessoas com os protocolos sanitários, estamos passando novamente por uma segunda onda global de crescimento de infectados pelo COVID-19, e aqui no Brasil , por um trágico colapso do sistema de saúde. Apesar da gravidade do momento, ao contrário de março de 2020, já temos muito mais conhecimento sobre o vírus e já temos vacinas, drogas e protocolos de tratamento.

E , é aí que reside o meu otimismo com o futuro da humanidade e do Brasil . A capacidade de sairmos dessa segunda onda é maior do que a que tínhamos quando ocorreu a primeira. Já assistimos pelo mundo estratégias vitoriosas de controle da disseminação do vírus e a vacinação pode ganhar velocidade a partir da segunda quinzena de abril, com a disponibilização de mais vacinas produzidas no Brasil e com a compra de outras, já que a oferta por parte dos laboratórios globais tende a aumentar. Em relatório divulgado em 16/04, o Credit Suisse estima que até final de maio todo o grupo prioritário estará imunizado e até final de outubro, toda a população adulta brasileira.

Até dia 22 de abril, o imbróglio do Orçamento de 2021, que foi aprovado, mas que não tem como ser executado, já terá sido resolvido e, acreditamos todos, com foco na responsabilidade fiscal. O processo de privatizações foi aberto com sucesso na INFRAWEEK, que leiloou com ágio 22 aeroportos, um trecho de ferrovia e vários terminais portuários.

A Eletrobrás e os Correios devem ser privatizados e o lucro das estatais em 2019 e 2020 mostram a qualidade na gestão da coisa pública e o combate a corrupção que permeava negócios e contratos envolvendo essas empresas. O marco do saneamento deve trazer mais de US$600 bilhões de dólares de investimentos e temos ainda o novo marco do gás, diminuindo custos de produção e aumentando a competitividade da nossa indústria.

Desde o início de abril, uma nova onda de otimismo tomou conta do mundo com o Fundo Monetário Internacional revisando para cima as projeções do crescimento global e da maioria dos países. O mundo deve crescer 6,00% com EUA e China liderando o movimento com crescimento projetado de 6,4% e 8,4%, respectivamente. Temos tudo para surfar nessa onda desde que os esforços políticos sejam focados na aprovação da pauta econômica e no bem da sociedade brasileira.

Infelizmente, corremos o risco de perder parte dessa janela de prosperidade global se o Congresso brasileiro priorizar a briga do poder pelo poder e focar suas energias na CPI da gestão da COVID e consequentemente nas eleições de 2022. Estão tentando acabar com a Lavajato, Lula, ex-presidiário e condenado em segunda instância, teve todas as suas penas anuladas até que se prove de novo, se quiserem provar, e, já pode ser candidato. O relator da CPI da COVID-19 já foi escolhido e é o senador, autointitulado, “independente”, Renan Calheiros. Como diria o grande economista Pedro Malan: “no Brasil o futuro é duvidoso e o passado é incerto”. 

E, vou me permitir encerrar o meu artigo usando o final do artigo de Stephen Kanitz:

“Vamos, anime-se, e seja mais ativo politicamente.
Esse é o nosso verdadeiro problema.”

Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis

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